Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo segunda, 09 de maio de 2022

NORDESTE: AÇUDE CEDRO, NO CEARÁ, COM 115 ANOS, VOLTA A TER ÁGUA APÓS SEIS MESES

Por Bruno Alfano — Rio

 


Açude Cedro voltou a ter água em 2022, após seis meses completamente seco — Foto: Divulgação

Açude Cedro voltou a ter água em 2022, após seis meses completamente seco — Foto: Divulgação

Monumento do Império contra a seca de 115 anos de história, o Açude Cedro, em Quixadá, voltou a ter água depois de seis meses completamente vazio. Com capacidade para 125 milhões de m³, o equivalente a 50 mil piscinas olímpicas, a represa no coração do sertão cearense foi a primeira obra para o combate à seca no país. Defasado e pequeno para a região, perdeu importância hidrológica, mas virou orgulho e ponto turístico emoldurado aos pés da Galinha Choca, uma formação rochosa de destaque no local.

 O novo cenário, possível devido às chuvas acima da média que foram registradas mês passado no Ceará, representa apenas 710 mil m³ represados no açude — ou 0,7% do seu volume útil —, ainda assim simboliza esperança.

Açude Cedro, no Ceará, cheio, em 2008 — Foto: Divulgação

Açude Cedro, no Ceará, cheio, em 2008 — Foto: Divulgação

— Quem se identifica com a nossa história, sobretudo os mais velhos que cresceram no interior e têm identificação maior com a água, na verdade, com a falta dela, dá muito valor ao Açude Cedro — conta Francisco Teixeira, secretário de Recursos Hídricos do Ceará.

 

Obra emblemática

 

A estrutura, que no ponto mais profundo chega a marcar 20 metros de altura, começou a ser erguida em 1884 por ordem de Dom Pedro II após uma grande seca que assolou o Ceará em 1877. A previsão era de que a obra fosse concluída em 1887, mas isso só ocorreu 1906, já na República.

No caminho, suspeitas de superfaturamento de um engenheiro inglês, acusado de gastar em excesso, de contratar desnecessariamente trabalhadores estrangeiros e de não seguir o projeto; mudanças da presidência da província do Ceará; e muita disputa entre trabalhadores e governantes.

— No dia 20 de dezembro de 1889 houve uma grande confusão envolvendo os retirantes e a polícia, por causa da ausência de comida para todos que estavam na obra do açude. Na ocasião, somente as mulheres e os inválidos (aqueles que não podiam trabalhar) receberam comida. Por isso inúmeros sujeitos entraram em atrito com a força policial, quando tentaram saquear os armazéns. Na briga, dois retirantes foram mortos — conta Renata Monteiro, historiadora autora da dissertação “Um monumento ao Sertão: ciência, política e trabalho na construção do Açude Cedro”, pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Na época, segundo a historiadora, uma elite intelectual chegou a tratar o açude até com certo desdém. Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, afirmou que ele seria “único, monumental e inútil”.

— É uma obra emblemática, construída em blocos de pedra, com tecnologia inglesa, mas superdimensionada. Do ponto de vista hidrológico, não atendeu à região. É muito grande para pouca contribuição de água — diz Teixeira.

Atualmente, a prefeitura de Quixadá tenta junto do governo federal a liberação de R$ 1 milhão para a revitalização do entorno do monumento, que é gerido pela União.

Ao longo do tempo, em meio a cheias e secas, o açude terminou a primeira década do século 21 com bastante água após chuvas acima da média em 2004, 2008, 2009 e 2011. No entanto, desde 2012 a região vive com precipitações abaixo do esperado e, em 2016, o Açude do Cedro voltou a secar completamente.

— Há uma década não chove dentro da média lá e muitos reservatórios foram construídos acima dele que interceptam água. Portanto, o Cedro é de difícil recarga. Além disso, a evaporação do sol no sertão leva mais de dois metros de água por ano — explica Teixeira.

Com o fim da água, o açude virou um cemitério de cágados. Uma equipe de biólogos chegou a contar mais de 430 carcaças. Em 2016, foi a quinta vez que o Cedro secou na história (o fenômeno já havia sido registrado em 1930, 1932, 1950 e 1999), e, depois disso, nunca subiu mais do que 5%.

— No Ceará, a gente tem a incerteza da chuva no primeiro semestre e a certeza da seca no segundo — diz o secretário.

O Ceará conta hoje com uma malha de 155 reservatórios para abastecimento d’água. O maior dele é o Castanhão, que recebe até 6,5 bilhões de m³ d’água — 65 vezes maior do que o Cedro. Neste momento, está com 19% da sua capacidade preenchida, o que significa 600 milhões de m³ estocados.

— Um reservatório com 125 milhões de m³ d’água tem relevância em outros locais. Lá no Cedro, não. A chuva é muito irregular e o sol consome demais. Ou seja, a evaporação seca muito rápido e a água não é reposta — diz Teixeira.

Mudanças climáticas

 

Neste mês, os reservatórios cearenses atingiram 35% da sua capacidade, a maior média de volume hídrico desde outubro de 2013. A marca tem relação com chuvas acima da média que vêm sendo registradas no estado. No entanto, apenas o Norte (o litoral) e o Sul recebem os sistemas atmosféricos de chuva. No entanto, o miolo do estado, onde fica o Cedro, tem ficado sem preciptação.

 — É como se os sistemas atmosféricos não tivessem força para entrar no centro do estado, o que foi causado pelas mudanças climáticas. Além disso, as secas estão mais severas, mais prologadas e os períodos de chuva extrema mais esporádicos — afirma o secretário.

Mas a pouca água já faz brotar a esperança. O cineasta Clébio Viriato conta que o açude é o coração de Quixadá.

— Ele seco nos deixa numa tristeza profunda — diz.

O cineasta lembra com clareza das últimas vezes que o Cedro “sangrou”. Ou seja, quando o nível d’água passou da sua capacidade de armazenamento e ele transbordou.

— Foi um verdadeiro acontecimento — recorda-se.

Clébio estava na escola em 1986 quando o Cedro sangrou. O fenômeno só aconteceu seis vezes na história (1924, 1925, 1974, 1975, 1986 e 1989). Menino, ele foi do colégio direto para o açude, pulou na água de uniforme e teve que se explicar em casa.

— Meu pai estava querendo me dar uma pisa, mas depois ele fez foi rir de ver o filho se identificando com o açude que ele e meu avô já se identificavam — lembra Viriato.


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