Renata Okumura, O Estado de S.Paulo
23 Setembro 2017 | 07h47
Atualizado 23 Setembro 2017 | 10h31
SÃO PAULO - Após horas de tranquilidade, novos tiroteios foram ouvidos na madrugada, deste sábado, 23, na Favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro. A Polícia Militar (PMERJ) informou que os tiros foram ouvidos, por volta das 4h30 da manhã, mas não há informações de feridos.
A PMERJ esclarece que os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) receberam a informação via rádio sobre a perseguição do 23ºBPM (Leblon) a um táxi com criminosos armados, vindo pelo túnel Zuzu Angel. O tiroteio teve início depois que um taxista foi rendido por bandidos no Jardim Botânico. O refém foi levado para a comunidade do Horto, onde traficantes tomaram posse do veículo e seguiram em direção à Favela da Rocinha. A PM do Rio de Janeiro informou que os bandidos estavam com fuzis e entraram em confronto com os policiais. Por precaução, o túnel Zuzu Angel, que liga as zonas sul e oeste, ficou interditado, nos dois sentidos, por pelo menos uma hora.
"As equipes do Bope se posicionaram na saída do túnel para realizar o cerco. Houve confronto, os criminosos fugiram e os policiais aprenderam 5 fuzis, 7 granadas, 55 carregadores e 2.055 munições de diversos calibres, além de 110 papelotes de erva seca e 1.045 capsulas de pó. A ocorrência foi encaminhada à 11ªDP", ressaltou a nota.
Por volta das 9 horas deste sábado, policias da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Rocinha, em ação de vasculhamento, também aprenderam cinco artefatos explosivos na localidade conhecida como "Roupa Suja".
No Twitter, a PMERJ registra confronto e armas apreendidas
Neste sábado, as Forças Armadas realizam o segundo dia de ocupação na Favela da Rocinha. Há uma semana, facções rivais iniciaram a disputada pelo controle do tráfico de drogas na favela com tiroteios, mantendo a população apreensiva.
Relembre. Depois de quase uma semana de tiroteios no Rio, as Forças Armadas foram chamadas nesta sexta-feira, 22, para cercar a Rocinha - a mais conhecida comunidade da capital -, diante do reconhecimento de que o Estado perdeu o controle na guerra deflagrada pelo crime. Ao todo, 950 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão mobilizados, além de dezenas de blindados e helicópteros. Mais três batalhões do Exército, que somam quase 3 mil homens, estão prontos, caso a situação se agrave.
A atual onda de intensos tiroteios na Rocinha começou no domingo passado, 17, quando o chefe do tráfico de drogas no morro, Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157, se desentendeu com o seu antecessor, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso desde 2011. No domingo, os tiroteios deixaram um morto.
Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério 157 e teria tentado expulsar o seu grupo da favela, por meio de ordens dadas de dentro da prisão. A relação pode ter piorado depois da união da ADA com a facção paulista PCC. Já Rogério teria matado aliados de seu antecessor e mandado expulsar Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, do morro.
Em represália, Nem teria incitado criminosos da ADA de outros morros, como Vila Vintém, Morro dos Macacos e São Carlos a tentar retomar a favela. A tentativa, porém, foi frustrada, e Rogério continua no alto do morro, segundo informações da Polícia. Danúbia, que é foragida e ostenta alto poder aquisitivo nas redes sociais, também estaria no local. Os dois corpos carbonizados encontrados pela polícia seriam do grupo de Rogério.
Na segunda-feira, 18, o porta-voz da Polícia Militar do Rio, major Ivan Blaz, e o delegado-titular da 11ª DP (Rocinha), Antônio Ricardo, admitiram que sabiam que poderia haver confronto entre traficantes na Rocinha no dia anterior. Blaz afirmou que a Polícia Militar não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervenção poderia vitimar moradores. Já Ricardo acrescentou que não sabia que o confronto, que durou cinco horas, "seria desta proporção".