Alexandre Garcia
De repente, um único homem decide que estão anulados todos os processos por corrupção do ex-presidente Lula, porque estavam na vara errada. Vale dizer, anuladas as condenações que haviam passado pelo tribunal revisor, o da Quarta Região, em Porto Alegre.
O PT deve estar exultando, porque já não precisa repetir o candidato que chamavam de poste. Agora o próprio Lula deixou de ser inelegível e já pode disputar a eleição presidencial do ano que vem, se ele quiser. A esquerda pode continuar fracionada, com Ciro e Boulos, ou juntar-se a Lula, criando uma frente para evitar a reeleição de Bolsonaro.
De certa forma, Fachin cria uma hora da verdade para Lula. Ele deixa de ser o impedido, o condenado, a vítima, para ser o beneficiado por um ministro escolhido por Dilma, ex-advogado do MST; suscita mais debate sobre o uso da Petrobras, já que o assunto se atualizou, mas, além de tudo, terá que enfrentar Bolsonaro, que já ocupou o lugar que era dele, Lula – uma espécie de esperança do povo, e que o povo chama de mito. Lula parece não ter como recusar o desafio que Fachin lhe joga no colo.
A nota de Fachin ainda carece de muitas explicações, sobre como julgou. Certamente não foi com provas ilícitas de escutas criminosas. Fico me perguntando se a 13ª Vara não era a apropriada, porque tudo continuou? Por que Lula foi preso? A Lava-Jato, símbolo da reação do país contra uma gigantesca corrupção institucionalizada, foi sendo desmontada e agora parece ter recebido o tiro de misericórdia.
Outros personagens da corrida presidencial devem estar desolados, como Sérgio Moro e João Doria. Mas sobretudo fico perguntando, curioso, sobre o que pensa a cidadão comum sobre isso, quando a decisão de um homem no Supremo se junta ao auge de uma pandemia que tira vidas, emprego e renda.