O adeus: Fim do Metropolitan é mais um duro golpe na tradição musical do Rio
Responsável pela administração do espaço, a produtora Time For Fun não quis confirmar ao GLOBO a informação de que está entregando o espaço alugado no shopping Via Parque, e avisou que enviaria um comunicado — até o fechamento desta edição, às 18h30, não havia chegado. No entanto, notícias que circulavam nos bastidores do meio musical já davam o fechamento como certo.
— Supresa e choque — diz Lulu Santos, ao ser perguntado sobre o que significa, para ele, o fim do espaço onde se apresentou tantas vezes. — É o melhor palco do Rio e a melhor relação palco/plateia por conta da disposição. É triste demais esse esvaziamento.
Responsável pela abertura da casa, inaugurada com um show da cantora Diana Ross, o empresário Ricardo Amaral também se diz “triste” mas não “surpreso” com a notícia.
— O Metropolitan nunca foi o lugar prioritário dos atuais operadores. Soube que, meses atrás, eles se desfizeram da casa de Minas Gerais. A crise gerada pela pandemia, além da programação que tem sido anunciada, me levou a crer que isso aconteceria — diz Amaral, que vendeu o espaço no início dos anos 2000 para a Companhia Interamericana de Entretenimento, do México, por conta da situação econômica do país naquele época. — O dólar passou de R$ 0,80 para R$2, R$3, R$4 reais. Eu não conseguia embutir no ingresso o custo do cachês dos artistas internacionais.
Sob a gestão Amaral, o Metropolitan recebeu o primeiro show dos Três Tenores no Brasil. Stevie Wonder, Santana e Nina Simone (dentro de uma inesquecível capa de veludo vermelho) também passaram por lá. Em 1997, David Bowie, com indumentária indiana e unhas dos pés pintadas de preto, enlouqueceu o público. Lou Reed promoveu uma grande catarse rock’n’roll. A Legião Urbana passou pelo palco, em 1994, na sua última turnê antes da morte de Renato Russo, em 1996.
Já na administração da Time For Fun, aconteceu um dos “shows-missa” do Los Hermanos, com o público cantando o disco “4” do início ao fim, em 2005. No mesmo ano, teve White Stripes.
Amaral tem fresca na memória a apresentação acústica de Gil e Caetano, no fim da década de 1990. Lembra-se do estouro da música baiana, com apresentações lotadas de Banda Eva e Araketu. Conta que conseguiu fazer com que Roberto Carlos trocasse o Canecão pelo Metropolitan.
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A temporada do Rei, aliás, é inesquecível para Liège Monteiro, assessora de imprensa do local à época. Liège lembra que as apresentações do cantor duraram cinco semanas.
— O The Wailers também foi sucesso absoluto. Tiveram que fechar as portas e não parava de chegar gente. Fiz Men at Work, concurso de Miss Brasil, Joe Satriani, Wolf Maya dirigindo Zezé Di Camargo e Luciano...
Para a apresentação do Bolshoi, o Metropolitan teve que interditar a primeira fileira de cadeiras da casa de shows, conta Liège. A produção do prestigiado balé russo fazia questão que todos enxergassem os bailarinos por completo, incluindo as pontas de suas sapatilhas.
A produtora musical Adriana Penna, que passou pela equipe de gravadoras como Sony, Warner e Trama, diz que sua carreira está intrinsecamente ligada ao lugar. Ela acompanhou shows de Djavan, João Bosco, Alanis Morissette, Zeca Pagodinho, entre outros, e destaca os bastidores do programa “Som Brasil”, com João Gilberto.
— João só queria gravar de madrugada. Me pediram para buscá-lo à 1h da manhã. Ele só desceu do apartamento às 4h — conta Adriana, lamentando a notícia para a cidade. — O Rio já tem poucos palcos. E agora? É o fim de uma era.