Quem é avô sabe que somos capazes de tudo fazer para realizar os desejos de nossos netos.
Chiquinho, meu primeiro neto e sua irmã, Patrícia, estavam passando férias com a gente, visto que moravam com seus pais, em Fortaleza.
Era uma “babação” completa, porque sua irmãzinha, Patrícia, de cinco anos, fazia questão de participar de jogos de mesa improvisados, que eu ia criando para mantê-los sempre aprendendo coisas.
Sentados na mesa da sala, cada um tinha uma folha de papel milimetrado e um lápis, para controle de pontos. Imaginei que as perguntas versassem sobre letras iniciais de nomes de pessoas, de frutas ou de coisas diversas; e à medida que eles iam respondendo contávamos os pontos.
– Um nome de pessoa que comece com a letra “M”, eu “cantava”, pois era o Coordenador do jogo.
E eles iam respondendo até esgotarem os estoques da memória. Era muito engraçado. Assim a noite rolava até chegarem os sonos; e eles iam desenvolvendo rapidez de raciocínio.
Certa noite surgiu a palavra “bode” e Chiquinho parou suas respostas para me dizer que gostaria de ter um bode em nossa casa, porque em Fortaleza, embora residindo na Praia do Futuro, era um apartamento.
Como morávamos numa casa grande, onde havia espaços livres nos quatro lados, e de bichos só tínhamos o cachorrinho Dick e um jabuti batizado de Gedeão, caberia um bode, sem problemas. Minha filha, a mãe dos pimpolhos, bradou:
– Um bode aqui? Vai ser um desmantelo, papai!…
E eu logo “fuzilei”:
– E você vai ser a avó do bode!
No dia seguinte, um sábado, fomos à feira de Afogados e compramos um lindo bode branco, aproveitando para levar uma “cesta básica” para o bicho se alimentar, além de uma corda e a coleira. Meti o bicho na Vemaguete e Chiquinho ficou no banco de trás para ir acariciando o bicho. Satisfeito que só pinto em beira de cerca.
A chegada foi uma festa e sérias críticas à minha doidice. Imaginem criar um bode dentro de uma casa residencial!… O animalzinho estava sempre saltitante. Era lindo. Uma alegria que não tinha trégua.
Jeanine, “a avó do bode”
Indisciplinado, logo que se livrava dos carinhos de Patrícia e de Chiquinho, entrava pelo terraço, passava pelo corredor, pela cozinha e ficava rodando pelo quintal e oitões.
Suportei as críticas pela “loucura” da compra, porque minha filha, Jeanine – considerada pelas crianças “a vovó do bode” – já imaginava quando tivessem que voltar para Fortaleza, a falta que o bicho iria fazer aos seus filhos.
Mas, como se diz: “O tempo resolve quase todos os problemas”. E resolveu de maneira fora dos padrões. À noite, as duas crianças desejaram dormir com o bode. Foi a primeira confusão. Aí deu o primeiro “bode”.
Conseguimos convence-los a fazer uma cama para o quadrúpede e mantê-lo no terraço. As crianças foram dormir inconformadas porque desejavam dormir com o bode, no quarto.
Fiquei como “Fiscal do Bode” até sentir que ele adormecera. Ocorre que depois de certa hora, lá pelas profundas da madrugada, o animalzinho começou a dar sinais de que não desejava ficar sozinho e começou a berrar.
A cantilena foi a noite toda e o berreiro motivou os patos do vizinho que fizeram o coro com Dick, que também latia. Ninguém dormiu direito. Só as crianças.
Ao amanhecer do domingo foi fácil a mãe deles convencê-los a devolver o bode, alegando que ele estava sentindo a falta da mãezinha, que ficara lá na feira. Logo concordaram.
Fui sozinho e negociei com 50% de abatimento. Nunca me esqueci do bode de Chiquinho, que já me presenteou com duas bisnetas: Geovana e Luana e Patrícia, que vive no Texas. com seu marido e meus bisnetos Isabela Telga e Set.
E, como se diz em vaquejada, quando se trata de marcar pontos de vitória: “Valeu Bode!”.