A tradicional Festa do Morango está de volta. Em 2020, devido à covid-19, o evento aconteceu no modelo remoto. Mas este ano, com algumas modificações na programação, como a retirada dos shows, o uso obrigatório de máscara e controle do número de visitantes na Morangolândia, a organização do evento garante uma edição segura e presencial.
Somente na região do Distrito Federal, de acordo com dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), existem 226 produtores e cerca de 150 hectares de área produzida. Por ano, o mercado movimenta aproximadamente R$ 50 milhões. Ao todo, 90% da produção é para o consumo local.
Uma das agricultoras que aguarda ansiosa pelo começo da festa é Noilde Maria de Jesus, 52 anos. Há uma década trabalhando com o plantio da fruta, ela conta que, no começo, enfrentou dificuldades. “Eu era separada e mãe de nove filhos. Algumas pessoas não acreditavam no que eu poderia fazer”, conta.
Noilde não desistiu. “Antes de começar a produzir meus morangos, trabalhava com outros chacareiros, porque não tinha condições de mexer na minha própria terra. Mas quando consegui uma oportunidade, fui atrás e não desisti do que queria. Hoje, inclusive, ajudo outras mulheres, porque a gente vê, muitas vezes, o próprio marido duvidando da capacidade da esposa”, relata. Atualmente, quatro filhos da Noilde ajudam nas tarefas da chácara. “Meu foco, agora, é conseguir produzir minhas próprias mudas, principalmente porque o preço delas está muito caro”, destaca.
O presidente da Associação Rural e Cultural Alexandre Gusmão (Arcag), Shoji Saiki, um dos responsáveis pelo evento, explica que a festa “é realizada no auge da produção, ou
seja, ajuda a escoar o produto, para que não haja perdas do material. Foi um desafio organizar a festa esse ano, devido à incerteza, por causa da pandemia. Mas, mesmo com o público reduzido, esperamos receber entre cinco e oito mil visitantes por dia”, afirma.
Legado
Adriana Nascimento, gerente de desenvolvimento Agropecuário da Emater-DF, explica que a grande procura dos consumidores é pela fruta in natura. “Geleias e morangos congelados costumam ser destinados para um público específico de lanchonetes e restaurantes, por exemplo. E, para ajudar os produtores, a gente atua desde o plantio até a colheita. Fornecemos o trabalho do agrônomo, auxiliamos no processo de produção, disponibilizamos nutricionista e economista domésticas e auxílio na pós-colheita e comercialização. Ou seja, em toda a cadeia estamos presentes”, frisa.
O produtor Francisco Santos de Sousa, 54, planta morango há 13 anos. Hoje, Francisco tem a marca Família S Morango. O produtor participa da feira há quatro edições e garante que o morango foi uma alternativa para melhorar a renda. Como forma de driblar as dificuldades, Francisco fechou parcerias com mercados brasilienses. “Vendemos para alguns estabelecimentos há uns cinco anos, isso ajuda muito”, relata.
Na família de Vanilda Clebia de Oliveira, 54, o morango também é uma tradição. “Eu trabalho com a fruta há mais de 10 anos, mas meu pai começou muito antes. Muita gente da família se dedica a produção”, diz. “Estou animada com a edição deste ano, nunca vi a Morangolândia tão bonita. Ela está um encanto, todos estão muito bem empenhados”, acrescenta.
Atrações
Além da feira, o evento terá um concurso de morangos, em 10 de setembro. A comissão julgadora receberá as variedades da fruta em caixas fechadas e sem identificação visível do produtor. O jurado avaliará itens como coloração e firmeza. O resultado será divulgado no mesmo dia e a premiação entregue em um evento de confraternização no fim do ano.
Além disso, terá concurso culinário com sete grupos inscritos, no total de 14 pessoas. Os pratos serão feitos na cozinha da Universidade Católica de Brasília (UCB), de Taguatinga. A disputa começa hoje e terá a final neste domingo. Esta será a 16ª edição do Concurso de Receitas com Morango. Desde a primeira disputa, foram apresentados diversos pratos como mousses, pudins, tortas, pavês, bolos e até pratos salgados.
O evento também terá o Colha e Pague. O visitante que se inscrever, irá até uma propriedade para colher morangos que podem ser consumidos na hora ou levados para casa. A atração estará disponível nos dias 5 e 11. As inscrições serão antecipadas no link da Emater, que será divulgado hoje. Os grupos serão formados com aproximadamente 10 pessoas.
Benefícios
A nutricionista Jaqueline Venâncio lista os benefícios do morango para a saúde. “É uma fruta rica em vitamina C, tem bastante água, muita fibra e pouca fonte de carboidrato. Para as dietas low carb (pouco carboidrato), que estão muito famosas por agora, o morango é uma boa alternativa. Além disso, ele ajuda no funcionamento do intestino e na pele, ajudando, inclusive, a impedir aquelas rugas mais finas”, explica.
Jaqueline destaca ainda que “a parte vermelhinha da fruta é rica em antioxidante, o que impede os radicais livres e previne de rugas a alguns tipos de câncer. Esses radicais ajudam, inclusive, na imunidade”. A nutricionista esclarece que o período de colheita é o melhor momento para comprar e consumir a fruta. “Como estamos na época do morango, ele terá menos agrotóxico e será mais rico em benefícios, pois não é necessário forçar a produção da planta. De qualquer forma, é necessário sempre lavar a fruta, deixando ela de molho em uma colherzinha de chá de água sanitária e um litro de água filtrada”, frisa.
Selo de qualidade
Um dos atuais desafios da Emater para a produção de morangos do DF é entregar o selo de Boas Práticas Agrícolas (BPA). Para isso, a região precisa apresentar determinadas características que sejam duradouras e repetidas por todos os produtores, ou seja, todos os morangos com a mesma qualidade. A partir daí há a geração de um selo, para que atinjam o nível de qualidade e recebam o selo de indicação geográfica, para que o morango seja conhecido como o morango
de Brazlândia. Em 2022, o objetivo é entregar o selo aos primeiros produtores.