MEU VINTÉM PERDIDO
Cora Coralina
“Que procura você, Aninha?
Que força a fez despedaçar correntes de afeto
e trazê-la de volta às pedras lapidares do passado?
Sozinha, sem medo, vinte e sete anos já passados…
Meu vintém perdido, meu vintém de felicidade.
Capacidade maior de ser eu mesma, minha afirmação constante.
Caminheira, caminhando sempre.
Nos meus pés pequenos,
meus chinelinhos furados.
Tão escura a noite da minha vida…
Indiferentes ou vigilantes.
Tanto tropeço.
Na frente, marcando o caminho a candeia apagada.
Procuro minha escola primária e a sombra da velha mestra,
com seu imenso saber, infinita sabedoria, sua arte de ensinar.
(…)
Quando eu morrer, não morrerei de tudo.
Estarei sempre nas páginas deste livro, criação mais viva
da minha vida interior em parto solitário.”