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Certa manhã, um casal de corujas estava tomando sol na entrada de seu ninho. Um carcará conversava com elas, e queixava-se da maledicência das outras aves.
– Dizem por aí que eu sou malvado. Que eu pego, mato e como. Falam que não respeito meus semelhantes, porque como filhotes de outros pássaros. Mas não tenho culpa de ser carnívoro. Até prefiro cobras e lagartos, mas, na falta deles, posso ter que procurar o almoço em algum ninho. Por necessidade.
– Não dê ouvidos a esse povo, compadre carcará! – respondeu a coruja macho, como quem queria animar o colega de rapina. – Eles têm inveja, por causa do seu voo elegante. Veja só: nós também somos carnívoros e sabemos como são essas coisas. Preferimos nos alimentar de ratos, mas, se a necessidade for grande, podemos comer filhotes de outras aves também. A natureza é assim mesmo!
– É bom saber que vocês me entendem. Por causa dessa falação, às vezes fico muito sozinho.
Fez-se um breve silêncio antes de o carcará retomar a conversa:
– Mas, vejo que vocês estão de saída! Por favor, não façam cerimônia por minha causa. Podem ir cuidar de seus afazeres, que eu vou já embora.
Ao ouvir o carcará falar daquela maneira gentil, a coruja fêmea olhou para dentro do seu ninho – que era apenas um buraco no chão – e viu os seus filhotes, ainda quase sem penas, amontoados lá no fundo. Depois, dirigiu seus grandes olhos amarelos para o carcará e falou, o mais cordialmente possível:
– De saída?! Impressão sua, compadre carcará! Já viu coruja sair de dia? Vamos ficar por aqui o dia todo.
– Bem… então… fiquem à vontade – disse o carcará, esticando as asas. – Vou voar um pouco.
E foi embora.