Raimundo Floriano
Esse Abílio Neto, colunista daqui do JBF, é um sujeito instigante. Toda a vez que ele escreve sobre a Música Nordestina, eu descubro que pouca coisa conheço sobre o assunto em pauta, ou, se conheço, é só aos pedaços. E aí, eu me dano a pesquisar, agarrando-me a fragmentos guardados na minha memória, para ver se formulo uma idéia completa sobre o tema.
Assim foi no dia 30 de junho passado, quando discorreu sobre Severino Januário e mencionou o programa Os Sete Gonzagas, sucesso transmitido pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro, em 1952, do qual eu não perdia uma edição, nele atuando o velho Januário José dos Santos e seis dos seus nove filhos, dentre eles os já famosos Luiz e Zé Gonzaga.
Vieram-me à memória aqueles bons tempos dos meus 16 anos. Foi em 1952, lá pro final do ano, que eu me encantei ao ouvir Zé Gonzaga, ao vivo, no Cine Teatro 4 de Setembro, em Teresina, Piauí, cantar o arrasta-pé Nós Era Sete, composição sua, tendo Antônio Maria como parceiro. Acho que a música foi feita como uma espécie de gozação pelo fato do programa ter-se acabado.
Aquela canção forrozeira entrou-me na cabeça, e até hoje eu sei-a de cor, embora nunca mais tivesse a oportunidade de ouvi-la novamente. Dizia assim:
Nós era sete
Fumo morrendo
Fumo morrendo
E só fiquemo eu
Não houve reza
Não houve nada
Fumo morrendo
E só fiquemo eu
José mais moderninho
Morreu de catapora
Tião endefluxado
Tossiu tanto, que morreu
Gumercino nem nasceu
Morreu fora de hora
Enfim, nós era sete
E só fiquemo eu
Mas, conforme eu declarei acima, esse Abílio Neto, lascaneta de mulesta, fez com que as minhas lombrigas não mais se aquietassem. E, aí eu me danei. Pequei meu cavalo, chamei-o nas esporas e me atirei na estrada, à procura da até então desconhecida gravação. Querem ver como é fácil? Pois tentem! Pesquisem no Google, no Brasil Vinil, na Wikpédia, na Globo.com, no Orkut.com, no Twitter.com, no Facebook.com, no Sonic.com, no Myspace.com, no Linkedin.com, no Escambau.com! Encontraram? Nem a pau, Juvenal.
Até que um dia, entrei em contato com o saudoso colecionador Roberto Lapiccirella, de Camanducaia (MG), que me disponibilizou o tão procurado registro fonográfico da música.
Portanto, é com muito orgulho que faço aqui esta pequena homenagem ao grande Zé Gonzaga e seu parceiro Antônio Maria.
Na gravação, ao cantar o forró pela primeira vez, Zé Gonzaga se atrapalha e diz: José mais moderninho morreu fora de hora. O que é consertado no bis, que ficou assim: José mais moderninho morreu de catapora. Naquele tempo, eram mínimos os recursos tecnológicos, e a feitura de um disco constituía-se em tremendo desafio. Gravou errado, tamos conversados!
Orlando Silva também cometeu engano semelhante, em 1937, no samba Pela Primeira Vez, de Noel Rosa e Christóvão de Alencar – que faz parte do meu acervo da Velha Guarda –, referindo-se à namorada, que viajara num trem: “Até sumir numa esquina o lenço dela”. Na parte orquestral, algum dos músicos cochichou no seu ouvido: “Quem dobra esquina é bonde!” Orlando, então, corrigiu, no bis: “Até sumir numa curva o lenço dela”.
Para vocês, arrasta-pé Nós Era Sete, de Zé Gonzaga e Antônio Maria: