É difícil, para não dizer impossível, falar de Bussunda sem mencionar o “Casseta & Planeta, urgente!”, lançado em 1992. Da mesma forma, não se pode pensar no “Casseta” sem lembrar que o programa sacudiu a linguagem do humor da televisão e foi feito por uma turma egressa dos bastidores da “TV Pirata”, que, por sua vez, começou essa revolução em 1988. Essa teia diz muito do documentário “Meu amigo Bussunda”, que chegou na última semana ao Globoplay. O diretor-geral é Claudio Manoel (Micael Langer também dirige e é corroteirista). A série documental parte da intimidade para derivar numa história pública. É, por isso, muito autoral e cheia de afeto. E também um retrato geracional (por esse aspecto, lembra um pouco “Os quatro Paralamas”, da Netflix).
O documentário começa com um retrato da juventude de Bussunda. Há depoimentos de amigos — alguns deles famosos, como Debora Bloch e Deborah Colker —, de familiares e da viúva, Angélica Nascimento. Fotos antigas e filmes caseiros ilustram esse período. O apelido gaiato — alusivo ao fato de ele se recusar a tomar banho durante a estada de muitos dias numa colônia de férias — é explicado. Uma moça que se derreteu por ele nessa época fala sobre o charme do amigo. Foi também quando Claudio Manoel o conheceu. Pelo testemunho do irmão Sérgio somos informados de que Bussunda não gostava de estudar. Chegava ao ponto de matar aula de inglês dormindo num banco duro do calçadão de Copacabana, onde a família morava. Marcos, o outro irmão, conta que, angustiados, os pais pediram que ele e Sérgio sustentassem o caçula no futuro “porque ele não daria em nada”. Quando esse prognóstico foi subvertido, Luiz Guilherme Vianna e a psicanalista Helena Besserman Vianna se tornaram os maiores fãs do “Casseta”. Intelectuais, comunistas e avessos ao hábito de assistir à TV, aprenderam a gravar todos os programas em que o filho aparecia.
Para quem não conheceu Bussunda e não viveu aquela época, o documentário tem muito valor também. Ele reflete o espírito de um tempo. Mostra a chegada de um grupo talentoso à maior emissora de TV do país — e o legado dele para os humoristas mais jovens. Vale também para constatar que, não faz tanto tempo, os freios do politicamente correto eram outros. O Brasil saía de um longo e triste período de ditadura militar. Todo mundo queria rir, romper regras e usar roupas coloridas. Fica a impressão de que hoje o mundo encaretou bastante.
Para rir (e derramar lágrimas furtivas), “Meu amigo Bussunda” é simplesmente imperdível.