Era só uma quarta-feira, igual a tantas outras quartas-feiras já vividas. Estava eu a soletrar sílabas, embalar palavras e transformá-las em versos, quando abri o escuro e meus olhos enxergaram um azul mais azul que aquele que o Poeta Carlos Pena Filho tanto gostava. Acho que até meus sapatos, se estivessem em mim calçados, estariam azuis. Meus cabelos, revoltos e também azuis, voavam ao sabor dos ventos anunciadores da chuva que estava por vir. A lua, escondida entre nuvens, teimava em clarear de quando em quando, anunciando que naquele dia ela estava preguiçosa e sem vontade, meio azulada, até. Estava ali apenas por obrigação de ofício. O relógio bateu meia-noite e naquele instante respirei o cheiro de uma quarta-feira de passado recente. Além disso, percebi restar um derradeiro cheirinho de chuva pendurado na telha, caindo num ritmo lento e compassado, tal qual uma valsa triste de um final de noite, molhando a pata-de-elefante adormecida no jardim azul de minha casa. Mas aí já era quinta-feira.