08 de fevereiro de 2020 | 03h00
Crescimento maior da economia, com geração mais fácil de empregos, poderá ser um dos bons efeitos do recuo da inflação, depois do salto registrado no fim do ano. O primeiro efeito positivo é obviamente o alívio no orçamento da maior parte das famílias, embora alguns preços importantes, como os de habitação e transportes, ainda tenham incomodado. Mas a tendência de normalização parece inegável, depois de alguns meses difíceis. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,21% em janeiro, na menor variação para esse mês desde o início do Plano Real em 1994. Em dezembro, a alta havia sido de 1,15%. Com esse recuo, o aumento acumulado em 12 meses passou de 4,31% para 4,19%. Esse número ainda é superior à meta oficial deste ano (4%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos), mas a acomodação gradual nos próximos meses parece uma aposta muito segura.
Esse detalhe aponta o segundo grande benefício. Com a inflação contida e no rumo da meta deste e do próximo ano, o Banco Central (BC) provavelmente poderá manter por um bom tempo a taxa básica de juros, diminuída de 4,50% para 4,25% na quarta-feira passada. Prevê-se no mercado um novo aperto da política monetária a partir do próximo ano, ou do fim de 2020, mas o panorama por enquanto é de calmaria nos preços. Pressões para alta de juros, se ocorrerem, virão mais provavelmente do exterior. Neste momento, no entanto, os juros nas principais economias são propícios à manutenção da política brasileira.
Mantida essa política, a oferta de dinheiro em condições mais favoráveis poderá estimular o consumo, a dinamização dos negócios e, um pouco mais longe, a criação mais rápida de empregos. Além disso, o corte dos juros tem diminuído o custo da dívida pública, baseado parcialmente na taxa básica, a Selic. A redução dos custos financeiros do Tesouro poderá apressar a arrumação das contas públicas, se o governo conseguir avançar em outras tarefas, como a conquista de maior eficiência na programação e gestão das despesas.
Em dezembro, esse item ainda aumentou 3,38% e seu impacto, de 0,83 ponto porcentual, foi o mais importante na composição do IPCA.
Em janeiro, vários grupos de preços avançaram menos que os da alimentação, ou chegaram mesmo a diminuir, mas seu peso, em muitos casos, é bem menor no resultado geral.
Especialmente bem-vindo foi o recuo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado com base nas despesas de famílias com rendimento monetário de 1 a 5 salários mínimos (o universo do IPCA é o das famílias com ganho mensal até 40 mínimos). A alta do INPC passou de 1,22% em dezembro para 0,19% em janeiro, menor variação para o mês desde a implantação do Plano Real. A alta em 12 meses passou de 4,48% para 4,30%. Os preços da comida aumentaram 0,45%, depois de terem subido 3,66% em dezembro. Esse recuo foi, de longe, o mais importante para a desaceleração do INPC.
A perda de impulso da inflação foi mostrada também pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), por meio de seu Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), formado por três grandes componentes. A alta do indicador geral passou de 1,74% em dezembro para 0,09% em janeiro. A dos preços ao consumidor foi de 0,77% para 0,59%. A dos preços por atacado recuou de 2,34% para 0,13%, num sinal de menor pressão sobre o varejo. A do custo da construção subiu de 0,21% para 0,38%.
Mas a inflação contida ainda é, em boa parte, efeito do desemprego da capacidade ociosa das empresas. Mover a economia deve ser a prioridade. Conter a inflação poderá ser mais trabalhoso, mas o desafio será muito bem-vindo.