Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sexta, 13 de maio de 2022

MODA! CABELO AFRO RESISTE AO RACISMO ESTÉTICO

Por Pâmela Dias e Jéssica Marques — Rio

 


Renata Varella reforça a importância da rede de apoio entre mulheres negras — Foto: Leo Martins

Renata Varella reforça a importância da rede de apoio entre mulheres negras — Foto: Leo Martins

Black Power, rastafari, com dreads, cacheados, encarapinhados... Os cabelos das mulheres pretas chegam a este 13 de maio — data que marca a abolição da escravidão — livres e como um dos maiores símbolos da negritude ao lado da pele. Protagonista do debate racial desde sempre, ele volta à roda no Brasil de hoje com o resgate da ancestralidade, na ressignificação do conceito de beleza e na denúncia do racismo estético. Na última semana, por exemplo, ao defender seu crespo, uma mulher negra mobilizou o metrô de São Paulo a externar o preconceito sofrido por ela, após uma senhora branca declarar que temia “pegar doença” ao encostar em seu cabelo.

 Não é de agora que o cabelo afro é tachado de “feio”, “sujo” e “duro”. O processo de colonização da África, que se repetiu no Brasil, deixou como herança uma sociedade que reconhece majoritariamente os fios lisos como belo, de acordo com a antropóloga Denise da Costa, professora da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-brasileira. Graças à atuação secular de movimentos negros, que tomaram fôlego entre 1960 e 1970 com o “black is beautiful” (preto é bonito, na tradução), a história de ancestralidade se traduz por números do Google: nos últimos cinco anos, a busca por cabelos cacheados e crespos superou a de lisos em 309%, de acordo com uma pesquisa do Dossiê BrandLab.

 

Transição capilar

 

Não à toa o processo de transição capilar — em que negros deixam de alisar os cabelos para assumir a forma crespa — tem se intensificado. A analista de sistemas, Olívia Raquel, de 23 anos, começou a fazer relaxamento ainda criança, aos 11 anos, por influência da sua mãe branca. Por cinco anos, ela teve os fios lisos para não ouvir comentários de que tinha cabelos “pichaim” ou “duro”.

— Sinto que alisar nunca foi algo que eu realmente queria — diz ela, que deixou a raiz crescer e viu os cachos ressurgirem aos 16 anos.

A modelo gaúcha Tatiani Souza, de 42 anos, hoje assina, artisticamente, “Tati Crespa”. Mas nem sempre foi assim: ela alisou o cabelo por 22 anos. Com o cabelo livre da química há mais de cinco, ela diz que ainda recebe propostas na área da moda para fazer “escova progressiva”. A última oferta foi de R$ 3 mil. Ela recusa e é irredutível, quer que “suas origens sejam respeitadas”.

— Sai Tatiani e entra Tati Crespa. Hoje, quem quiser trabalhar com a minha imagem, vai ter que me aceitar do jeito que sou. Um penteado até vai, mas química nunca mais. Defendo que sou livre para assumir meu cabelo, fazer até uma escova, se eu quiser, mas livre dos preconceitos e imposições — diz. 

O mercado de trabalho, por sinal, é um dos espaços em que a presença do racismo estético é forte. Um estudo publicado na revista “Social Psychological and Personality Science”, em 2020, mostrou que durante entrevistas de emprego, mulheres negras americanas com cabelos crespos eram percebidas como menos profissionais, menos competentes e menos propensas a serem recomendadas para uma vaga do que mulheres negras com cabelos alisados e mulheres brancas com penteados cacheados ou lisos. Uma realidade de preconceito que se parece com a daqui: Cristiane de Almeida, de 51 anos, foi vítima do escárnio de um colega de trabalho quando iniciou a transição capilar, há quatro anos, no Clube das Pretas — salão especializado em cortes e penteados de cabelos crespos e cacheados.

— O processo de transição foi muito difícil. Um colega puxava o meu cabelo e me ridicularizava na frente das pessoas. Eu me senti mal, achei que estava todo mundo olhando para o meu cabelo. E estavam olhando mesmo. Percebi que tais brincadeiras não eram feiras com outras colegas de cabelo liso e brancas — diz Cristiane.

 

Acolhimento

 

Levantando a bandeira do “nós por nós”, uma das criadoras do Clube das Pretas, a professora Renata Varella, de 37 anos, defende que a rede de apoio faz toda a diferença no processo de reconhecimento das madeixas afro.

— A relação da mulher negra com o seu cabelo natural é de anos de sofrimento. É uma busca infinita por achar que nossos cabelos afros são um problema. Mas isso está mudando — diz a professora.

Segundo a antropóloga Denise da Costa, apesar de lento, o aumento da conscientização sobre o racismo no país é notório e pode ter contribuído para que, no caso de racismo no metrô de SP, centenas de passageiros apoiassem a vítima Welica Ribeiro na denúncia contra a húngara Agnes Vajda.


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