Praça Napoleão Goulart, usurpada pelo Clube Fênix
“Ôi Maceió…É três mulé prum homem só”. Em matéria de mulher e de beleza natural nossa cidade está bem servida. Mas em área verde, em praças, em parques e jardins os números são ridículos. Maceió possui cerca de 5,00 m² de área verde por habitante. A Organização Mundial de Saúde recomenda o mínimo de 12,00 m2 por habitante para uma cidade ser habitável. João Pessoa nos humilha com seus mais de 60 m² por habitante e Curitiba com 50 metros quadrados de área verde por habitante é a campeã do sul do país.
Em Maceió quando chega o verão, o calor nos asfixia. Em alguns bairros o ar fica quase irrespirável. Se não fosse a santa brisa marítima e o vento Nordeste nossa cidade seria um inferno de quentura.
A árvore nos dá vida, fornece a oxigenação vital para o corpo humano. Uma árvore respira o gás carbônico da atmosfera e expele, exala oxigênio puro. Esse é o maravilhoso fenômeno da fotossíntese. Enquanto nós humanos, fazemos o inverso: respiramos o oxigênio da atmosfera e expelimos o nocivo gás carbônico de nosso corpo.
A natureza é sábia: para melhoria de qualidade de vida precisamos do verde, precisamos das árvores, que ainda nos dá sombra, flores, frutos e sonhos. É necessário, com urgência, de uma campanha de arborização nas calçadas, nas praças e em qualquer biboca.
O problema ambiental deixou de pertencer a incansável meia dúzia de batalhadores ambientalistas. É dever da sociedade organizada fiscalizar e denunciar os absurdos que são cometidos contra nosso meio ambiente.
Em nossa cidade existe uma inusitada, kafkaniana “Associação dos Moradores de Invasão da Área Verde do Conjunto Benedito Bentes”. É tradição cultural o Prefeito com a cumplicidade da Câmara de Vereadores “doar” terrenos públicos às Associações e entidades públicas e privadas.
São inúmeros os casos absurdos de doação de áreas verdes em Maceió; um crime urbano e ambiental contra o povo, o real dono da praça, como o céu é do avião, como diria o poeta. Não podendo prolongar, citarei apenas quatro casos que me afetaram diretamente durante minha vida nessa bendita cidade.
Em 1934 quando foi construída a nova sede do Clube Fênix Alagoana, deixaram ao lado uma área verde, a Praça Napoleão Goulart, onde eu brincava quando criança e como jovem quando saía das festas do clube. Há alguns anos, sorrateiramente essa praça foi doada ao Clube Fênix Alagoana que se apoderou ligeirinho, murando aquela praça bucólica pertencente ao povo de Maceió para aumentar a área de lazer da piscina do clube mais rico do Estado.
Outro crime inominável aconteceu com a Praça 13 de Maio, onde minha geração cresceu, brincou, se divertiu embaixo de árvores frondosas. No final do ano havia pastoril, reisado, festas de ruas. Minha despedida de solteiro foi no Bar do Miltinho naquela aprazível praça, maior área de lazer do bairro do Poço. Fatiaram a Praça 13 de maio, a CASAL (Companhia de Água e Saneamento) e o SESC apoderaram-se da bela área verde, restando apenas uma rua que separa as duas entidades governamentais ricas que poderiam ter comprado um terreno para construir seus prédios. Um crime ambiental inafiançável. O Sesc e a Casal devem um monte de dinheiro aos cofres públicos, mas, eu preferia que demolissem os prédios e retornassem minha querida Praça 13 de Maio.
Na Avenida João Davino foi aberto um extenso loteamento dentro dos padrões. A enorme área verde foi doada para construção do Clube dos Sargentos e um edifício de apartamentos.
No centro da cidade, quando menino depois da missa na Igreja do Livramento, brincávamos toda manhã na gloriosa Praça Rosa da Fonseca que mais tarde foi engolida pelo famoso Bar do Chope.
Existem dezenas desses tipos nefastos de doação política, pela troca de votos, em detrimento ao patrimônio da cidade e do cidadão.
Eu queria saber do mundo jurídico como um cidadão comum, aquele que a Constituição diz que todo Poder emana do povo, pode fazer para anular essas doações. Tenho certeza que existe amparo legal para entrar contra quem usurpou os bens públicos e os responsáveis. Dai-me uma luz, quero fazer um bem à minha cidade antes que eu me apague e já estou pelos 82 anos.
O que seria de Maceió se não fossem as praias e suas suaves brisas marinhas? Ainda bem que: “É três mulé prum homem só; e alguém está com cinco, eu sou tenho uma.”