Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlito Lima - Histórias do Velho Capita domingo, 14 de junho de 2020

O CACHORRO QUE CHORAVA

 

O CACHORRO QUE CHORAVA

Alagoas é um celeiro de bons jornalistas. A imprensa honesta, batalhadora e competente faz parte de nossa história. Tenho Ricardo Rodrigues como um dos melhores jornalistas atuantes e mais éticos. Foi ele que me relembrou o caso do cachorro que chorava. Um fenômeno que abalou, assanhou a cidade e o Brasil nos idos dos anos 70.

Ao completar 10 anos, Ricardo ganhou um lindo cachorro de se pai, Arlindo. Não pertencia a alguma raça específica, ou seja, era um legítimo vira-lata. Colocaram o nome de Johnson, em homenagem ao presidente dos USA. O cachorro ficou bonito danado, cresceu com muito apego ao dono.

Certa vez, durante a madrugada, arrombaram a porta e roubaram algumas bebidas e comidas no Bar de Seu Arlindo que se tornou ponto de encontro da boemia em Jaraguá. Ele resolveu levar o cachorro para dormir no bar, Ricardo esperneou, não queria deixar o cachorro. Johnson tornou-se patrimônio, cria e mascote do Bar do Arlindo. Os fregueses tinham maior carinho pelo cão-vigia.

O bar era frequentado por artistas e boêmios de Maceió. Seu Arlindo colocava música na possante vitrola Phillips, e a moçada curtia Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Elizeth Cardoso e outros grandes cantores da época enquanto dava um trato na cerveja e na branquinha.

Certa noite, Seu Arlindo notou Johnson chorar, o cachorro uivava quando tocava uma música específica; não eram todas. Finalmente descobriu: Johnson chorava apenas quando tocava a música de Altemar Dutra: “Vida Minha”.

Johnson tornou-se atração do bairro boêmio de Jaraguá. Quando aparecia um desavisado, os assíduos frequentadores apostavam como o cachorro chorava ao ouvir música. Alguns desatentos pagaram garrafas, caixas de cervejas para os malandros.

O fato se espalhou por toda cidade de Maceió. Entrou pelo Poço, Mangabeiras, Ponta da Terra, Pajuçara, até no Tabuleiro. Todos queriam conhecer o cachorro que chorava. O Bar do Arlindo de repente se encheu. Gente do povo, deputado, senador, coronel, capitão, ficavam pasmados com o choro de Johnson.

Sociólogos, filósofos, professores da UFAL tentaram explicar o fenômeno. Muitas páginas foram escritas em tese de mestrado sobre o cachorro que chorava. Teorias fizeram trabalhar os tipos das máquinas de datilografias da época.

Certa noite apareceu o jornalista Bernardino Souto Maior. Ao ouvir o uivo do cachorro ao som da música do Altemar Dutra, foi taxativo com Arlindo:

-“Vou levar você e o cachorro para o Programa Flávio Cavalcante.”

Naquela época, na TV Tupi de São Paulo, o Programa Flávio Cavalcante, tinha a maior audiência no Brasil. Havia um quadro chamado “Fora de Série”, onde Flávio apresentava histórias interessantes, fenômenos e outras gaiatices. Não deu uma semana, Bernardino entrou no Bar do Arlindo:

– “Prepare uma jaula para o cachorro. Aqui estão nossas passagens para São Paulo. Vamos viajar amanhã e entrar no ar ao vivo no domingo.”

Numa fria madrugada de sexta-feira no Aeroporto Campo dos Palmares, entraram no avião: Arlindo, Bernardino e o já famoso Johnson.

Na hora do programa todos estavam nervosos, era ao vivo. Se o cachorro falhasse, seria um vexame televisionado para todo o Brasil. Até que chegou o momento. Flávio Cavalcante com sua empáfia de apresentador estrelado iniciou:

-“E agora meus amigos de todo o Brasil. Vou apresentar Johnson, o cachorro que veio das Alagoas. Um sentimental cachorro que chora quando ouve Altemar Dutra.”

Entraram no palco da TV: Bernardino e Seu Arlindo com Johnson. Depois de algumas perguntas, e fazer o suspense, se o cachorro ia chorar ou não, finalmente Flávio manda rodar a música. Maior expectativa. Quando se ouviu: “Eu acordei chorando…e tu não acreditaste…vida minha…..”, o nosso querido Johnson irrompeu em uivos. Chorou com lágrimas caindo como se fosse um personagem de novela mexicana.

A plateia e todos os expectadores ligados na TV deliraram. Maior sucesso, muitos aplausos. Johnson era a nova sensação do Brasil. Por conta disso, no outro dia, Johnson foi convidado para gravar no programa da Cidinha Campos.

Quando os três retornaram à Maceió, no aeroporto havia jornalistas, rádios pedindo entrevistas. Seu Arlindo continuou com sua birosca sob a vigilância do famosíssimo Johnson.

Na quinta-feira daquela semana, uma multidão foi assistir na televisão do Bar do Arlindo o Programa Cidinha Livre, tinha sido gravado. Durante a apresentação, quando iniciou a música “Vida Minha”, Johnson irrompeu no choro duplamente, ao vivo e na televisão.

Muitos quiseram comprar nosso herói canino. Veio proposta do Recife, da Bahia, do Rio de Janeiro. Um milionário de New York mandou uma oferta fabulosa. Mas Seu Arlindo preferiu conservar Johnson junto a ele, fazendo guarda em seu bar e brincando com o filho Ricardo.

Nunca mais um alagoano foi tão aplaudido em rede de televisão nacional. Difícil um sucesso como o do inesquecível Johnson, o cachorro que chorava.


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros