É um documentário sobre coisas bizarras do mundo inteiro, e o primeiro “blockbuster”, palavra de origem inglesa, que indica um filme (ou outra expressão artística) produzido de forma exímia, sendo popular para muitas pessoas .do gênero na História. A partir de então, surgiram outros documentários chocantes mostrando coisas absurdas.
O cineasta Marcos Jorge, autor de Mundo Cão, traduziu a epígrafe desse documentário :
“As cenas que vocês vão ver são verdadeiras e filmadas sem truques. Se, às vezes, serão amargas, é porque muitas coisas são amargas nesta terra. O dever do cronista não é adocicar a realidade, mas descrevê-la objetivamente”.
Os temas de “Mundo Cão” são difíceis de digerir. A trama se passa quando ainda ocorria o extermínio de animais sadios no âmbito do município de São Paulo. “Santana é um funcionário do Departamento de Combate às Zoonoses e trabalha recolhendo cachorros perigosos das ruas. Com uma mulher evangélica e dois filhos, leva uma rotina tranquila, até que seu caminho se cruza com o de um rottweiler. Ele terá que se ver com o dono do cão, Nenê, envolvido com atos ilícitos”.
O conflito principal surge da impossibilidade do diálogo. “Os dois homens se encontram, um deles já está furioso, e o outro fica nervoso também. Eles trocam palavras, mas nenhum tenta entender o ponto de vista do outro. Tudo nasce disso, do diálogo que não se estabeleceu entre o Santana e o Nenê.”
Apesar de antigo, o documentário “Mundo Cão” reflete o momento atual do País, em que as pessoas estão “homologando” em vez de dialogar. Uma vez estabelecido o diálogo, você deixa de considerar o outro como um objeto, alguém sem importância. Ele assume subjetividade e personalidade. Dialogar faz com que você se aproxime do outro ser humano.
Pois bem. O Império Etíope, também conhecido como Abissínia, se enquadra muito bem nesse “Mundo Cão”. Ocupou os territórios da Etiópia e da Eritreia, existindo aproximadamente de 1270 (início da dinastia salomônica) até 1974, quando a monarquia foi deposta por um golpe de estado. Foi, na sua época, o mais antigo estado do mundo, e, além da Libéria, o único cuja independência resistiu com sucesso à Partilha da África pelas potências coloniais do século XIX.
Os Massais são um grupo étnico de seminômades, que vive no Quênia e no norte da Tanzânia. Devido aos seus costumes distintos e residência próxima aos parques de caça da África oriental, eles se situam entre os grupos étnicos africanos mais bem conhecidos internacionalmente. Famosos como pastores e guerreiros, preservam seus costumes e tradições culturais. A vida deles gira em torno do gado, como comprova a base de sua alimentação, leite com sangue.
É uma sociedade patriarcal em que o homem pode ter quantas mulheres conseguir sustentar. Suas vidas são marcadas pela passagem de diversos rituais, sendo o mais importante o da circuncisão, quando o garoto passa a ser considerado um homem. As meninas também vivenciam um ritual semelhante, em que seu clitóris é “retirado”, para serem consideradas mulheres.
Na tribo abissínia dos “massais”, o filósofo Ludwig encontrou um estranho costume: Durante as festividades, os chefes guerreiros fazem introduzir um boi vivo na sala do banquete, para carneá-lo, poupando-lhe as artérias e deixando-o esvair-se em sangue, sob os olhos estarrecidos dos convidados. Parece cena do “Mundo Cão”.
A descrição desta cena nos faz refletir se será mais cruel devorar uma nação viva, ou um animal que entra para o matadouro inconsciente do que o espera.
O Brasil, como nação livre e capaz de determinar-se por si mesma, está sendo tratado à semelhança do boi abissínio.
Condotiero (em italiano: Condottiere) é um chefe mercenário que controla uma milícia, sobre a qual tem comando ilimitado, e estabelece contratos com qualquer Estado interessado em seus serviços. Enquanto se julgam delfins e herdeiros, os chefes supremos estão carneando vivo o regime e só poupando as artérias para que estas, imprensa, parlamento e garantias constitucionais, deem ao povo a ilusão de que está viva a soberania nacional, quando, na verdade, ela morreu com a própria arma que lhe deram para defender-se.