Doze mulheres denunciaram terem sido sexualmente abusadas por João Teixeira de Faria, médium conhecido como João de Deus. Famoso pela realização de “cirurgias espirituais”, ele já atendeu desde a apresentadora americana Oprah Winfrey até o ex-presidente Lula, passando pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.
No programa que foi ao ar ontem de noite, a produção do “Conversa com Bial”, na TV Globo, relatou que dez mulheres se dizem vítimas de João de Deus, das quais quatro também foram ouvidas por O GLOBO.
Esta reportagem traz essas quatro denúncias e duas novas, exclusivas. Os seis relatos documentados por escrito, que o leitor do GLOBO tem acesso na íntegra abaixo, datam de 2010 a fevereiro deste ano. Os textos são longos e detalhados. Eles foram colhidos ao longo de três meses de investigação. Todos passaram pela aprovação das seis vítimas, das quais cinco pediram sigilo de identidade.
O último capítulo desta matéria é a resposta enviada pela assessoria de João de Deus exclusivamente para O GLOBO.
Denúncias revelam padrão de ação
As denúncias revelam um processo sistemático e padronizado. As mulheres contam que foram desacompanhadas à Casa de Dom Inácio, o “hospital espiritual” mantido pelo médium em Abadiânia (GO). Todas tinham entre 30 e 40 anos no momento em que relatam terem sofrido os abusos. Elas dizem que o médium, durante os atendimentos ao público — quando estaria incorporado por uma entidade espiritual — indicava que deveriam encontrá-lo após o encerramento da sessão.
Sempre colocadas como últimas na fila de espera para o atendimento pessoal, entravam em um escritório que dava acesso à sala de cirurgias. Neste momento, ficariam no local apenas o médium e a paciente. Com a porta trancada e as luzes apagadas, seriam tocadas nos seios pelo líder espiritual de 76 anos, e/ou ordenadas a tocá-lo no pênis, parte de uma “limpeza espiritual”.
Por videoconferência, a holandesa Zahira Lieneke afirma ter sido estuprada em 2014. Ela foi a única vítima a autorizar a publicação de seu nome. Também é a única que conta ter sido penetrada por João.
Assessoria chama denúncias de "fantasiosas"
A assessoria de João de Deus afirma que as acusações são “falsas e fantasiosas”, questiona o motivo pelo qual as vítimas não procuraram as autoridades e afirma que “a sala em questão é pública, qualquer um tem acesso a ela e jamais fica trancada”. A assessoria ainda afirma que a situação “é lamentável, uma vez que o Médium João é uma pessoa de índole ilibada”.
As vítimas contam que não procuraram a polícia logo após os abusos pelo mesmo motivo que pedem para suas identidades serem protegidas: medo de serem perseguidas.
Essa não é a primeira vez que João Teixeira de Farias é acusado de crimes sexuais. Ele já foi acusado de sedução de menor, atentado ao pudor, contrabando de minério e até por assassinato. Em nenhum dos casos o médium foi julgado culpado.
“Quatro anos atrás, quando eu estava em um dos meus momentos mais vulneráveis, viajei para Abadiânia para ver o mundialmente conhecido 'curandeiro' chamado João de Deus. Vi muitos vídeos sobre seu trabalho no YouTube, li dois livros e assisti atentamente à entrevista de Oprah com ele. Então organizei uma viagem de cinco semanas a Abadiânia.
Chegando à Casa de Dom Inácio, você entra em uma longa fila de atendimentos. João, incorporado por uma entidade, te dá um máximo de três desejos. Um dos meus foi curar meu trauma sexual. A 'entidade' me disse, então, que eu deveria voltar ao fim da sessão para conversar pessoalmente com João, sem ele estar incorporado.
Esperei junto a outras mulheres que formavam uma pequena fila do lado de fora de seu escritório, aos fundos da casa onde as crirugias são feitas, todas aguaradavam para a 'consulta' individual. Fui a última. Assim que entrei, a equipe de staff saiu. Fiquei sozinha com ele.
Ele me perguntou por que eu estava ali. Respondi que queria curar meu trauma sexual. Ele assentiu, se levantou e me pediu para ficar em sua frente, de costas para ele.
Ele tocou meu corpo. Me cheirou.
Cheguei ali impressionada com esse homem. Acreditava que ele faria um milagre. No entanto, durante aquela 'consulta' algo se apoderou de mim: o sentimento de que ele era um homem sujo. Mas continuei ali, mantendo a fé em seus poderes de cura.
Ele me levou para seu banheiro, em um espaço dentro do escritório. Me colocou em frente ao espelho e me perguntou o que eu via. Eu não entendi o que ele queria dizer. 'Ehm, eu?', respondi.
