NATUREZA
Francisca Júlia
Um contínuo voejar de moscas e de abelhas Agita os ares de um rumor de asas medrosas; A Natureza ri pelas bocas vermelhas Tanto das flores más como das boas rosas. Por contraste, hás de ouvir em noites tenebrosas O grito dos chacais e o pranto das ovelhas, Brados de desespero e frases amorosas Pronunciadas, a medo, à concha das orelhas... Ó Natureza, ó Mãe pérfida! tu, que crias, Na longa sucessão das noites e dos dias, Tanto aborto, que se transforma e se renova, Quando meu pobre corpo estiver sepultado, Mãe! transforma-o também num chorão recurvado Para dar sombra fresca à minha própria cova.