Cabaré da Zefa com publicidade explítica
Acertei o corte da máquina de aparar grama. Vou cortar baixo e, já nesse primeiro parágrafo peço desculpas para aqueles que não usam esse tipo de palavreado chulo – são os que costumam cagar em pé.
Nos idos anos 50, 60 e até meados dos anos 70, quase a totalidade da moçada que namorava não exercia a cultura atual de “pegar a namorada”. Quem “pegava” tinha consciência que estava fazendo algo fora do hoje “politicamente correto” – uma das muitas coisas que acabaram emprenhando nessa geração – e sabia que precisava assumir. Isso é: casar para sustentar o bruguelo.
Mas, quem só ficava nos amassos e se conformava em voltar para casa com a cueca melada e o saco dolorido, precisava recorrer à duas soluções: 1 – descascar uma banana chamada Maria; 2 – ou arrumar uns trocados para bancar a troca de óleo. Foi a geração que mais teve punheteiros nesse Brasil e a que ajudou disseminar a prostituição, transformando as xanas em “produto de consumo” e não “ponte para o amor”.
Não faz muito tempo, puta é alguém de respeito. Muitas putas saíram do puteiro para constituir família. Hoje, em segredo, famílias probas e respeitáveis.
Mulheres aguardando clientes no Cabaré da Zefa
Na Bela Vista, um bairro de Fortaleza habitado por famílias da classe média, existia uma travessa e, nessa travessa, uma única casa pintada com um verde musgo, com muro alto e um portão sempre trancado. Ali morava a respeitável senhora Dona Josefa, viúva que resolveu reconstruir a vida após a morte do marido.
Com a chegada da escuridão e das mariposas, aquele lugar soturno se transformava no “Cabaré da Zefa”, o mais depravado puteiro que existia na periferia.
Quem ali chegasse e não fosse desconhecido, sabia as regras rígidas da casa. E sabia olhar, de imediato, para uma recomendação escrita na parede e iluminada por duas boas lamparinas:
“As putas estão aqui, todas à disposição, e não fazem nada de graça. Não procure quem você deixou em casa.” – Assina, Zefa.
Aviso mais claro que esse, ninguém vai encontrar nem nas prateleiras das bodegas (“Fiado, só amanhã”). Frequentador do ambiente sabia que, ali, tudo era pago e tinha um preço.
Tabela oficial: “Mulher nova, coxuda, com peito grande e duro” – 20 mil réis, com pagamento adiantado. A senha que afirmava que o pagamento fora feito, era um rolo de papel higiênico cor de rosa quase morrendo e um sabonete Eucalol.
Quem pagava mais alto recebia um rolo de papel higiênico branco e um sabonete Phebo. A mulher se dirigia ao “Caixa”, recebia e conduzia o “cliente”. E aproveitava para marcar a hora. Uma hora!
Radiola toca discos – acionada por moedas
E a tabela ainda continha: “mulher magra, com pouco peito, pouca bunda, mas que finge desespero na hora do orgasmo aos gritos de “mais, mais, quero mais” – 15 mil réis; mulher “fria”, gorda, que fica lixando as unhas na hora do sexo – 10 mil réis.
“Empresária” das mais bem sucedidas na venda das xanas das outras, Zefa “só pegava homem” depois de encerrar o caixa do dia, pois não dava trela para ser enganada por ninguém. Nem pelas “operárias”, nem pelos “consumidores”.
Passava o tempo aproveitando para escutar as músicas bregas de Orlando Dias, Núbia Lafayete, Cláudia Barroso, Cauby Peixoto, Miltinho, Evaldo Braga e a turma que, sem saber, fazia a alegria de qualquer cabaré brasileiro. Cada ficha para acionar o bracinho que pegava o disco e levava para tocar, custava 1 mil réis. Quem comprasse 3 cervejas, ganhava uma ficha para acionar o disco.