Era uma luta de Mike Tyson no auge contra Anderson Silva já veterano. Se um soco de Mike Tyson achasse Anderson, a vaca afundaria de imediato no brejo. E esse soco não demorou 50 segundos. Antes do primeiro minuto, o Spider tricolor já beijou a lona. Corajoso, Anderson-Flu se levantou, brigou, passou boa parte do primeiro tempo dançando em volta do favorito, tentando encaixar seus golpes até que... pum... Mike Cityson encontrou outra brecha na guarda.
Esse segundo soco foi uma aula de Manchester City. A troca infinita de passes entre os jogadores inicialmente posicionados que se movem no tal último terço — até que um dos movimentos faz André hesitar por um segundo. A mísera dúvida permite que Foden se descole nas suas costas. Rodri, o volante-CEO, imediatamente encontra a fresta. A bola desvia em Nino — e babau.
A jornada do Flu foi bela e improvável. O tricolor venceu uma Libertadores memorável, sofreu com os egípcios do Al Ahly e se credenciou para o sonho impossível. E o despertador chegou firme, precoce e e estridente. O Flu caiu de pé — como o Fla de Jorge Jesus, em 2019, e o Palmeiras de Abel, em 2012. Competiu, jogou seu futebol, correu riscos diante da pressão alta e quase incessante do City. A diferença é que não conseguiu estender o sonho. Fla e Palmeiras foram até a prorrogação. Mas talvez a derrota inapelável doa menos.
Não houve troféu de-igual-para-igual, porque 4 a 0 carimba qualquer testa. Mas ficam os “15 minutos fantásticos” citados por Guardiola — em que o Flu-Diniz teve a bola e criou dificuldade para o melhor time do mundo. É o consolo possível — meramente competir em alto nível contra o City por algum tempo. São times de galáxias diferentes. Nos últimos cinco anos, a máquina azul-clara disputa com o Real Madrid a coroa futebolística. O Fluminense acabou de botar o rosto no mundo outra vez.
E olha que alguns jogadores do Flu tiveram ótimas atuações. Felipe Melo jogou muito. Jhon Arias foi espetacular. John Kennedy entrou bem. Mas contra esse City extra-dimensional, é pouco. Como atacar um time intenso que tem talento de sobra na frente, cavalos fortes e rápidos atrás (Aké, Stones, Dias, Walker), se posiciona quase sempre com perfeição aproximando linhas e se puder fica com a bola para sempre?
O Fluminense tentou. E amargou um placar talvez elástico demais, mas que retrata o abismo entre Europa e o resto do mundo da bola. Não há talento ou rapidez que faça um peso-galo veterano derrubar um peso pesado no auge. O nocaute técnico é quase uma boa notícia. Gentilmente, o juiz evitou acréscimos. Não havia nada mais a ver ou dizer.