NOSSA SENHORA DO COCO DA APARECIDA, SEU FESTEJO E SEU HINO
Raimundo Floriano
Imagem entronizada no Santuário
Loreto é uma tranquila, simpática e acolhedora cidade do sertão sul-maranhense, localizada à margem esquerda do Rio Balsas, a 720 km de São Luís, a capital, com população urbana em torno de 7.500 habitantes. Sendo a terra natal de Dona Maria Bezerra, minha saudosa santa mãezinha, e da Madrinha Ritinha, mulher do Tio Cazuza, considero-a uma extensão de Balsas.
Paisagens de Loreto: Igreja Matriz e detalhe do Balneário Santa Fé
Na história de sua fundação, há registro de disputa entre o Padre Lopes, que desejava a localização às margens do Rio Balsas, com navegação até o Oceano Atlântico, e a família Pereira, vencedora, que iniciou a construção das casas às margens do Riacho Teles, distante 3 km do rio. Afastada a povoação da única via de transporte e de escoamento da produção, só o marasmo poderia sobrevir-lhe. Loreto foi elevada a cidade no dia 29 de março de 1938, mas, com o passar dos anos, decresceu de importância, eis que isolada de outras artérias principais de comunicação com a capital e com os demais municípios em derredor.
Hoje, com o crescimento horizontal das edificações urbanas, a cidade alcançou as margens do rio, onde se localiza o bairro Balneário Santa Fé e onde foi construída uma ponte suspensa de madeira, para pedestres, e instalado um pontão, para passagem de veículos automotores.
A atração maior do município é o tradicional Festejo de Nossa Senhora, de 6 a 15 de agosto, na localidade denominada Coco da Aparecida, à margem direita do Rio Balsas, mata adentro, distante 73 km da sede e 14 km da cidade piauiense de Ribeiro Gonçalves. Depois do Festejo balsense de Santo Antônio, é a maior atração religiosa daquele sertão.
Detalhes do Santuário do Coco da Aparecida
Durante sua realização, acorrem ao Coco romeiros, não só das cidades próximas, como também de todo o país. Cerca de 15 mil pessoas fazem com que a população flutuante do arraial seja o dobro da urbana loretense.
Coco da Aparecida: detalhes da romaria
Há um esquema itinerante composto de camelôs, marreteiros, vendedores de bijuterias, quinquilharias, discos e aparelhos eletrônicos de toda a espécie, que se desloca da Bahia, passando por todas as festas religiosas sertanejas e atingindo até as comunidades paraenses. Tal esquema está presente, com toda sua pujança, no Festejo do Coco da Aparecida, dando-lhe colorido especial.
Como em todo o Interior Nordestino, a Alvorada marca o início do Festejo, seguindo-se Missas matinais, Terço nas novenas, retretas e Procissão no último dia. A Quermesse completa o cenário, com barraquinhas a cargo dos habitantes do lugar, nas quais não faltam as comidas típicas da terra, bebidas e a animação por conta dos trios nordestinos e bandas que para ali se dirigem em busca do garantido faturamento.
A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, editada pelo IBGE, informa-nos que, em passado remoto, o ponto pitoresco dos festejos loretenses constituía-se nas danças ao ar livre, ao som de sanfona e outros instrumentos, assim descritas: “um dos cavalheiros saca de sua arma, dando vários tiros para cima, provocando, desse modo, um tiroteio entre os próprios dançantes, de vez que estes acompanham a atitude do primeiro. Com todo esse movimento, os festejos prosseguem normalmente, ficando eles com uma das mãos sobre o ombro das damas, enquanto a outra permanece com a arma.”.
A história da devoção é narrada por tradição oral. Os moradores antigos do Arraial do Coco contam que, há mais de 200 anos, num dia 15 de agosto, a imagem de Nossa Senhora apareceu ali para duas meninas, no meio de uma rocha, lugar onde foi construída uma capela. As meninas videntes, ao falecerem, foram sepultadas ao pé da escadaria do santuário. Romeiros que participam dos Festejos ou em caravanas de devotos garantem que vários milagres já foram realizados pela Santa, que ficou conhecida como Nossa Senhora do Coco da Aparecida.
A partir de 1992, após a chegada do Padre Ugo Montagner – pároco de Loreto até pouco tempo e do Coco da Aparecida até hoje –, a festa ficou mais bem organizada, com a construção de uma capelinha em forma de asa delta, conforme se vê nas fotos acima, e com a chegada de água encanada e luz elétrica à região.
Meu amigo Dom Enemésio Lazzaris, Bispo Diocesano de Balsas, a quem está subordinada a Paróquia de Loreto, acha que é preciso fazer-se um projeto para expandir a romaria, visando, em primeiro lugar, à preservação do meio ambiente. Devido à ausência de moradias em volta da capela, os romeiros improvisam acampamentos, devastando a área. Nas proximidades do local, chama a atenção um grande desmatamento provocado por várias carvoarias.
Acredita o Bispo que, por seu tamanho e importância, o Governo do Estado deveria apoiar a festa e colocá-la no calendário turístico do Maranhão. A esse respeito, o Padre Ugo Montagner já fez várias solicitações aos governantes maranhense, não obtendo resposta alguma.
É do Padre Ugo Montagner a inspirada Oração de Nossa Senhora do Coco da Aparecida, que adiante transcrevo:
“Mãe querida, Nossa Senhora do Coco da Aparecida, como é bom estar aqui junto a teus pés, te louvando, te agradecendo, te amando, te implorando, pedindo tua proteção, tua graça, tua misericórdia, teu perdão, tua bondade, teu amor, tua paz, tua justiça, tua bênção, tua mão eterna, para encontrar a eterna felicidade junto com teu filho Jesus. Amém!”
Padre Ugo Montagner com catequizandos de Loreto
A seguir, o Hino de Nossa Senhora do Coco da Aparecida, composição do Padre Ugo Montagner e partitura da Professora Silvana Teixeira, de Brasília:
Desejando, de todo o coração, que Loreto, agora ligada por asfalto às principais rodovias brasileiras, venha a conhecer o progresso e a prosperidade, anseio de toda aquela boa gente loretense, disponibilizo-lhes um vídeo com o bonito Hino, na voz de Mário Cardoso, artista de nosso sertão: