PETRÓPOLIS - Dá para acordar e escolher o ovo do café da manhã ainda no galinheiro, visitar a horta orgânica de onde saem temperos que vão ao prato no almoço ou ter um jantar saudável num prédio colonial do século XIX. Estas são algumas das experiências que aguçam o paladar numa visita à Região Serrana do Rio, num roteiro que passa por Petrópolis e seus distritos de Itaipava, Araras e Vale do Cuiabá.
Subir a serra é um dos programas favoritos dos cariocas desde a época de Dom Pedro I. Mas agora, com o dólar nas alturas, a região tem visto o movimento crescer ainda mais. No feriado de Sete de Setembro, a ocupação hoteleira chegou a 94,6%, segundo a ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis-Rio de Janeiro). A Secretaria de Turismo de Petrópolis (Turispetro) também tem números a comemorar: nos últimos cinco anos, houve aumento de 16,8% no total de empreendimentos hoteleiros, de 101 em 2013 para 118 em julho passado.
A gastronomia é um dos carros-chefes na hora de atrair turistas, especialmente nesta época de baixa temporada, de setembro a abril. E, em muitos lugares, tem ganhado cada vez mais força a pegada orgânica, ecológica e sustentável. O chef Barão, do restaurante que leva seu nome, em Itaipava, é um dos profissionais que recorrem apenas a fornecedores locais.
— Parte da experiência gastronômica é se sentir dentro da cultura. Faço muita questão de usar produtos daqui, orgânicos, para não garantir apenas a qualidade e o frescor, mas para contribuir com a economia da região e dos pequenos produtores — diz. — Muitos pratos são elaborados pensando no que está sendo colhido na época.
Para começar, Petrópolis
Alguns dos restaurantes mais conceituados de Petrópolis ficam em hotéis e pousadas, como Tankamana, no Vale do Cuiabá, e Imperatriz Leopoldina, no Solar do Império, no centro da cidade. Ambos com cardápio assinado pelo chef belga Bertrand Materne.
O Solar oferece uma experiência das mais típicas. O casarão do século XIX que abriga o hotel e o restaurante é uma das muitas construções clássicas da Avenida Koeler. Por ali, também ficam o Palácio Rio Negro, a Catedral São Pedro de Alcântara, o Museu Casa de Santos Dumont e o Relógio das Flores. Ou seja, é ideal para quem não conhece ou deseja revisitar pontos turísticos da cidade.
O Imperatriz existe há 13 anos, mas é comandado por Bertrand há cinco. Das novidades do cardápio, o prato de frutos do mar à provençal, com arroz negro, palmito pupunha e tomate, é uma das apostas do chef para esta época. De entrada, o ovo poché com shiitake e a salada de queijo de cabra são boas pedidas para uma comida mais “serrana”. Também não vale sair sem provar o chá da tarde, de pâtisserie própria.
Além do uso de ingredientes orgânicos, outro fator que tem impulsionado o turismo gastronômico em Petrópolis é a cultura cervejeira. A história da cidade justifica a fama. Nela, foi instalada a primeira cervejaria do país, a Bohemia, em 1853. O prédio onde já funcionou a fábrica, que hoje é um museu interativo sobre a história da bebida, com direito a um restaurante, também fica coladinho a alguns pontos turísticos famosos, como o Palácio de Cristal.
Da Bohemia até hoje, surfando na onda das cervejarias artesanais, a cidade abriga 21 marcas locais.
A novidade no segmento é o bar da cervejaria Brewpoint, que abriu há menos de um ano. Além das cinco torneiras de chope com representantes da marca (destaque para a lager e a IPA), estão lá outras cinco, com grifes convidadas (Duzé, Da Corte, Imperatriz, Rústika Serra Velha e Saideira). O cardápio, do chef Daniel Lameirão, é pensado, claro, nas harmonizações com a prata da casa. O joelho de porco é o ponto alto das opções e tem bom custo benefício (R$ 39, para uma pessoa). De petisco, o torresmo (R$ 19), cozido na banha do próprio porco, vai bem com a pilsener. E, assim como a maior parte das atrações gourmet petropolitanas, a cervejaria fica em ponto privilegiado, ao lado do Palácio Quitandinha.
Toque artesanal
A truta, peixe mais famoso das montanhas fluminenses, não pode faltar. Há cerca de um mês, a chef petropolitana Gabriela Azeredo abriu seu Zelo Bistrô, no bairro do Valparaíso, com truta como carro-chefe. A casinha colonial com janelas azuis é um charme. Por isso mesmo, a recomendação, se o clima assim permitir, é degustar os pratos nas mesinhas de madeira, do lado de fora.
