Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José de Oliveira Ramos - Enxugando Gelo sábado, 22 de fevereiro de 2025

O BICO DO PÃO (CRÔNICA DO COLUNISTA JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS)

O BICO DO PÃO

José de Oliveira Ramos

 

Publicado em 

 

A infância de qualquer um de nós, seja homem ou mulher, mas que, se não foi embora para Pasárgada, um dia foi menino ou menina. Não havia a idiotice usual dos dias de hoje, de menino ou menina “trans”. Tenha alguém hoje 50, 60, 80 ou mais de 100 anos, com certeza a melhor fase da vida foi entre os 3 e 12 anos.

Eu costumo chamar de a “fase do absolutismo”, que sempre tivemos razão em tudo, ou, no mínimo, nossos pais nos davam. Se os pais não dessem, os avós davam.

E, por que, “fase do absolutismo”?

Porque tudo ou quase tudo é relevado. Perdoado. Entendido e carregado da frase: “coisas de criança”.

É, ou era habitual – pelo menos no Nordeste, ou, particularmente em Fortaleza, o “café da tarde”. Sempre entre as 15 ou 16 horas.

O menino sempre era o encarregado de ir até a bodega comprar o pão. Pão quentinho, que nunca estava quente. Pão d´água (como chamamos no Ceará), que é o mesmo pão francês, que é conhecido no Maranhão como “pão massa grossa”. Se o pão d´água ainda não tivesse chegado na bodega, ou tivesse chegado e tivesse sido todo vendido, podia comprar o “pão sovado” que, no Maranhão é chamado de “pão massa fina”!

Pão d´água ou pão francês ou pão massa grossa

 

Acompanhava a compra do pão para o café da tarde, “mil réis de manteiga”, de qualquer marca, que o bodegueiro tirava de uma lata grande com uma espátula de madeira, e colocava num pedaço de papel de embrulho – aquilo evitava que o menino demorasse no percurso entre a bodega e a casa. Caso contrário, a manteiga derretia e o puxão de orelha era garantido. E, quem levava o puxão na orelha, nunca ficou “deprimido”, como ficam os “afrescalhados” de hoje.

Pão sovado ou massa fina

 

Mas, o aparentemente inexplicável sempre acontecia. E acontecia durante o percurso entre a bodega e a casa do menino: o bico do pão era subtraído e comido. Por que o “bico”?

Além da garantia do sermão e do puxão na orelha, a ameaça da mãe, que iria até a bodega reclamar que o bodegueiro estava vendendo pão sem bico. A gente tremia de medo e acabava assumindo que comera o bico. Repito a pergunta: por que o bico?

A lata grande de onde o bodegueiro retirava a manteiga

 

Minha mãe, sem graduação universitária ou doutorado, dava “quinau” em muitos gênios, principalmente nas atividades domésticas. Além de ser, também, excelente bordadeira, profissão que “empreendia” para aumentar a renda e garantir as despesas da casa.

Pois, na hora de cortar o pão para servir aos filhos, ela nunca cortava na vertical. O corte era feito “atravessado”, de forma que parecesse maior cada pedaço – e, só então, ela mesma passava a manteiga, para garantir que a porção comprada atenderia a todos.

E era aí que aconteciam as reclamações:

– Por que, o pedaço dele é maior que o meu? Perguntava um filho.

– Por que eu quero! Respondia a mãe.

– Pois no pedaço dele, a senhora passou mais manteiga que no meu! Continuava reclamando o mesmo filho que fora comprar o pão na bodega.

Toda tarde eram comprados três pães grandes, hoje chamados de bisnaga. Um pão seria comido no café da tarde e os dois eram servidos no jantar, acompanhando a sopa, invariavelmente de feijão.

Vida de pobre, caminho para jamais subtrair algo de alguém ou virar petista.

A deliciosa bolachinha “Roma”

 

Quando a casa recebia alguma visita, o café da tarde, além do pão d´água e da manteiga “real”, tinha o acréscimo da sensacional bolachinha “Roma”, uma maravilha nordestina que as atuais gerações não tiveram o prazer de conhecer.


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