A cada dia vou ficando menos novo (adoro desse eufemismo: a gente disfarça a ideia de estar ficando mais velho) e aprendendo o que vale e o que não vale a pena. Antes, brigava por qualquer bobagem, não levava desaforo para casa. Uma ‘fechada’ no trânsito era suficiente para expulsar meu bom humor e jogar ao léu impropérios desnecessários. Hoje, quase todo desaforo eu engulo, faço de conta que não ouço ou vejo, me faço de besta, me benzo, molho o bucho por dentro com uma cerva bem gelada e sigo a vida. Para que complicar se a vida já é tão complicada? Ato consciente que se reforça quando espio no espelho e vejo meus cabelos brancos, devido à brincadeira de mau gosto do senhor Tempo com as tintas dos anos e os pincéis da vida. Até poucos anos eu dizia tudo o que me vinha na boca. De uns tempos para cá, quem se senta ao meu lado jamais ouve um desaforo meu. Ao contrário: calo, faço o sinal da cruz em silêncio, e assim benzido, vou em frente, alegre e sorridente, respeitando o tempo e sua pressa. E para não perder o costume, enxáguo o bucho, já molhado por dentro, com outra cerva, mais gelada que a primeira. Que a vida é curta e só vale a pena o que é bom. Vivo e aprendo com os sábios. Desaprendo tudo que não vale a pena.
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