Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José de Oliveira Ramos - Enxugando Gelo segunda, 24 de julho de 2023

O CAMAPU, O LOBO MAU E A VOVOZINHA (CRÔNICA DE JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

O CAMAPU, O LOBO MAU E A VOVOZINHA

José de Oliveira Ramos

Camapu em fase de crescimento e maturação

 

“Camapu é uma planta medicinal que serve para tratar doenças neuro-degenerativas, diminuir o colesterol e fortalecer a imunidade. Consumi-la pode ajudar ainda no fortalecimento da imunidade, prevenindo o desenvolvimento de gripes e resfriados. Camapu, fisalis ou juá-de-capote é muito comum aqui no nosso país, em diversas regiões. Na verdade, são duas as espécies: o Camapu (Physalis pubescens) e o Juá de capote (Physalis angulata), com diferentes características que podem ser facilmente cultivadas aqui.

Mas, o interessante é que a ciência está estudando esta planta pois, ela ajuda na recuperação dos neurônios e, portanto, das doenças neuro-degenerativas como o Alzheimer, o Parkinson e diversas outras.” (Transcrito do Wikipédia)

No meu Ceará, é popularmente denominada de “canapum”, e a sabedoria popular afirma que, o canapum também tem uma importante relevância social: serve para mantar a fome, quando consumido em quantidade significativa.

 

Camapu (ou canapum) maduro

 

Eis que, vou lhes contar uma história, com letras e tintas fortes de estória, que teria acontecido na Timbaúba, pequeno povoado situado no pé da serra que divide os povoados de Timbaúba, Queimadas e Pacatuba (onde hoje funciona a fábrica de envasamento da cervejaria Heineken, no Ceará).
Pois, lá pelos anos 50, quase todos os dias, e sempre antes que o sol esquentasse, Vovó saía à caça de melão São Caetano, cuja rama usava como sabão para lavar algumas redes, trapos velhos e outras peças de roupa. O fruto maduro daquele melão, ela usava para alimentar os passarinhos criados por Vovô, e ainda os dividia com patos e galinhas criados soltos no quintal. Nós, os netos, escondíamos alguns melões maduros, para usarmos na armação das arapucas para pegar sabiás e corrupiões.

Certo dia sentimos a ausência da Vovó. Tínhamos certeza que ela saíra para fazer a obrigação descrita acima. Mas, a demora começou a nos preocupar. Todos que viviam debaixo do teto da Vovó e do Vovô sabiam que Vovó começara esquecer das coisas. Achávamos que ela estivesse sofrendo de amnésia.

Vovó se danava a procurar o cachimbo por todos os cantos da casa, quando o dito cujo estava guardado num dos bolsos do vestido. Entretanto, ninguém se atrevesse a fazer alguma gozação. Era cabo de vassoura na cabeça e no espinhaço – era assim que ela punia os netos ou quem se atrevesse a “mangar” dela.

 

Vovó feliz por recuperar a memória

 

A demora continuava nos preocupando. Resolvemos sair à procura dela pelo mato. Antes de sairmos, resolvemos comunicar ao Vovô o que estava acontecendo.

– Ela deve de ter ido percurar aquela galinha pedrês botadeira de ovo que ela sentiu falta de menhanzinha bem cedim!

Pelo sim ou pelo não, resolvemos sair para procurar a véia. Foi quando Dudu, o irmão mais velho vaticinou:

– Será que ela esqueceu de voltar pra casa, ou tomém esqueceu o camim?

Depois de algum tempo de procura, o cachorro Pintado nos ajudou na caça. Vovó estava com um cesto cheio de canapuns, e continuava à procura de mais. E quanto mais procurava, mais encontrava, e aquilo a prendia no meio da mata.

Quando nos avistou, Vovó foi avisando:

– Meninos, a fome tavo bateno nim mim, quandi comecei a comer uns bixinhos desse. Foi quando me alembrei que a galinha que eu vim procurar está choca dentro daquele urinó de barro, e nim véspera de tirar os pintim. Tomém me alembrei que aqui neste mato tem um lobo solto. Um lobo mau!

– Vó, no Brasil não tem lobo, tentei ajudar.

– Tem sim, ora! Um tal de lobo guaraná!

– Vó, não é lobo guaraná, senhora. É lobo guará!

– Apois entãosse é esse mesmo!

 

O lobo mau que queria comer a vovozinha

 

Vovó precisou de ajuda para carregar a quantidade de canapuns que apanhara, que teve o peso aumentado pelo “despotismo” (fala lá dela, Vovó) de rama de melão São Caetano e muitos melões para os passarinhos de Vovô.

Quando chegamos de volta à casa, fomos discutir aquele assunto. Chegamos à conclusão que Vovó havia recobrado a memória, que as mãos não apresentavam aquele tremor em excesso, característico de quem, além de sofrer de amnésia, começa apresentar sintomas do mal de Parkinson.

E arriscamos:

– Vó, a senhora contou quantos canapuns a senhora comeu?

– Meninos, nem me alembro. Sei que comi foi muito, que inté enchi minha barriga!


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