Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.
Correio Braziliense sexta, 26 de abril de 2019
NELZIRA MOREIRA: A PROFESSORA QUE CHEGOU A BRASÍLIA ANTES MESMO DE A CIDADE SER INAUGURADA
A professora que chegou a Brasília antes mesmo de a cidade ser inaugurada
Pioneira da educação, Nelzira Moreira relembra momentos da carreira
A professora relembra momentos marcantes da trajetória (foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
A história de Nelzira Moreira em Brasília começou com a chegada dela em um dos caminhões FeNeMê — como eram conhecidos os veículos da Fábrica Nacional de Motores (FNM). A pioneira de 79 anos mudou-se, em 1957, para uma cidade que praticamente não existia. A futura capital federal ainda estava tomada pela terra, por tratores e pelas casas de madeira onde moravam famílias de retirantes e de funcionários públicos recém-transferidos.
O primeiro marido dela, Donato, mudou-se para o Planalto Central para trabalhar no escritório da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). À época, o casal se mudou para a Vila Operária, atual Candangolândia. As visitas à Cidade Livre — hoje, Núcleo Bandeirante, onde Nelzira mora — eram apenas para compras. A região, em seguida, tornou-se um dos locais de trabalho da professora.
Mesmo com a formação normalista no município de Silvânia (GO), onde nasceu, Nelzira estudou contabilidade onde atualmente fica o Fórum do Núcleo Bandeirante. As condições do espaço não deixaram a memória da pioneira até hoje: “Quando chovia, o córrego enchia e tudo ficava alagado. Para fugirmos da chuva, o diretor nos levava para outro local e dava continuidade às aulas”, conta.
Graças aos conhecimentos acumulados, Nelzira passou a dar aula em dois colégios: um deles na antiga invasão do IAPI, o outro, na Vila Operária. Quem frequentava algumas das escolas do início de Brasília estudava em montinhos de tijolos e, por vezes, dividia espaço com bichos, como sapos e cobras. Naquele tempo, Nelzira lecionou para alunos de 9 a 40 anos: crianças e adolescentes que vieram com os pais para a cidade; funcionários de órgãos públicos que continuavam os estudos; e adultos que ainda não sabiam ler ou escrever.
Tanques com areia molhada e seca eram alguns dos materiais dispostos na sala de aula para ilustrar as diferenças entre rios, oceanos e ilhas, por exemplo. “Era bem diferente de hoje, claro. Eu levava cartolinas e, nas aulas, tirava os conteúdos da cabeça dos estudantes. Não apenas derramava informações”, relata Nelzira. “Eles absorviam tudo o que você passava ou cobrava. Tinham prazer e entusiasmo em ler e escrever. Ficavam felizes ao saber as frases, separar sílabas, fazer contas, falar a tabuada de cor e salteado. Principalmente os adultos”, relembra.
Caminhos
O reconhecimento do trabalho de Nelzira veio ao longo de muito tempo. “Um dia desses, um senhor me ligou. Disse que fui professora da filha dele que, hoje, é juíza. Só não peguei o contato deles”, lamenta a professora. “Mas eu fazia o melhor possível para que as pessoas fossem felizes”, completa.
A carreira na educação se interrompeu pouco tempo depois do nascimento das filhas — Irandiaia, 58, e Ádanis, 56. À época, a mais velha acompanhava a mãe em alguns dias de trabalho. “Ficávamos sentadas no cantinho, vendo ela dar aula. A caminhada até a escola não era muito longa. Lembro-me do chão de terra, da cerca, das plantinhas. O colégio era como uma sala grande. Tinha cadeirinhas, carteiras. Era tudo muito simples”, conta a servidora pública Irandiaia Glaicy Bruno.
Anos depois, Nelzira dedicou-se à área da saúde. Formou-se em enfermagem pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), mas aproveitou para cursar pedagogia. Passou por hospitais públicos e postos de saúde do Distrito Federal e aposentou-se como auxiliar de enfermagem pela Secretaria de Saúde. Mesmo assim, o envolvimento com o ensino não desapareceu.
Depois da aposentadoria, comprou um terreno para montar um maternal. No entanto, com a morte do segundo marido, desistiu do sonho e vendeu o lote. “Ela teria se dado bem se tivesse seguido na carreira, pois gosta de cuidar dos outros. Estava sempre junto e sempre foi exigente e rígida, mas organizada e responsável. Herdei isso tudo dela”, confessa Irandiaia.