Posicionado atrás de mim, ele pegou minha mão e a colocou em seu pênis. Eu congelei. 'O que está acontecendo?', pensei. Ele então me moveu para fora do banheiro. De volta ao escritório, se sentou em uma grande poltrona e me colocou de joelhos em sua frente. Novamente, colocou minha mão em seu pênis e, colocando sua mão sobre a minha, me fez masturbá-lo. Disse para eu sorrir e me 'sentir alegre'. Eu só sentia repulsa.
Estava congelada pelo pânico. Minha mente seguia girando, continuamente repetindo a pergunta 'que p*rra é essa?'.
Enquanto isso, ele falava sobre energia e meus chacras. Eu acreditava em milagres. 'Meu trauma desaparecerá com isso?', me perguntei, em silêncio.
Ele ejaculou. Disse para eu dar a ele uma toalha e me mandou lavar as mãos. Quando voltei ao escritório, ele me deu pedras preciosas como um presente. Me sentei no sofá, congelada. Me sentia tão suja enquanto olhava para aquelas pedras... Então uma das funcionárias da Casa chega e olha para mim com uma expressão de raiva e de desconfiança. Tudo que eu quero dizer é 'SOCORRO', mas estava muda. 'Que m*rda é essa?', de novo, eu penso.
Eventualmente, eu consigo levantar e sair. Lembro de ouvi-lo dizendo: 'você é sempre bem vinda aqui'.
Eu ainda levaria alguns dias antes de voltar à Holanda.
Depois disso, ganhei privilégios especiais na Casa. Todo dia eu entrava nas salas de cura, sentava em uma das cadeiras grandes e ali permanecia por oito horas com os olhos fechados. Durante essa meditação, sentia como se as doenças dos outros passassem através de mim: tossia, quase vomitei várias vezes, me senti comovida. Senti a dor e o coração do povo. Tenho fé que ajudei as entidades a curar outras pessoas. Senti que estava fazendo algo importante.
Em outro dia, em seu escritório, não sei por que entrei lá novamente... ele me puxou violentamente para o banheiro. Enfiou a língua na minha boca. Me virou. Puxou minhas calças e me penetrou por trás. Ele ejaculou. Depois me deu uma toalha.
Meu pensamento foi: 'O que aconteceria se eu engravidasse? Sentia um total e completo congelamento.'
Quando estava fora daquele lugar, eu confiei na mulher que eu havia conhecido por lá e que comecei a namorar. Quando estávamos longe, dois meses depois, contei o que aconteceu. Nós duas nunca voltamos a nos falar.
Eu tenho medo até agora."
"Demorei alguns anos para processar e falar sobre o que aconteceu. Cheguei a pensar em divulgar meu nome, mas sabemos que a pessoa de quem estamos falando é bem poderosa. Foi em 2010, eu tinha um conhecido que já frequentava a casa e tive acesso direto ao médium. Desde a primeira vez que eu o tinha visto, eu me senti mal e via como ele tratava mal alguns dos funcionários, mas o lugar era muito pacífico e tinha uma energia forte. Eu ia para a corrente e ajudava muito nas cirurgias, sentia uma energia especial ali.
Na terceira vez em que fui, fui sozinha. Fiquei uma semana e, em um desses momentos, num dos últimos dias, ele comentou durante um atendimento que ele queria 'me ajudar' e que era para eu ir ao encontro dele por volta das 6 horas da manhã no dia seguinte. Entrei na sala, ele falava que eu estava com os chacras bloqueados, principalmente com o chacra da sexualidade.
Ele se sentou na poltrona, pediu que eu sentasse ao lado. Ele estava com uma camisa branca, pegou a minha mão, colocou-a no peito dele e começou a respirar fundo. Sentia que ele estava tentando me hipnotizar. Eu fiquei tão abismada que congelei. Ele foi descendo a minha mão. Senti uma pele úmida e enrugada tocar a minha mão. Abri os olhos e notei que era o pênis dele. Levantei na hora, indignada e cheia de raiva, me perguntando porque aquilo estava acontecendo comigo. Saí da sala e voltei para a sala da corrente, me sentei para rezar e processar o que aconteceu. Cinco minutos depois, ele me chamou de volta.
Já cheguei com cara de quem não gostou. E ele começou a explicar que estava incorporado, inconsciente, durante aquele momento. Eu sabia que aquilo era balela. Ele pegou um cristal e me deu. A pedra é enorme, um cristal transparente enorme.
Quem passa por isso fica calada porque a gente sente tanta vergonha de pensar no que passou que não tem nem para quem falar. Se eu não tivesse medo dos riscos, até publicaria meu nome, mas já ouvi tantos relatos que não sei como ainda não o pegaram. Deve tentar calar muita gente. Mas sei que foi abuso sexual no meu caso, o cara pegou a minha mão e colocou no pênis dele contra a minha vontade. Óbvio que foi abuso."
