O meu nome me faz viver certas situações engraçadas. Outras vezes constrangedoras. Dentre as centenas eu separei uma para contar hoje.
Quando universitário eu fui passar uma semana em Fortaleza participando do ENEAD – Encontro Nacional dos Estudantes de Administração.
Ficamos quase todos alojados num único clube da cidade. Milhares de alunos e ex-alunos, também, do referido curso.
Nossa caravana partiu de Currais Novos o dia ainda estava escuro e chegou ao meio dia na Terra da Virgem dos Lábios de Mel. Uma fila com centenas de estudantes ocupava as calçadas de alguns quarteirões, para o recebimento do crachá de indentificação, mais a pulseira de acesso aos ambientes do encontro. Logo essa fila se tornou quilométrica.
Chegando a minha vez, uma mocinha respondeu ao meu boa-tarde e perguntou para o preenchimento manual do crachá:
– O nome do senhor, por favor?
– Jesus – respondi de pronto.
Ela olhou para mim, baixou a cabeça e repetiu a pergunta.
– O nome do senhor. Por favor.
Voltei a responder “Jesus”.
A mesma pergunta se repetiu a terceira vez, obtendo a mesma resposta. Afinal não havia outra resposta.
Na quarta vez que ela me questionou, sem me olhar nos olhos e balançando negativamente a cabeça, eu já notei certa irritação em sua voz.
A irritação foi demonstrada sem qualquer cerimônia quando, recebendo novamente a minha resposta, ela levantou a cabeça e olhou para mim querendo me fulminar com o olhar.
– Moço, não estou aqui para brincadeiras. Eu sei que o nome do Senhor é Jesus. Leio a Bíblia! ‘Tá? – e apontando com pincel para a fila continuou: – Olhe o tamanho dessa fila. Então. Me diga por favor o nome do senhor. Certo?
A última palavra veio com os dentes quase trincados.
– Moça, sei que a senhora está perguntando o meu nome – falei evidenciando os últimos fonemas – e eu estou lhe dizendo que “o meu nome” é Jesus. Eu me chamo Jesus.
Eu fiz questão de falar soletrando a última frase.
– Ah! Então o senhor se chama Jesus? – perguntou-me com olhos arregalados.
– Sim! É isso que eu estou tentando dizer à senhora. Jesus é o meu nome desde a barriga de mamãe – falei rindo disfarçadamente da confusão feita por ela.
– Entendi. Desculpe-me.
Eu, como um bom Jesus, perdoei-lhe.
Recebi meu crachá.
Daí não sei quantas vezes naquele ENEAD eu tive que responder a pergunta “sério?! Seu nome é Jesus?”
Bom. Era o que estava escrito no crachá.