Mocinha de Passira e Valdir Teles improvisando com o mote:
Meu passado infantil não foi bonito
Mas eu tenho prazer de recordar
* * *
Roxinha da Bahia e José Gustavo em desafio:
Roxinha da Bahia
Senhor Gustavo sou neta
Do Roxinho da Bahia,
Como cantor em seu tempo,
Foi dos melhores que havia,
Faleceu e dele herdei
Dom, agrado e simpatia.
José Gustavo
Ouvi dizer que Roxinho
Foi bom cantador, outrora,
Se sua cova se abrisse
E ele aparecesse agora,
Eu tinha menos receio
Do que cantar com a senhora.
Roxinha da Bahia
Tenha remendo ou não tenha,
Na peleja perca ou ganhe,
Aperte os botões da calça,
Brinque, prose e não se acanhe,
Que eu hoje canto até missa
Se achar quem me acompanhe.
José Gustavo
A senhora hoje faz tudo,
Porque está entre os seus,
Eu me humilho como Jó
O poeta dos hebreus,
Porque só tenho por mim,
Viola, garganta e Deus.
Roxinha da Bahia
Ainda você estando
Dos anjos arrodeado,
São Miguel de espada em punho,
Santo de todos os lado,
Eu dava-lhe um chá de pisa
Que você está precisado.
José Gustavo
Dona Roxinha eu lhe aviso
Quem luta contra o José,
Tem ânsia, dor de barriga,
Fica sem ânimo e fé,
Cai o queixo, entorta a língua,
Perde o nariz, seca o pé.
Roxinha da Bahia
Eu zangada subo pedra
Veloz que só lagartixa,
Pego onça pela cauda,
E tiro o couro da bicha,
Derreto negro no tacho,
Tiro a pele e faço lixa.
José Gustavo
Roxa, tu derrete outro,
Não é um igual a eu,
Porque para derreter-me,
Mulher inda não nasceu,
Se nasceu com esse plano,
Deu-lhe a leseira e morreu.
Roxinha da Bahia
Cantor pra cantar comigo,
Precisa ter teoria,
Conhecer aritmética,
Estudar filosofia,
Discriminar consciente
Gramática e geografia.
José Gustavo
Eu garanto que a senhora
Não analisa gramática,
Que é um livro teórico,
De certeza matemática
Não é pra um burro que apenas
Come capim pela prática.
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Severino da Quixaba
Tem quatro coisas no mundo
Que atormentam um cristão:
Uma casa que goteja,
E um menino chorão,
Uma mulher ciumenta
E um cavalo tanjão.
Mas o cavalo se troca,
A casa, a gente reteia,
O menino se acalanta,
Na mulher se mete a peia.
* * *
Zé da Prata
O bicho que mata o homem
Mora debaixo da saia.
Tem asa que nem morcego,
Esporão que nem arraia,
E uma brecha no meio,
Onde a madeira trabaia.
* * *
Suriel Moisés Ribeiro
O meu verso é água pura
Correndo pelo lajedo
É semente de arvoredo
Brotando na terra dura
É fruta doce madura
No pomar da poesia
É o sopro da ventania
Varrendo a terra escarpada
É noite toda estrelada
E o sol no raiar do dia.