– Já fui casado, já tive um lar, com uma esposa que era uma santa, e cinco filhos. Mas a minha irresponsabilidade e minha vida boêmia destruíram meu lar.
Os amigos de copo já sabiam da história de cor e salteado, mas, mesmo assim, gostavam de ouvir.
Durante o tempo em que fora casado, Zé de Vina esquecia que a esposa e filhos precisavam se alimentar. A prioridade do seu dinheiro era a boemia. Mesmo com família constituída, ele só tinha olhos para mesa de bar e mulheres de cabarés.
Depois de anos de discussões e promessas não cumpridas, Bernadete, a esposa, cansada de passar privações junto com os cinco filhos, e de ver o marido chegar de madrugada, embriagado e agressivo, tomou uma atitude desesperada, para escapar das garras de um casamento infeliz.
Numa certa madrugada, ao chegar em casa trocando as pernas, Zé de Vina a encontrou completamente vazia. A mulher havia se mudado, para lugar incerto e não sabido, com os filhos e os móveis. O susto que ele levou fez com que ficasse sóbrio, imediatamente. Sem rumo e sem prumo, saiu perambulando pelos bares e adormeceu no chão.
Desesperado por se ver sozinho, sem esposa e filhos e com a casa vazia, Zé de Vina mergulhou ainda mais na boemia. Pagara muito alto o preço de sua irresponsabilidade. Mas, reconhecia que fizera por merecer.
Os maus-tratos a que tinha submetido a família, durante os dez anos em que fora casado, não mereciam perdão.
Dias depois que a família o abandonou, chegou aos ouvidos de Zé de Vina que um rico “coronel”, dono de fazendas, viúvo e cheio de filhos, fizera de Bernadete sua “teúda e manteúda” e estava fazendo as vezes de pai para seus filhos, dando a todos uma vida sossegada e com conforto.
O “coronel” era um importante chefe político, um figurão, e contava com o respeito de todos na cidade.
Depois de descobrir o endereço do tal fazendeiro, Zé de Vina, foi até lá, na esperança de rever, não a mulher, mas os cinco filhos. Estava conversando com eles, quando desceu de um cavalo o tal coronel, de rebenque na mão e com um vozeirão estridente:
– Boa tarde, seu Vina!
Os companheiros de copo, mais uma vez, ouviam atentos, talvez pela vigésima vez, a narrativa de Zé de Vina, e aguardavam o desfecho.
Percebendo a curiosidade dos amigos, Zé de Vina concluiu a conversa, jocosamente:
– Quando eu vi o tipão que é o coronel, só fiz desengalhar meu honroso chapéu da galhada de chifres e respondi, educadamente:
– Boa tarde, coronel Homero! Que Deus guarde Vossa Senhoria e suas excelentíssimas famílias! Bernadete tem bom gosto…