Tudo começou em 14 de junho de 2001, quando o badboy W. Bush, em conversa com o primeiro-ministro da Suécia, Goran Perrson, sem ter bebido coisa alguma, declarou, sem perceber a câmera de TV que gravava: “É incrível que eu tenha vencido. Concorria contra a paz, prosperidade e boa administração”.
Bonachão, de andar bamboleante em função dos joelhos voltados para dentro, o Michel Moore é um declarado praticante da desobediência civil, voltado para o combate sistemático ao desemprego e ao armamentismo. Ultimamente, desde a fala assustadoramente franca do W. Bush, ele vem desenvolvendo múltiplos esforços, sem qualquer intenção socializante, no sentido de destronar uma gangue que se apossou dos Estados Unidos, por omissão de milhões de eleitores que, alienada ou idioticamente, não exerceu conscientemente seu direito de votar ou votou apenas porque pouco importava a presença de qualquer um na Casa Branca, como se Democracia devesse ser exercida como se faz na casa de Mãe Joana.
Jornais brasileiros não pouparam elogios ao livro: “Seu discurso é um ato de coragem e dignidade” … “Uma crítica dermolidora” … “Sátira cândida, com fatos de estarrecer”. Mas o que mais surpreende nas análises feitas é a credibilidade depositada nas denúncias formuladas pelo Moore, todas elas dando nomes aos bois, sem tirar nem pôr. Por exemplo: “Este Virus Branco Boçal é tão potente que infectou até mesmo impostores como Colin Powell, o secretário do Interior Gale Norton e a conselheira de Segurança Nacional Condoleeza Rice”.
O livro ainda traz, para quem resguarda independência analítica, lições que devem ser apreendidas pelos responsáveis dos destinos brasileiros. O Moore cita por exemplo a Seção 1 da 14a. Emenda: “Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à jurisdição dele, são cidadãos dos Estados Unidos e do Estado no qual residem. Nenhum Estado pode fazer ou executar qualquer lei que reduza os privilégios ou imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos, etc.” Com base nela, também denuncia: “Cerca de 20% dos negros jovens, com idade entre 16 e 24 anos, não estão nem estudando nem trabalhando” … “Nenhum afro-americano é proprietário de uma empresa de armas” … “Homens negros com idade entre 15 e 24 anos têm seis vezes mais probabilidades de morrer por tiro que homens brancos de mesma faixa etária”. “Em quase 10% das escolas públicas dos Estados Unidos, o número de inscrições é 25% maior que a capacidade das instalações”.
Uma outra lição ainda pode ser extraída dos posicionamentos do Michel Moore: o seu destemor é em prol de uma revitalização ética da nação americana, hoje entregue em mãos dirigentes nada rooseveltianos, de frágeis binoculizações estratégicas
Considero o Brasil um país muito arretado, apesar de todos os seus problemas. Desejaria ver, sinceramente, a sua gente bem mais atilada, a sua classe média bem mais atenta aos destinos nacionais e a sua elite mais distanciada dos modismos e babaquices dos cinismos comunicacionais televisivos da nação americana, sempre atenta às provocações multiculturais que buscam inserir o Brasil em contextos de altos níveis de servilismo. Um servilismo altamente virótico, que contamina até os que nada possuem, salvo muito arroto e deslumbramento. Um oportuno levantamento não seria aquele que pudesse dimensionar a nossa população de idiotas brancos boçais? Sempre de carinhas de anjo, tal e qual aquela novela para abobados mentais.