Acordar cedo e pegar o caminho até o shopping, cuidar da barba com cosméticos e ouvir os diversos pedidos das crianças e até adultos, desde ganhar uma boneca Barbie até a cura de um câncer, é uma rotina que começa no fim de novembro para vários homens que vestem a fantasia de Papai Noel. Para mostrar o dia a dia do trabalho desses bons velhinhos, a reportagem entrevistou as pessoas por trás da roupa vermelha e branca, que cumprem com orgulho o emprego temporário nesta época.
Edcleid Figueiredo, 47, se apresenta como Papai Noel no Terraço Shopping desde de 2019, e conta que sai de casa às 5h30 e retorna às 23h30, pois mora em uma zona rural de Luziânia (GO), no Entorno do DF. "É cansativo, mas tudo é recompensado pois gosto de fazer isso. É prazeroso para mim", descreve. A montagem do figurino, segundo ele, era mais trabalhosa. "O crescimento da barba ajudou, porque era o item mais difícil de montar. Para virar o herói da criançada ficou mais fácil. Devo levar uns 20 minutos para ficar pronto", explica.
O funcionário conta que tem ficado impressionado com os pedidos de paz vindo das crianças. "É incrível como pessoas tão pequenas começam a sentir a tensão e as coisas horríveis que acontecem no mundo. Recebo entre 10 e 20 pedidos como esses todos os dias. Elas só querem um dia mais tranquilo e um futuro melhor. Tem sido menor a busca por bolas e bonecas, como antigamente", afirma.
De corpo e alma
Incorporar o velhinho vai muito além do que vestir a roupa vermelha e uma barba branca, como é o caso de Jessé Alves, 41, Papai Noel do Pátio Brasil. Ele diz que faz uma preparação psicológica, espiritual e física para atuar como o personagem. "Faço sempre uma oração para que o cara lá de cima faça das minhas palavras o que as pessoas ao lado querem ouvir", detalha. Ele também conta que estuda a forma como o Papai Noel se comportaria.
Emocionado, Jessé lembra que o pedido que mais tocou o coração foi o de uma mãe. "A moça chegou com o filho respirando através de aparelhos. A única coisa que ela queria era seu filho respirando normalmente. Sinto isso até hoje", emociona-se. O Papai Noel conta que, outro dia, uma menina pediu para que ele trouxesse o avô dela de volta à Terra. "Nesses casos, a preparação é importante. Conto que não sabemos os planos de Deus. Falei que o ente querido não morreu, pois estava presente no coração dela", recorda.
O morador de Unaí (MG) Clecio Pereira, 43, leva os filhos para tirar foto com o Papai Noel, o que o pai dele não fez durante a infância. "Quando era criança, minha família não tinha condições de ir ao shopping ou em lugares que ele (Papai Noel) ficava. A nossa condição melhorou e, hoje, faço isso com meus filhos. Isso significa muito para mim, pois é importante para eles", explica. A mulher dele, Ana Lúcia de Oliveira, 38, e os dois filhos, Ana Clara de Oliveira, 12, e Francisco de Oliveira, 5, começaram a visita ao velhinho às 9h. O clima de animação era tão grande que as crianças não queriam retornar para casa tão cedo.
Por mais que a viagem seja demorada, Clecio faz isso todo fim de ano com os pequenos. "Vale muito a pena tirar um dia para se divertir com a família, trazer a criançada para conversar e tirar foto com o personagem, que mexe tanto com eles. Não tem dinheiro que pague por esses momentos", destaca.
*Estagiário sob a supervisão de Suzano Almeida