O senador José Serra (PSDB-SP) foi um dos personagens políticos centrais do pais nos meses que antecederam o golpe militar de 1964. Então no comando da União Nacional dos Estudantes (UNE), Serra era um apoiador ferrenho do presidente João Goulart e um imitador do estilo confrontador de Leonel Brizola, o deputado e cunhado de Jango que definia o fechamento do Congresso para instaurar uma república sindicalista.
Serra era considerado tão radical que o próprio Jango pediu que limitassem sua fala no grande comício e apoio às reformas de base realizado na Central do Brasil, no Rio Janeiro. Não adiantou. Serra incendiou (verbalmente) o palanque. Quando o golpe veio, dezoito dias depois, ele soube pelo rádio que o prédio da UNE na Praia do Flamengo, fora (literalmente) incendiado por paramilitares.
Na semana passada, Serra relembrou aqueles dias em entrevista para o filme Praia do Flamengo 132, sobre a sede da entidade. Na ocasião, posou ao lado da atual presidente da UNE, Carina Vitral (filiada ao PCdoB), e postou a foto no Facebook. Seguiu-se uma enxurrada de comentários raivosos, muitos chamando-o de “traidor” por posar com uma defensora de Lula e Dilma Rousseff. Carina também sofreu ataques virtuais, só que feitos por quem considerou um horror vê-la abraçada com um “golpista” que derrubou Dilma.
A foto, ao contrário das estridências extremistas, é um abraço da tolerância. “Naquele set de filmagem, o respeito prevaleceu”, relatou Vandré Fernandes, diretor do documentário.