Experimente o caldo de truta defumada como entrada (R$ 19). Depois, siga para o peixe ao molho de vinho tinto acompanhado de risoto de limão siciliano (R$ 54). Há também pastel e croquete de truta, para petiscar. O peixe, conta a chef, é defumado de forma artesanal, por ela mesma.
O Zelo é o mais novo restaurante do Valparaíso, pedacinho de Petrópolis que tem se mostrado uma área gastronômica cada vez mais forte e criativa. Outros nove estabelecimentos estão por ali.
Itaipava é o distrito mais famoso de Petrópolis. Vez ou outra, é confundida como cidade independente. Gastronomicamente, pelo menos, tem lá seus bons motivos para isso. A diversidade de restaurantes e chefs da região é consagrada. Grande parte está localizada na Estrada União e Indústria, a principal da região, e que, respeitando a tradição petropolitana, é também histórica. Foi inaugurada em 1861 por Dom Pedro II, sendo uma das mais antigas do estado do Rio.
Estão lá os tradicionais Parrô do Valentim, Farfarello e bistrô Châteaux des Montagnes, entre outros. O restaurante Barão Gastronomia, do chef que batiza o local, virou referência pela cozinha original para a região, com ingredientes “exóticos” como carne de jacaré e javali. A decoração é divertida. Nos banheiros, pedaços de casca de ovo de avestruz, que ele chegou a criar para servir em seus pratos, adornam a parede.
O cardápio funciona no estilo menu degustação (seis pratos e uma taça de vinho por R$ 198, por pessoa), mediante reservas. A partir do dia 20, os pratos servidos incluem o de cabrito com chips de aipo e abobrinha, e pato com cogumelos gratinados. De entrada, o foie gras com beterraba e açafrão é destaque. Tudo, incluindo os derivados de animais servidos, são orgânicos e quase todos de produção local.
Quem também está com cardápio novo para a temporada primavera-verão é o restaurante da Pousada Locanda della Mimosa, que era comandada pelo chef Danio Braga (ele deixou a casa em junho). Quem está à frente da cozinha é o chef Jorge dos Santos. Para o menu desta temporada, que estreia em outubro, ele oferece pratos como a salada fria de quinoa preta com camarões (R$ 76) e a lasanha aberta de frutos do mar (R$ 98). O chá da tarde, com pães e bolos artesanais, também voltou ao menu.
Em outras áreas da Região Serrana, como no Vale do Cuiabá e em Araras, o ideal é se hospedar em pousadas e hotéis que oferecem contato com a natureza preservada da região e dispõem de boas opções gastronômicas. As distâncias entre as atrações e as estradas nem sempre urbanizadas são outros bons motivos para fincar pouso nesses lugares por alguns dias. Mais: eles também têm investido em novidades para esta temporada. Dois exemplos são a Pousada Tankamana, no Vale do Cuiabá, e a La Belle Bruna, em Araras.
No caso da Tankamana, o restaurante tem cardápio assinado pelo chef Bertrand Materne, o mesmo do Solar do Império. Mas o foco das duas casas é bem diferente. Entre os pratos que entraram no cardápio da Tankamana, os que combinam com o friozinho têm destaque, como o risoto de cogumelos trufados (R$ 59), a panelinha de escargot à la creme (R$ 45) e o mignon ao molho shimeji com aspargos e purê de batata-baroa (R$ 78).
De entrada, a salada com flores, Parma, tomate fresco e queijo de cabra é a melhor pedida (R$ 38). O frescor dos alimentos se justifica. Na propriedade, são cultivados folhas, temperos e outros ingredientes que vão para o prato. Duvida? Dá para visitar a horta orgânica a qualquer momento. Aliás, vale a caminhada por toda a propriedade, que tem trilhas próprias.
Aos hóspedes, a dica é: não perca o café da manhã, também de pâtisserie própria, servido nos chalés, se assim for preferência, além do mergulho na piscina, de água aquecida, com vista para as montanhas.
A pousada La Belle Bruna, em Araras, é uma das que têm melhores condições de acesso, com caminho todo urbanizado. A propriedade fica na Estrada das Perobas, colada à montanha e com vista para a tradicional paisagem dos “mares de morros”.
A sensação é de estar num sítio. No galinheiro, estão os ovos que vão para o omelete do café, e há uma nascente de água que circula toda a propriedade. No restaurante, os pratos obedecem a lógica da casa de avó, todos no estilo comfort food. Hamburguinho de salmão com alho-poró (R$ 39,90) e frango recheado com queijo Gruyère (R$ 52) são alguns dos que fazem carinho no estômago — e são as mais recentes adições ao cardápio. O chefe Tiago Amaral gosta mesmo é da parte de pâtisserie e cada hóspede sai de lá com um bolinho caseiro de goiabada, ou laranja, para casa.