No começo da década de oitenta depois de mais uma derrota eleitoral na regiāo eu me encontrava na minha cidade na Prata-PB, quando alguém me falou de um menininho que havia sofrido um grave acidente,havia perdido o movimento das pernas e se movia precariamente.
Peguei o carro e na companhia de meu sobrinho Eugeninho subimos a serra do Gabriel que limita os municípios de Prata e Monteiro.
Lá numa minúscula casa de taipa encontramos Nildinho com quatro anos, se muito, se movimentando pelos poucos cômodos da casa apoiado nas mãos como um macaquinho.
O destino vinha sendo cruel com Nildinho que num acesso de eplepsia segundo a mãe, sozinho em casa caíra em cima do fogo que esquentava panelas no chão do casebre pela ausência de um fogão por mais rudimentar que fosse.
A mãe que não estava em casa no momento já o encontrou se debatendo sobre a lenha em brasas.
Nessa época ele ainda engatinhava.
Socorrido, sofreu amputação da metade de um pé e de uma perna logo abaixo do joelho.
Não preciso dizer o quanto aquilo nos chocou a mim e a Eugeninho.
Voltamos pra Recife onde morávamos e como já tínhamos feito de outras vezes, começamos a articular o “resgate” de Nildinho.
Consultamos Aderbal Vieira de Melo, ortopedista amigo comum que se interessou pelo caso .
Com o apoio de Zélia minha irmã que lhe daria abrigo, trouxemos Nldinho e Antonio Pituba seu pai (a mãe não poderia vir, cuidando de outros menores).
Os exercícios de fisioterapia começaram de pronto numa clínica onde atendia Aderbal.
A fase inicial era recuperar o coto da perna amputada que dobrara pra dentro.
E era preciso trazer de volta o movimento a qualquer custo.
Extremamente penoso era ver o samaritano Aderbal dobrar com força aquele joelho até estirá-lo pra que o movimento fosse restabelecido devido o tempo que ficara imóvel.
Causava pena também a hora do banho.
De região extremamente seca, Nildinho chorava horrores na hora do banho.
Mas o tempo e a dedicação prevaleceram e o joelho de Nildinho voltou ao movimento original.
Com a ajuda de um jovem casal dono de uma loja de aparelhos ortopédicos no Pátio de Santa Cruz – que num gesto de rara beleza humanitária doou a perna mecânica, a muleta e a bota que iriam devolver os seus movimentos.
“Apto para o trabalho inclusive” segundo o bom Aderbal, Nildinho, para alegria e emoção de todos nós, voltou depois de meses (poucos) pra casa andando com suas pernas.
Passado algum tempo, perdemos Nildinho de vista, quando fui informado pra tristeza de nós todos que a mãe, algum tempo depois, tirou-lhe a perna mecânica e a bota para mendigar nas feiras da região.
Passando um dia de feira por Monteiro, fui procurá-los no Mercado.
De longe pude ainda vê-lo, com tristeza e frustração, já grandinho, sentado no chão ao lado da mãe.
Junto dos dois, uma bacia com moedas e ainda a velha muleta de alumínio alongada com um pedaço de pau.
Isso foi num tempo de plena ausência dos chamados “programas sociais” que bem ou mal tiram essa pobre gente de uma linha de miséria absoluta.
Trinta e poucos anos depois reencontro Nildinho num comício na Prata, cara fechada, dois meninos pequenos ao seu lado, forte musculoso, perguntei-lhe a idade sem me identificar.
“Trinta e sete” respondeu-me sem mais perguntas.
Antes de sair de junto observei, além do cajado que lhe servia de amparo, o coto do joelho voltado pra posição do acidente.
Vale ressaltar aqui que mais uma campanha eleitoral foi perdida por mim na minha aldeia.
E que uma “corrente de orações” movimenta uma campanha pela retorno de plena saúde de Eugenio Nunes Filho, Eugeninho, que ora luta pela sobrevivência num transplante de medula na distante e sombria São Paulo.
Os que crêem rogam a Deus pelo seu pleno restabelecimento.
Eu, do meu lado e a meu modo, rogo à mãe Natureza que lhe devolva, pelo menos em parte, todo o bem que ele espalhou entre os seus semelhantes por aqui.
Que ele volte restabelecido e disposto pra juntos, quem sabe, ajudarmos a outros “Nildinhos” da vida…