O balé do Louva-Deus
As estradas da vida já nos mostraram tantas coisas, mas tantas coisas que, uma única culminância não serviria de somatório.
Vimos, outrora, o poético sopro do vento desenhando ondas imaginárias nas águas paradas do açude; vimos o nascimento da rosa que há segundos, minutos, horas e dias era um botão; e, parafraseando o sertanejo, vimos até o casamento da raposa quando chovia e fazia sol ao mesmo tempo.
Vimos, a vida humana desabrochando em ser, transformando uma vagina num buquê de rosas que sangrava e mostrava ao mesmo tempo, o quão bela e ao mesmo tempo perfeita a Natureza divina. Vimos, também, a morte num adeus solene de quem parte – e tendo consciência disso! – acenando com as mãos como a dizer: nos encontraremos brevemente!
Vimos o semear do milho e do feijão – e isso dá um sabor diferente na hora da mastigação. É, com certeza, o ciclo da vida e de tudo.
Pois, certa noite, mal chegada, tivemos a feliz premiação de ver, também, uma fina neblina tangida pelo fraco vento que, pela nossa posição, transformava um grosso galho de acácia num palco natural da vida.
Um desenho que não foi feito por nós: ao fundo, a lua de agosto, redonda e límpida, nos trazia a silhueta de um provável casal de Louva-Deus em cópula, garantindo a preservação da espécie.
Mas, aos olhos curiosos e profanos do amor em transe, e na retina da nossa experiência, o que vimos (ou o que queríamos ver mesmo) foi um verdadeiro balé transformado num autêntico, perfeito, PAS DE DEUX.