Lionel Messi entra em campo hoje para sua (provável) última partida de Copa do Mundo, em busca da conquista do título mundial pela Argentina. Um dos maiores jogadores de futebol da história — conquistou sete Bolas de Ouro (prêmio de melhor do mundo) — ele não teria uma carreira de sucesso se não tivesse se submetido a um longo tratamento hormonal na juventude. Aos 9 anos, o atleta foi diagnosticado com deficiência do hormônio do crescimento.
Quando descobriu a doença, Messi ficou preocupado em não ter altura suficiente para jogar futebol. No entanto, a baixa estatura não seria o único empecilho para que ele se tornasse jogador, caso não fizesse o tratamento de reposição hormonal, garante a endocrinologista pediátrica Margaret Boguszewsk, vice-presidente do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metodologia (SBEM).
— Sem o tratamento, ele talvez não chegasse a 1,50m. Mas, é preciso considerar também os efeitos metabólicos do hormônio do crescimento. A deficiência deste hormônio afeta a formação de músculos e a queima de gordura, então a tendência de é desenvolver obesidade. Além disso, a massa óssea fica comprometida, aumentando o risco de fraturas. Sem tratamento, seria praticamente impossível um deficiente de hormônio de crescimento se tornar um jogador de futebol ou de qualquer outro esporte.
Os mais baixos da turma
O hormônio do crescimento, conhecido como GH, é produzido no corpo humano pela hipófise, uma glândula que fica na base do cérebro. A deficiência na produção pode ocorrer por condições genéticas — quando a criança nasce sem conseguir “fabricar” a substância em quantidade suficiente — ou pode ser gerado pelo desenvolvimento de algum tumor na cabeça, que comprometa a funcionalidade da hipófise.
Primeiro a criança faz o teste de IGF-1, que funciona como uma triagem pois mede o nível de uma proteína produzida no fígado em resposta ao hormônio de crescimento. Quando a taxa é baixa, a criança é orientada a fazer o exame específico para o GH.
Como o hormônio de crescimento é produzido principalmente à noite, durante o sono profundo, o paciente precisa ficar, em média, duas horas laboratório para conseguir coletar o sangue durante a produção da substância.
— A criança recebe medicações para baixar a pressão e relaxar. Abre-se um acesso na veia e o sangue do paciente é coletado de meia em meia hora. Se na dosagem o hormônio não aparece, é preciso fazer uma contraprova, repetindo o teste — detalha a médica.
Quando os exames não detectam o GH, a criança precisa se submeter a uma ressonância magnética de crânio para se observar se há alguma alteração de estrutura da hipófise. Assim, fecha-se o diagnóstico de deficiência do hormônio do crescimento.
Aplicações diárias
O tratamento com GH é feito através de injeções diárias, aplicadas ao deitar, por via subcutânea nas coxas, braços, nádegas ou abdômen. Segundo relatos, Messi precisou de mais de 2 mil aplicações enquanto se tratou da condição. Hoje ele tem 1,69m.
No Brasil, no entanto, pessoas com o diagnóstico de deficiência de GH podem bucar fazer o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) gratuitamente.
As aplicações devem ser mantidas até que o paciente atinja seu potencial de crescer. Ele é determinado pela radiografia de mão e punho, que aponta se há ou não cartilagem de crescimento.
— Em algum momento da vida, o exame vai apontar que as cartilagens já se calcificaram, ou seja, então o hormônio não tem como agir mais com a finalidade de crescimento. Somos obrigados a parar o tratamento, mesmo que o paciente não esteja satisfeito com sua altura — finaliza.