Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Do Jumento ao Parlamento sábado, 24 de dezembro de 2016

NA CASERNA - NO 12º REGIMENTO DE INFANTARIA

NA CASERNA

NO 12° REGIMENTO DE INFANTARIA

Raimundo Floriano

 

12º Regimento de Infantaria: vista aérea

 

Apresentei-me no 12º RI, o Doze de Ouro, no dia 31 de janeiro de 1958. O quartel é uma das mais belas vistas de Belo Horizonte, incrustado no alto de um morro, na confluência das ruas Brito Melo e Timbiras, no bairro Barro Preto.

 

Para mim, nordestino e sertanejo, a vida naquela capital configurava um verdadeiro glamour. Bons cinemas, alguns exigindo dos homens paletó e gravata na entrada; namoro na praça Raul Soares; caol – prato composto de carne, arroz, ovos e linguiça – na lanchonete anexa ao Cine Candelária; quermesses na paróquia de São Sebastião; desfile das mocinhas casadoiras na avenida Afonso Pena, nas imediações do Pirulito; bailes na sede social do Cruzeiro; o dancing Montanhês, onde os minutos dançados eram marcados num cartão, picotado pelos chefes de pista; a gafieira Elite, cujo ingresso valia para toda a noite.

 

Havia algo mais que sobremaneira me fascinava: as lutas livres, aos sábados, no Ginásio Paissandu. Eu acreditava, piamente, que toda aquela encenação era verdadeira e muito sofria quando algum dos meus lutadores preferidos era trapaceado ou levava a pior num combate.

 

Dentre todos os contendores, alguns me ficaram na memória. O deputado Waldomiro Lobo, homem caridoso, que mantinha uma fundação de assistência a carentes da periferia, enfrentava Renato, o Galã da Televisão, que, ao levar uma queda, se levantava, tirava um pente do bolso e compunha a cabeleira. O massagista do Atlético Mineiro e da Seleção Brasileira Knock-Out Jack encarava o Valdemar Sujeira. Era lindo quando do Knock-Out Jack voava com as pernas estiradas para a frente, aplicava uma “tesoura” no pescoço do Valdemar e o lançava para fora do ringue. O confronto mais renhido, o que mais me empolgava, era o travado entre o grego Kostolias e o Máscara Negra, o único que não deixava suas feições à mostra.

 

Kostolias era um cara decente, do bem, lutava de acordo com as normas e recomendações do juiz. Já o Máscara era um sujeito ruim, dava chutes no baixo ventre, atacava sem a permissão do árbitro, agredia os pipoqueiros e fotógrafos, fazendo com que a plateia o odiasse. Em todas as noitadas, devido a um golpe desleal, Kostolias, que já era considerado o vencedor, acabava cedendo a vitória para o brutamontes.

 

De uma feita, porém, o juiz conseguiu manter o respeito às regras pré-estabelecidas até o fim, e não deu outra. Kostolias acabou com o Máscara Negra, que teve de ser carregado na padiola, com a assistência de médicos e enfermeiros. Da arquibancada, rugíamos de contentamento. Na segunda-feira, a notícia nos jornais e na TV: Máscara Negra, mesmo todo quebrado, exigia uma revanche, que seria realizada no sábado. Era o assunto da cidade.

 

Eu, particularmente, vibrava com a notícia. Queria ver o Kostolias arrasar de uma vez por todas com aquele mascarado. Torcia para que o dia da peleja final chegasse rapidamente. Mas, na sexta-feira, um transtorno: fui escalado para o serviço de guarda ao quartel no sábado. Para consolo meu, uma novidade: inexplicavelmente, Máscara Negra anunciou que não lutaria naquele fim de semana. Felizmente!

 

No sábado, estava eu cumprindo meu dever de militar. Após as 22h, no Corpo da Guarda, fui abordado por um colega, o sargento Zanandres, também de serviço, que esperava seu turno de fazer a ronda. O Zanandres era daquele tipo parrudo, grandalhão, risonho, que conquista a amizade de qualquer um à primeira vista. Foi direto ao assunto que mais me empolgava:

 

– Floriano, você gosta muito de luta livre, não gosta?

– Rapaz, eu não perco uma! – respondi.

– Eu o vejo sempre lá no Ginásio Paissandu. Você torce com muita paixão!

– Engraçado – estranhei –, nunca vi você lá. Da próxima vez, poderemos ir juntos. Quero ver se o Máscara Negra sai do hospital, se tem coragem para se balançar pro lado do Kostolias.

– Floriano, você tem muita raiva do Máscara Negra?

– Demais! Passei toda a semana sonhando com a revanche e levei um baita susto quando vi meu nome na escala de serviço para hoje. A estas horas, já deve estar acontecendo o combate principal. Ainda bem que o bandido me fez o favor de não aparecer por lá!

– Nem poderia! – assegurou o amigo Zanandres.

– Por quê? – indaguei curioso.

– Porque o Máscara Negra sou eu!

 

            A seguir, a Canção do 12º RI/12º BI, de Carlos de Oliveira Campos, com a Banda de Música do 12º Batalhão de Infantaria:

 


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