Rogério Caetano encontrou Marco Pereira pela primeira vez durante um curso de verão da Escola de Música de Brasília (EMB). Era 1997 e o violonista de sete cordas aproveitou para fazer aula com o mestre do violão. Marco, que hoje é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ajudou a criar o curso de violão clássico da Universidade de Brasília (UnB) e já era conhecido como uma das estrelas do Free Jazz Festival e por parcerias com nomes como Wagner Tiso e Edu Lobo. Na época do curso de verão, era um dos nomes mais requisitados por alunos. Quando as aulas acabavam, Rogério se juntava ao professor em uma roda de música com outros participantes do curso. O encontro era conhecido como Folia das cinco, porque ocorria sempre às 17h, e acabou por dar nome ao disco que a dupla acaba de lançar.
A gravação com Zélia — que comanda os vocais em Cidade lagoa (de Sebastião Fonseca e Cícero Nunes) e Amigo é casa (de Capiba e Hermínio Bello de Carvalho) — já estava pronta, assim como a faixa título, Folia das cinco, e Obrigado Rapha! e Valsa para Rosa. "As outras todas são inéditas", explica Rogério. "Esse disco mostra, com muita clareza, nossa amizade e nossa afinidade musical e, principalmente, a conversa, o bate bola entre o violão de sete cordas com cordas de aço e o violão de seis cordas, de nylon, do Marco", explica Rogério.
O diálogo entre os dois instrumentos é um dos pontos altos do disco, assim como o improviso, que faz parte da dinâmica e da intimidade entre os dois músicos. "Essa combinação entre o nylon e o aço é muito interessante. Eu nunca havia pensado no resultado dessa combinação, que esses dois instrumentos pudessem dialogar tão bem", conta Marco. "Acho que o principal no diálogo musical que se estabelece entre o Rogério e eu é nossa afinidade musical, nossa busca, o que a gente entende como sendo o melhor da expressão musical brasileira."
Outro aspecto importante de Folia das cinco é a presença constante do improviso. A dupla toma emprestado do jazz o formato de apresentação de um tema seguido do desenvolvimento por meio da improvisação. É aí que a amizade entre os dois fica clara: é preciso conhecer a abordagem musical e confiar no outro para que o diálogo resulte em ritmo e harmonia. "É uma conversa mesmo, um bate papo entre solistas e acompanhantes. A improvisação comporta muita criatividade, a gente toca de maneira muito solta e intuitiva, muito orgânica, com muita intimidade", avisa Rogério. "O improviso faz parte do desenvolvimento dos temas que a gente aborda. Existe o arranjo estipulado para o tema escolhido, normalmente baseado numa das composições do Rogério ou minha, e o improviso entra como desenvolvimento, a gente fica livre para criar alguma coisa que o momento musical oferece e pede", completa Marco