16 de novembro de 2019 | 03h00
O presidente Jair Bolsonaro anunciou a sua saída do PSL, partido ao qual se filiou em março de 2018, depois de muitas negociações com outras legendas, para viabilizar a sua candidatura à Presidência da República. Noticia-se que o presidente e ao menos 27 dos 53 deputados da bancada do PSL na Câmara devem ingressar no partido Aliança pelo Brasil, que está em processo de criação.
Do ponto de vista político, não faz sentido o presidente ingressar em uma nova legenda que não dispõe dos mesmos recursos de que dispõe o PSL a tão pouco tempo de uma eleição que os próprios interlocutores mais próximos de Jair Bolsonaro consideram vital para o seu projeto de reeleição em 2022. A mudança é compreensível no caso dos parlamentares, pois a lei eleitoral autoriza a troca de legenda sem perda de mandato fora da chamada janela partidária quando o destino é um novo partido. Já no caso do presidente, o movimento só se explica porque Bolsonaro quer um partido para chamar de seu. Mas a serventia que essa nova legenda, por ora “nanica”, terá na campanha eleitoral do ano que vem é um mistério para o qual só Bolsonaro tem a resposta.
A essa altura já está claro que a motivação para a saída do presidente Jair Bolsonaro do partido que lhe deu guarida na campanha eleitoral de 2018 é puramente financeira. Tem a ver com o controle dos meios de financiamento de seu projeto particular de poder. Não há qualquer divergência ideológica ou programática irreconciliável entre o presidente da República e o presidente do PSL, Luciano Bivar. A rigor, há mais coisas a aproximá-los do que a repeli-los, incluindo a visão que têm da finalidade de um partido político.
Tanto Jair Bolsonaro como Luciano Bivar ganharam, e muito, com a joint venture do ano passado. O PSL de Bivar não era nada antes da filiação do então candidato Bolsonaro e de seu clã. Por sua vez, o presidente da República penou até encontrar uma legenda que o fizesse ter a foto estampada na urna eletrônica.
Na onda de “renovação da política” que se viu no último pleito, o PSL saiu da condição de “nanico” para se tornar um dos maiores partidos com representação no Congresso: 3 senadores e 53 deputados. Nunca entrou tanto dinheiro do Fundo Partidário nos cofres do partido – cerca de R$ 100 milhões neste ano. Para a campanha do ano que vem, o PSL deverá ficar com o segundo maior quinhão do chamado Fundo Eleitoral – cerca de R$ 365 milhões. É esta dinheirama que está no centro da disputa pelo controle do PSL travada entre o dono da legenda, Luciano Bivar, e o presidente Jair Bolsonaro. Ao que parece, Bivar mostrou-se um contendor mais aguerrido do que os bolsonaristas imaginaram.
Tampouco é razoável a criação de mais um partido político no Brasil. Já são 32 legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral. Em torno de 80 aguardam a aprovação de seus registros pela Corte. A chamada Aliança pelo Brasil será mais uma. E, para que se viabilize para a disputa eleitoral do ano que vem, tem de ser criada e registrada até março, o que será um recorde.
A profusão de legendas é reveladora do abastardamento da representação partidária no Brasil. Não há ideologias ou conteúdos programáticos que justifiquem a existência dessa miríade de siglas. Ao indicar a criação da Aliança pelo Brasil, o presidente Jair Bolsonaro se revela o mais novo candidato a cacique no Brasil.