Tive um fantástico e alegre sonho no Dia do Nordestino: o povo feliz, reunido, dançando na praia, comemorava a Independência do Nordeste. Nas Alagoas a festa varou a noite, continuou por mais 19 dias. Foi armado um palco no coreto da Avenida da Paz, de repente, entrou um animado e colorido pastoril cantando e acenando para o povo. De um lado a coluna do cordão encarnado, com sete pastoras, moças charmosas e bonitas com vestidos de chita, fantasias de saias rodadas. A outra coluna, o cordão azul, mais sete meninas, louras, morenas, mulatas, todas acenavam para o povo seus pequenos pandeiros fantasiados de fitas. Entre as duas colunas, entre os dois cordões dançava a única Diana vestida de minissaia de chita. Todas sorriam, era Festa da Independência. “Boa noite meus senhores todos… Boa noite senhoras também… Somos pastoras, pastorinhas belas… Que alegremente vamos a Belém…”
A festa continuou revezando no palco, dia e noite, exuberantes grupos da cultura popular: Guerreiro da Viçosa, com suas fantasias coloridas e chapéu cheio de espelhos. Eles cantavam: “Guerreiro cheguei agora… Nossa Senhora é nossa defesa…” Dançaram fandangos, bumba meu boi, coco de roda, baiana, caboclinho, reisado, nega da costa, chegança e outras danças populares nordestinas. No início da Avenida da Paz acontecia um agitado e divertido desfile de carnaval. A orquestra do maestro Passinha tocou dia e noite. A moçada se esbaldava se empolgava com frevos e marchinhas, ia ao delírio quando arrochava o frevo Vassourinhas. O dia foi despertando, a orquestra desceu à praia. De repente os foliões entraram na água cristalina naquela luminosa manhã. A cor do mar era escandalosamente de um azul-esverdeado, dourada pelo sol da madrugada. Os mergulhos lavaram as roupas, as fantasias, e as almas do povo. A música continuou, o povo dançou e cantou. A Festa da Independência durou vinte dias. Estendeu-se por todas as praias da cidade. O povo dançou na praia de Pajuçara, onde o mar beija as areias, com mais alma e mais amor. A Ponta Verde fervia nos arredores do acarajé do Alagoinha com três bandas e quatro trios elétricos. Na Jatiúca o povo gritava cheio de esperanças por dias melhores. No litoral norte a festa continuou, na praia de Ipioca foi organizado um corso de jangada, todas enfeitadas, fantasiadas de azul e verde, as cores da nova República Nordestina. De repente apareceu Elba Ramalho cantando a música de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova:
“Já que existe no Sul esse preconceito
Que o Nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-lo de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos os dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
Da que a gente até hoje tem vivido
Imagine que o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente”
O patrono da nação nordestina foi escolhido por unanimidade, Luiz Gonzaga. No sonho continuavam lindos e eróticos movimentos de Elba se rebolando e cantando:
“O Nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco-da-roça era o suplente
Cantador-de-viola o presidente
E o vaqueiro era o líder do partido
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente”
No sonho aparecia toda pujança e a beleza de nossa cultura. Nossos bravos homens e mulheres escreveram a Constituição Nordestina:
Artigo Primeiro: Todos são iguais perante a lei e perante todos.
Artigo Segundo: O amor é considerado utilidade pública.
Artigo Terceiro: A esperança será marcada por uma faixa verde na bandeira para ninguém perdê-la ou esquecê-la.
Artigo Quarto: O medo é abolido de todos os corações.
Artigo Quinto: Todos têm direito à saúde, educação, moradia, emprego, arte, cultura, felicidade e sexo.
Artigo Sexto: A desonestidade, a mentira e a hipocrisia são banidas do país para sempre.
Artigo Sétimo: São inimputáveis: os índios, os menores, os bêbados e as putas.
Foi decretado que a fraternidade, a igualdade e a honestidade constituiriam a base da Nova Nação Nordestina. Os homens de bem foram conclamados a voltar de onde estivessem, onde terão fartura e paz. E finalmente o povo era obrigado a ser feliz. E Elba continuava cantando:
“A bandeira de renda cearense
Asa Branca era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente”
Foi quando alguém aumentou o volume da televisão e me acordei com o Jornal Nacional. Pô!!!
Obs – Agradeço a Ivanildo Villanova e Bráulio Tavares o uso de sua poesia.