Tenho quase certeza de quando e por quem fui contaminado com o COVID-19 Penso que pode ter sido na busca de ajuda de tratamento dentário emergencial, entre a primeira e a segunda dose da Vacina Covishield (AstraZeneca-Fiocruz, produzida na Índia). Sei que entrei junho de 2021 com uma forte sinusite.
Sinusite é algo que passou a ser comum para mim desde que vim morar em Brasília; no Rio não sentia esse tipo de incômodo. Algo comum em você, então aprende a se defender. Tylenol sinus, solução manipulada com Belladona, Eucalipto, Operculata e Hydratis Canadensis, e o que mais funciona comigo: Acupuntura!
Todavia, dessa vez, o ataque ocorria diferente. Acordava pela manhã bem e quando chegava a tarde os sintomas começavam a aflorar. Cabeça latejando, incômodo na nuca, pigarro, tosse, corpo se sentindo mal. E mais: forte dificuldade de concentração. O cérebro lutava para manter os sentidos e o corpo sob controle. Continuava com as percepções de paladar e aroma. Ao contrário dos demais, que foram atingidos pela pandemia, os meus sentidos, as minhas sensibilidades se ampliaram, me senti meio um dos membros da família Cullen da série “Crepúsculo”. Isso me confundia.
Com o passar dos dias aos sintomas foi acrescido um frio noturno. As noites se tornaram geladas para mim. Parecia que o vírus sabia distinguir, esperta e exatamente, o que era dia e o que era noite. Ele era noturno, se esgueirava e se pronunciava no meu interior, buscando as extremidades do meu corpo, os pés e as mãos. Uma presença gélida, pontual. Para os pés meias de lã ou algodão grosso. Nas mãos luvas de inverno, que não adiantavam muito, os ossos se contraíam e reclamavam daquela sensação congelante. Mesmo as luvas que usei em Dawson Creek, Canadá, quando peguei -21oC, não funcionavam, não me aqueciam. Mãos apertadas, uma contra outra, a sensação térmica externa, de inverno, não era para isso tudo. Tinha algo errado. Para dormir era um caos, acordava cansado da luta. Acordar sonado, tarde incômoda, noite de sofrimento – o ciclo rotineiro se impunha. E foram dias assim. Um inverno no corpo, um inverno na alma,
Até que certa noite, comecei a sentir calafrios, sem estar gripado e sem ter febre. Tinha algo, de fato, errado. A solução foi repousar debaixo do chuveiro bem quente até o calafrio passar, e foram muitos minutos até a temperatura do meu corpo me devolver dado conforto para mais bem pensar, movimentar e agir. Lembrei dos remédios que trouxera dos Estados Unidos para combate à sinusite e à gripe (“strength”) – um para o dia e outro para noite. Para tosse acetilcisteína, conforme vendedora da Drogaria Rosário me recomendara meses antes, antes da pandemia. Para completar a velha anti-aging Vitamina “C”. Ao menos a medicação caseira me devolveu parte da concentração, do meu foco habitual. Sem febre, sem gripe. Tosse permanecia e a voz um pouco fanha.
Outras pessoas da minha casa também manifestaram, com outros sintomas, a presença do COVID-19, porém nem em todos, havia o perigo de as contaminarmos. Resolvemos fazer o teste juntos, resultado: positivo! O Cavalo de Troia biológico passara pelas nossas barreiras de controle. Deixei mensagem sutil no Instagram, indicando que estava com COVID-19, poucos amigos entenderam. Não os critiquei, nessa pandemia muita gente estava mais preocupada com elas mesmas e seus entes queridos mais próximos. Muita gente ao redor contaminada, ou internada e, mesmo, morta sem tempo para despedidas.
A Médica me prescreveu, exatamente, xarope com acetilcisteína, Vitamina “C + Zinco”, dipirona (mas servia o Tylenol sinus), adicionando a Azitromicina, que já tomara anteriormente para uma crise bem forte de sinusite. Nenhuma (hidroxi)cloroquina, nenhuma ivermectina...
Fui melhorando... passou. Contudo o COVID-19 me deixara um presentinho interno. Tinha que tomar um remédio ao final da tarde, e repentinamente meu estômago o repudiou. A sensação era horrível, e ela chegava à noite. Náusea, desconforto nas costas, estômago reclamando e ardendo como em uma crise, depois de ter comido algo forte e cheio de lactose. Por anos tomei aquela medicação e tudo normal. Agora me trazia sensação de iminente morte.
Fui ao Cardiologista, batata! Aquele remédio de uso rotineiro tinha reações adversas, que já estava sentindo no meu corpo e não fazia relação, só que o COVID-19 as esgarçara. O Cardiologista substituiu o remédio, voltando tudo ao normal, até o que não tinha a ver com o vírus - Males que vêm para bem!
Brasília, 30 de outubro de 2021.