Obedecendo ao seu instinto predador e carnívoro, a raposa, animal mamífero, apanha suas presas vivas, pulando sobre elas para matá-las. O resultado é imediato. Muito veloz, num minuto é capaz de devorar um galinheiro inteiro, ou outras aves que estejam ao seu alcance.
Certa vez, um pato, imprudente e inquieto, fugiu dos irmãos que tomavam banho na lagoa e se embrenhou no mato, perseguindo insetos. De repente, deparou-se com uma raposa e ficou paralisado. Muito vermelha, de boca aberta e engasgada, a raposa tossia muito e quase não podia respirar. Mesmo apavorado, por saber que a raposa era devoradora de patos e galinhas, procurou ajudá-la. E perguntou:
– Dona raposa, o que é isso? Um osso de galinha ou de pato?
A raposa olhou para ele, sem poder responder, mas com o olhar de quem pedia socorro.
Vendo a raposa quase morta, o pato subiu num tronco na beira da estrada e procurou salvá-la. Com muito esforço, meteu a patinha lá dentro e retirou o enorme osso de galinha que lhe atravessava a garganta. Se não fosse ele, esse engasgo teria sido fatal.
“Muito grata”, a raposa prometeu, daquele dia em diante, ser sua amiga e protegê-lo contra todos os animais. Disse que ele lhe salvara a vida e isso ela jamais esqueceria. Entretanto, mal se refez do engasgo, esqueceu a bondade do pato e se preparou para devorá-lo. Percebendo o perigo, o pato falou:
– Dona raposa, a senhora está com a garganta ferida. Está sangrando. Deixe eu passar uma peninha molhada na sua boca! Um pouco d’água vai lhe fazer bem.
A raposa concordou e escancarou a boca novamente. Rapidamente, o pato molhou uma pena na água do rio. Voltou para o tronco e, tomando ares de médico, antes que ela percebesse, meteu-lhe de volta na garganta o osso que acabara de tirar.
O pato deixou a raposa engasgada e fugiu correndo à procura dos seus irmãos.
A lei da sobrevivência também existe entre os animais. Entre os humanos, é o “estado de necessidade”.
E foi assim que a ingrata raposa sofreu o seu castigo.