Casal de “galo de campina” – macho à esquerda
Volto (de novo) ao sertão. Ao meu sertão. Ao local onde nasci, em 1943. Já se vão aí 74 anos e as lembranças – todas boas – me levam de volta às pequenas matas das Queimadas. Tudo lembranças. Lembranças do cassacos, das raposas, das mutucas ferroando as pernas dos que usavam calças-curtas e aos pios das corujas no firmar da noite de céus estrelados.
De noite, o cântico repetitivo da cigarra e os voos rasantes dos morcegos na caça aos pirilampos. Tudo junto, embeleza cada vez mais a noite – basta armar uma rede na latada ou no alpendre e ficar escutando e contando estórias de trancoso.
O galo canta, a cabra berra e chocalho anuncia que há movimento. A claridade força os olhares para os céus avermelhados, mostrando que o sol está chegando para reinar, de novo, por mais 12 ou 13 horas.
E o movimento cresce. As pessoas se prepararam para mais um dia de trabalho, na roça ou próximo dela – mas tudo e qualquer coisa terá ligação com a agricultura familiar ou cooperativada.
Dez da manhã. Meninos com baladeiras e bornais a tiracolo saem à espreita da caça. Apenas caça pequena: pássaros, teiús, camaleão, cassacos e as armações das muitas arapucas para pegar sabiás com iscas de melão São Caetano. Elas gostam. Elas caem na arapuca e entram numa gaiola ou são atravessadas pelos espetos e levadas ao fogo.
Mas o diferente é o que chama atenção. Um, dois, três e às vezes até mais galos de campina cantando na formação de uma orquestra inimitável. O macho, com um cantar mavioso; e a fêmea, com um cantar convidativo para o fogo da cópula.
Galo da campina cantando:
Fêmea de Galo de Campina Chamando (Clique aqui para ouvir)
O Galo de Campina é um pássaro silvestre de características brasileiras. Cântico totalmente selvagem. É uma ave arisca que dificilmente se permite capturar. Quem o tem preso em gaiolas, na maioria das vezes, capturou filhote, ainda no ninho e sem ter começado a voar.
É uma das poucas aves brasileiras que tem a fêmea também cantando. É um cântico sedutor, chamativo para a cópula da reprodução.
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Teiú ou tejo – a caça como alimento
Teiú: dificuldade de reprodução
A seca nordestina é algo avassalador. A seca não é apenas a ausência das chuvas para a lavoura que produz alimentos – batata, milho, feijão, arroz, mandioca. A seca nordestina é também a ausência de tudo.
Pequenos animais que acabam se transformando em caças e de uma forma ou de outra acabam indo para as mesas como alimento de muitas famílias.
Tatus, iguanas, teiús, rolinhas, cassacos (mucuras), porco do mato, jacarés e uma infinidade de animais silvestres, alguns em direção à extinção – o teiú (também conhecido como “tejo” no interior do Ceará) é de difícil reprodução. O predador natural gosta de comer os filhotes.
Solto, o teiú não é um lagarto fácil de ser apanhado – o caçador precisa estar acompanhando de um bom cachorro, que é a única forma de pegá-lo.
OBS.: O homem do interior não pega caça por maldade para comer. Pega por extrema necessidade alimentar.