07 de fevereiro de 2022 | 05h00
Desde 2015, os torcedores do Palmeiras acostumaram-se a comemorar títulos em sequência. As taças são celebradas especialmente nos arredores do Allianz Parque, mas há inúmeros palmeirenses espalhados pelo mundo. O clube conta com 142 consulados distribuídos no Brasil e outros 22 no exterior. Um dos últimos criados é o de Dubai, o emirado mais populoso e cosmopolita dos Emirados Árabes Unidos que fica próximo a Abu Dabi, a capital do pequeno país do Golfo Pérsico que recebe o Mundial de Clubes neste ano.
Os consulados do Palmeiras são grupos de associados que representam o time em cidades do Estado de São Paulo, do Brasil e do mundo. Essas comunidades de torcedores se reúnem para assistir aos jogos, organizam encontros e promovem ações de responsabilidade social. Cabe ao cônsul a tarefa de fazer a ponte entre os palmeirenses da sua região e a equipe. O Departamento de Interior do clube tem de aprovar a fundação de cada consulado. "O intuito é atrair os torcedores de cada cidade e trazer o conhecimento do clube no estrangeiro", explica Glauco Iervolino, cônsul de Dubai.
Glauco, 36 anos, formou o consulado de Dubai no início de 2021, empolgado pelo bi da Libertadores. Foi a maneira que encontrou de matar a saudade do time. "Sinto falta de assistir a um jogo com meu pai. Morava perto do Palestra. Ia sempre a pé", conta. Ele não imaginava que o Palmeiras jogaria o Mundial em Abu Dabi, distante 150 km de sua cidade. Tentou ver a equipe no Catar, mas o país não permitiu a entrada de estrangeiros em fevereiro do ano passado em razão do recrudescimento da pandemia.
Foi difícil conter a ansiedade quando a Fifa anunciou que o torneio seria disputado perto de sua casa. Isso ainda em um momento em que não sabia se o Palmeiras seria o representante sul-americano na competição mais uma vez, já que a decisão com o Flamengo ainda não havia ocorrido.
"Nem acredito que terei, enfim, essa oportunidade, e justamente no jardim da minha casa", comemora o torcedor. Ele, desde que o Palmeiras confirmou presença no torneio, planejou "ideias mirabolantes" para amealhar palmeirenses nos Emirados Árabes. Uma das iniciativas é o Palmeiras Day, evento de boas-vindas à torcida marcado para segunda-feira, véspera da estreia da equipe no Mundial. A recepção será no mesmo bar em que assistiu ao seu time ser tricampeão continental. A festa começa às 18h (horário local), terá atrações típicas do país árabe, como dança do ventre, e espera reunir cerca de 200 palmeirenses.
No geral, o maior desafio para assistir às partidas no exterior é o fuso horário. A prorrogação da final da Libertadores, por exemplo, ele teve de ver no mudo porque já era madrugada em Dubai e o dono do bar queria fechar o estabelecimento.
Paulistano do bairro de Perdizes, Glauco vive em Dubai há 13 anos. Aproveitou a experiência na cidade do Oriente Médio para dar dicas aos palmeirenses que vêm acompanhar o time do outro lado do mundo. O gerente comercial teve a ajuda do casal de amigos Jéssica e Paulo para elaborar publicações nas redes sociais com informações relevantes sobre as normas nos Emirados Árabes, a cultura local e outras indicações. "A nossa ideia é fortalecer esse laço agora com um monte de palmeirense aqui", observa Jéssica.
"Várias pessoas já entraram em contato que já moram aqui. Não só as que vão vir pra cá", afirma Paulo Fuganti. O catarinense de Joinville foi transferido para Dubai pela empresa de exportação de carne animal em que trabalha e trouxe a mulher, a paulista de Araraquara Jéssica Cardili. O tradicional futebol entre amigos também faz parte da cultura árabe. E foi por meio este meio que Paulo e Glauco se conheceram. "Os dois são malucos pelo palmeiras. E o match deu muito certo. Tem muito estrangeiro que mora aqui. É difícil às vezes ter abertura porque as pessoas são fechadas", comenta Jéssica. Eles esperam ao menos 5 mil palmeirenses nos Emirados Árabes para o Mundial.
Fora do Brasil, o país com mais consulados do Palmeiras são os Estados Unidos, com 11. Em Columbus, capital do estado de Ohio mora Ricardo Augusto Gonçalves. O analista financeiro de 52 anos é apaixonado pelo Palmeiras e tornou-se cônsul no exterior a fim de atenuar a saudade do time, que mata como dá. "Estive presente na Florida Cup em janeiro de 2020. Nas férias ou quando tenho que ir a São Paulo, os jogos são sempre prioridades", relata o torcedor. Internacionalizar o nome do Palmeiras é um dos objetivos desses grupos de associados palmeirenses pelo mundo. E os projetos sociais voluntários também são importantes para a imagem do clube. "Aqui arrecadamos alimentos em nome do consulado para distribuir às pessoas carentes".
Para ver o Palmeiras no Mundial, Ricardo se juntará a amigos do consulado de Chicago, que reunirá 60 palmeirenses. "A turma é grande. A bagunça é maior lá", resume. A estreia do time está agendada para as 20h30 no horário local. Nos EUA, a partida começa às 11h30.
A engenheira ambiental Giovanna Abel, 29 anos, deixou São Paulo para ir viver com o marido na Suíça em 2019. Sócia do Palmeiras e acostumada a frequentar o clube e o Allianz Parque, foi convidada por diretores a abrir um consulado em Genebra, onde morou antes de se mudar para Basel. “O trabalho é expandir para o mundo a marca Palmeiras”, afirma ela. Na Europa, também há consulados palmeirenses na Inglaterra, Irlanda, Itália e Portugal.
As restrições sanitárias impostas pela pandemia atrapalharam o plano de Giovanna de organizar eventos e reunir palmeirenses em Basel, cidade com uma forte cultura futebolística. Por isso, ela viu sozinha as últimas conquistas da equipe. “É triste ver as partidas sozinha, mas não posso reclamar porque ganhamos quatro títulos. Podem vir mais dez títulos que eu aguento”, brinca.