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Alunas da Escola Classe 407 Norte integram o projeto, que alcança outras três escolas públicas do DF |
“Acho que todo mundo merece as mesmas chances de aprender e de ser feliz”, reivindica a estudante do 4º ano do ensino fundamental Ana Yasmin Santos, 9 anos. Ela e outras colegas da Escola Classe 407 Norte integram o projeto Menina que calculava, com o objetivo de promover, no futuro, a inclusão de mulheres em profissões da área de exatas, ainda predominantemente ocupadas por homens.
De livro na mão, a colega Vitória Passos, 10, concorda com Ana Yasmin. A menina conta que sofreu críticas por gostar de calcular, mas ela deu risada. “É minha matéria preferida. A raiz quadrada me completa”, sorri. E, no embalo dos números, das contas e das descobertas, até a compreensão de outros conteúdos melhorou, de acordo com Isabela Braga, 11 anos, que está no 5º ano. “Estou entendendo melhor a matemática, mas também outras matérias. Tudo que eu levar comigo me ajudará no futuro.” O projeto também atende alunos do Centro de Ensino Fundamental 316 de Santa Maria, da Escola Classe 5 do Paranoá e da Escola Classe 403 Norte.
A coordenadora da iniciativa, Lilah Fialho de Lima Simões, 26 anos, doutoranda em física da Universidade de Brasília (UnB), conta que o projeto começou em março do ano passado. “Temos 40 monitoras e 24 alunas por semana. O trabalho é voluntário e nosso objetivo é fazê-las se sentirem confortáveis na área de exatas. Queremos essas meninas questionando decisões, contas, a lógica usada para fazer um determinado cálculo. Que tenham a noção que errar não é problema. Que ninguém é burro por pensar diferente e que é possível estar certo mesmo assim. Faz sentido questionar para descobrir”, explica.
Inclusão
Outro exemplo de projeto da rede pública de ensino do DF voltado para a inclusão de jovens do sexo feminino na área de exatas é o meninas.com, que trabalha programação de computador no Centro de Ensino Médio Paulo Freire, na Asa Norte, no Centro Educacional Lago Norte, no Varjão, no Centro Educacional 7 de Taguatinga e no Centro de Ensino Fundamental 15 do Gama. Os trabalhos começaram em 2013, no Paulo Freire, e, hoje, a iniciativa conta com diversas estudantes que se formaram e cursam ciências da computação na UnB.
A primeira integrante do meninas.com a ingressar em uma universidade pública foi Kailany Rocha, que cursa o terceiro semestre em uma turma com 35 homens e quatro mulheres. “Sem o projeto, eu não teria optado por esse futuro. Temos que estimular as meninas a se aproximarem das exatas. Existe uma gama de profissões que a maioria das meninas não conhece. No boom do computador, nos anos 1990, a maioria das propagandas eram voltadas para os homens, mas mulheres desenvolvem códigos de programação desde o início”, observa.
Uma das idealizadoras do programa, a professora do Departamento de Ciência Computação da UnB Aleteia Patrícia Favacho de Araújo, explica que a exclusão das mulheres da área de exatas começa na infância e dentro de casa. “As meninas que escolhem computação têm o apoio familiar do pai, mãe, tio que trabalha na área. Há uma falta de apoio da família e da sociedade. Para as meninas, você dá boneca, louça, não dá um lego, um brinquedo de montar, que você dá para um filho”, avalia.
A professora destaca que o envolvimento das meninas nas exatas tem o poder de transformar essas ciências. “As meninas são diferentes dos meninos na forma de perceber a solução de um problema. Propõem saídas diferentes. Os meninos querem resolver um código, as meninas querem otimizar. As grandes empresas, Apple, IBM, Facebook, têm necessidade de contar com esses dois pontos de vista, para haver um equilíbrio. E mais, hoje, as mulheres consomem tecnologia desenvolvida por homens. Mas e se pudessem consumir produtos feitos por elas?”, questiona.
Incentivo
A diretora de Políticas e Programas de Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Sônia da Costa destaca que a pasta lançou, junto com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o edital Meninas nas ciências exatas, que vai liberar verba para escolas públicas com iniciativas semelhantes ao Menina que calculava e ao meninas.com. “Incentivamos que estudantes universitárias interajam com alunas do ensino fundamental e médio e despertem o interesse pelas ciências exatas nessas meninas. As escolas podem pleitear participação até 5 de outubro”, conta.
O projeto prevê liberação de até R$ 90 mil para grupos de escolas que cumprirem os requisitos do programa. “Propiciamos bolsas de iniciação científica para alunas do ensino médio e verba para criação de grupos de estudo, clubes de ciência e pesquisas de problemas locais com viés nas ciências exatas”, detalha.
A subsecretária de Educação Básica da Secretaria de Educação do DF, Luciana Oliveira, destaca a importância dos projetos. “Na história do surgimento das profissões, tínhamos grupos majoritários masculinos e femininos. Antigamente, ou a mulher ia para o magistério, ou não tinha profissão. Isso cria um preconceito. Precisamos fomentar a mudança dessa realidade, trazer a igualdade de oportunidades”, ressalta.
Participe
O edital número 31/2018 do CNPq foi publicado no Diário Oficial da União em 20 de agosto. Escolas interessadas em participar do projeto Meninas nas ciências exatas têm até 5 de outubro para se inscrever. O proponente responsável por apresentar a proposta precisa ter o currículo cadastrado e atualizado na Plataforma Lattes, ter título de mestre e coordenar o projeto apresentado. Também é preciso um documento que comprove o vínculo da escola e do autor do projeto. Interessados podem tirar dúvidas no seguinte número: 3211-4000.