O Bom Velhinho, vestido a caráter e de barba branca, chegava à meia-noite e entregava os presentes dos menores, chamando um a um pelo nome — e, quando meu irmão mais novo virou tiozão, ouvindo-o perguntar “Papai Noel, você rói unha?” antes de sua tradicional risada, que soa como “Roo, roo, roo.” Tudo isso depois de um interminável amigo oculto, que envolvia todos os convidados, cada um ouvindo um discurso que ia do mais tímido ao incontrolavelmente emocionado.
Os Natais não eram iguais — ficaram divididos quando comecei a namorar e tinha outra festa para frequentar, por exemplo —, mas nunca parei para pensar se um tinha sido melhor do que o outro. Eles estavam lá, como parte do ciclo da vida. A tarefa de avaliar o ano, suas conquistas e frustrações, e projetar o que viria, com suas promessas e resoluções, ficava para a semana seguinte. Para finalmente chegar ao esporte, que deveria ser o tema desta coluna mesmo nesta época, festejar o Natal era como disputar um campeonato: não há resultado garantido, a graça está em participar.
O torcedor do Fluminense esperou a vida inteira para ser campeão da Libertadores e agora não sabe quanto tempo vai esperar para ser campeão mundial? O torcedor do Botafogo esperou o ano inteiro para saber que não seria campeão brasileiro? O torcedor do Vasco teve de esperar até a última rodada para saber que “no va a bajar”? O torcedor do Flamengo vai ter de esperar pelo próximo ano para voltar a pensar nos títulos com que se acostumou? Em todos os casos, só há uma coisa em comum: o que vale é a viagem.
A vida, bem mais séria do que o esporte, nos impõe perdas, e não apenas derrotas, ao longo do caminho. Mas também nos dá, de vez quando, um tempinho para celebrar nossas vitórias. Hoje é dia de curtir a viagem.
Feliz Natal!