No campo das escritas, gosto do pouco: escrever pouco. Por isso escrevo crônicas, pequenas. De vez em quando, faço versos, também pequenos que, de quando em vez, se transformam em canções. Assim, restrinjo a possibilidade do erro. Gosto, também, de fazer histórias infantis que, por assim serem, dispensam maior extensão, são sempre curtas. Em se tratando de textos mais longos, prefiro lê-los. Calma e preguiçosamente. Mas, ainda assim, estou começando a escrever um romance, um pequeno romance, não mais que 160 páginas, para não fugir à regra, contando a história de Bastião do Jesus Bom, um deficiente mental, um louco, apaixonado por Tieta, uma quase irmã de caridade (era assim que chamávamos as freiras na minha cidadezinha do interior). Por conta dessa remotíssima possibilidade de a impossibilidade tornar-se possível, Bastião vai-se tornando, inversamente à lógica, cada vez mais lúcido, menos louco, ao contrário de sua Tieta, que se aliena aos poucos até tornar-se tão louca quanto louco era seu pretendente. O livro está escrito até o Capítulo 5, os personagens com seus perfis delineados e até o seu desfecho também está escrito. Falta, apenas, coragem, para retomar o lápis e dar andamento ao projeto. A expectativa é que eu conclua o trabalho em meados de 2040, dentro, portanto, de vinte e dois anos. Tivesse eu a disposição, o talento e a genialidade de Dr. José Paulo, que gastou apenas 10 anos para pensar, escrever e concluir sua obra prima sobre Fernando Pessoa, eu não levaria tanto tempo para conclusão de meu romance. Mas se a preguiça deixar e a saúde permitir, o acesso às bestagens e bobagices de meu romance se dará neste ano 40 que está por vir, daqui a 5 copas do mundo.