Camapu em fase de crescimento e maturação
“Camapu é uma planta medicinal que serve para tratar doenças neuro-degenerativas, diminuir o colesterol e fortalecer a imunidade. Consumi-la pode ajudar ainda no fortalecimento da imunidade, prevenindo o desenvolvimento de gripes e resfriados. Camapu, fisalis ou juá-de-capote é muito comum aqui no nosso país, em diversas regiões. Na verdade, são duas as espécies: o Camapu (Physalis pubescens) e o Juá de capote (Physalis angulata), com diferentes características que podem ser facilmente cultivadas aqui.
Mas, o interessante é que a ciência está estudando esta planta pois, ela ajuda na recuperação dos neurônios e, portanto, das doenças neuro-degenerativas como o Alzheimer, o Parkinson e diversas outras.” (Transcrito do Wikipédia)
No meu Ceará, é popularmente denominada de “canapum”, e a sabedoria popular afirma que, o canapum também tem uma importante relevância social: serve para mantar a fome, quando consumido em quantidade significativa.
Camapu (ou canapum) maduro
Eis que, vou lhes contar uma história, com letras e tintas fortes de estória, que teria acontecido na Timbaúba, pequeno povoado situado no pé da serra que divide os povoados de Timbaúba, Queimadas e Pacatuba (onde hoje funciona a fábrica de envasamento da cervejaria Heineken, no Ceará).
Pois, lá pelos anos 50, quase todos os dias, e sempre antes que o sol esquentasse, Vovó saía à caça de melão São Caetano, cuja rama usava como sabão para lavar algumas redes, trapos velhos e outras peças de roupa. O fruto maduro daquele melão, ela usava para alimentar os passarinhos criados por Vovô, e ainda os dividia com patos e galinhas criados soltos no quintal. Nós, os netos, escondíamos alguns melões maduros, para usarmos na armação das arapucas para pegar sabiás e corrupiões.
Certo dia sentimos a ausência da Vovó. Tínhamos certeza que ela saíra para fazer a obrigação descrita acima. Mas, a demora começou a nos preocupar. Todos que viviam debaixo do teto da Vovó e do Vovô sabiam que Vovó começara esquecer das coisas. Achávamos que ela estivesse sofrendo de amnésia.
Vovó se danava a procurar o cachimbo por todos os cantos da casa, quando o dito cujo estava guardado num dos bolsos do vestido. Entretanto, ninguém se atrevesse a fazer alguma gozação. Era cabo de vassoura na cabeça e no espinhaço – era assim que ela punia os netos ou quem se atrevesse a “mangar” dela.
Vovó feliz por recuperar a memória
A demora continuava nos preocupando. Resolvemos sair à procura dela pelo mato. Antes de sairmos, resolvemos comunicar ao Vovô o que estava acontecendo.
– Ela deve de ter ido percurar aquela galinha pedrês botadeira de ovo que ela sentiu falta de menhanzinha bem cedim!
Pelo sim ou pelo não, resolvemos sair para procurar a véia. Foi quando Dudu, o irmão mais velho vaticinou:
– Será que ela esqueceu de voltar pra casa, ou tomém esqueceu o camim?
Depois de algum tempo de procura, o cachorro Pintado nos ajudou na caça. Vovó estava com um cesto cheio de canapuns, e continuava à procura de mais. E quanto mais procurava, mais encontrava, e aquilo a prendia no meio da mata.
Quando nos avistou, Vovó foi avisando:
– Meninos, a fome tavo bateno nim mim, quandi comecei a comer uns bixinhos desse. Foi quando me alembrei que a galinha que eu vim procurar está choca dentro daquele urinó de barro, e nim véspera de tirar os pintim. Tomém me alembrei que aqui neste mato tem um lobo solto. Um lobo mau!
– Vó, no Brasil não tem lobo, tentei ajudar.
– Tem sim, ora! Um tal de lobo guaraná!
– Vó, não é lobo guaraná, senhora. É lobo guará!
– Apois entãosse é esse mesmo!
O lobo mau que queria comer a vovozinha
Vovó precisou de ajuda para carregar a quantidade de canapuns que apanhara, que teve o peso aumentado pelo “despotismo” (fala lá dela, Vovó) de rama de melão São Caetano e muitos melões para os passarinhos de Vovô.
Quando chegamos de volta à casa, fomos discutir aquele assunto. Chegamos à conclusão que Vovó havia recobrado a memória, que as mãos não apresentavam aquele tremor em excesso, característico de quem, além de sofrer de amnésia, começa apresentar sintomas do mal de Parkinson.
E arriscamos:
– Vó, a senhora contou quantos canapuns a senhora comeu?
– Meninos, nem me alembro. Sei que comi foi muito, que inté enchi minha barriga!