"Em 2015 eu fui pela segunda vez à cidade de Abadiânia (GO) buscar ajuda para diversos problemas de saúde meus e de familiares. Quando entrei na fila para passar com a entidade, faltavam mais ou menos umas seis pessoas na minha frente. Ele me viu e, a partir daí, não tirava o olho de mim. As pessoas que paravam em sua frente, ele fazia sinal com a mão para que fossem logo. Na minha frente tinha uma senhora que provavelmente tinha um câncer, pois estava careca. Na sua vez, ela ajoelhou, agradecendo fervorosamente, e ele praticamente a empurrou para que fosse logo. Então foi minha vez.
Ele pegou na minha mão e perguntou no que poderia ajudar. Eu disse que tentaria resumir mas que, no geral, era depressão. Não me sentia pertencente a esse mundo, tinha pensamentos suicidas... então ele falou para eu 'falar com o médium João' em sua sala.
Fui feliz da vida. 'Que legal poder ter ajuda assim tão de perto', pensei. Mas, por diversas vezes, não pude ser atendida. Hoje eu agradeço por isso, porque assim vi cenas estranhas acontecerem: ele tratando mal pessoas que o esperavam, o filho dele trazendo bolos de dinheiro e ele colocando no bolso... Isso me intrigava, mas eu estava confiante. No último dia, consegui passar na sala dele, no horário de almoço.
Quando entrei, ele perguntou o que me trazia ali e eu disse poucas palavras. Na verdade ele nem ouviu, já pediu para eu ficar em pé, disse que iria fazer uma limpeza em mim. Fiquei de costas para ele e ele passava a mão no meu tronco, dizendo que estava limpando os chacras.
Até aí eu pensava que tudo bem. Era um ser tão divino, nada a ver eu desconfiar. Foi quando ele me virou, pediu que colocasse a mão na barriga dele e fizesse um movimento, como se fosse uma massagem. Pensei que também tudo bem. Se o super médium João de Deus pediu, beleza.
Ele me pedia pra olhar nos olhos dele, mas eu não conseguia. Fiquei de olhos fechados, talvez porque algo dentro de mim estava muito desconfortável com aquilo tudo. Então ele colocou o pênis para fora e falou, segurando meu braço: 'Olha como você me deixa'. Disse que tinha sonhado comigo, que me viu nos sonhos.
Eu estava em estado de torpor, algo não me deixava me mover. Parece coisa de filme, mas eu estava hipnotizada.
Ele continuou com uma lorota: 'Nos conhecemos de outras vidas, nós temos uma história'. Eu dei uma risada sem graça e disse: 'Eu considero você como um pai'. Não conseguia me mover.
Nisso, pessoas batiam na porta que ele havia trancado. Ele sentou e pediu que eu abrisse a porta. Então entravam pessoas pra agradecer, o pessoal que trabalhava na casa vinha com questões, e eu pensava: 'agora vou embora'.
Falava pra ele: 'vou sair, você fica à vontade'. Ele dizia pra eu sentar, eu obedecia. Pediu almoço para mim, almocei com ele. Pediu pra eu trancar a porta. Eu fui lá e tranquei! Algo em mim sabia que não estava certo, mas eu só conseguia obedecer.
Ele então falou que iria fazer a limpeza de novo. Nisso eu falava dos meus problemas de saúde, da minha família... e ele mal respondia.
De novo, o pênis, a lorota: 'Nos conhecemos' e 'Quando você volta aqui de novo?'.
Então ele pegou minha mão para eu 'ver como ele estava por mim'. Meu marido estava lá fora, ele falava para eu não contar nada.
Pessoas batiam à porta, ele mandava eu abrir, eu dizia, 'vou te deixar a vontade'. A fila pra falar com ele estava enorme. Ele não deixava, me mandava sentar, eu sentava. Ele me falava o quanto eu era corajosa, o quanto eu era forte. Eu ficava de olhos fechados.
No final, ele me presenteou com uma esmeralda. Já estava na hora do atendimento começar. Ele falou para eu ir pela porta que ele ia para o centro. Ele me falou: 'Queria te ver como te vi no sonho'.
Na sala da corrente, sentei numa cadeira na frente. Ele entrou, falou como um macho querendo impressionar sua presa. Falou um monte de coisas. Eu estava anestesiada. Queria sair, mas algo me segurava. Era tão confuso que no fim eu pensava que estava louca por pensar mal dele. Ele segurou bem forte minha cabeça, pensei: 'nossa, ele está me ajudando'.
Quando vinha uma entidade, pedia pra falar comigo. Dizia que me protegia, que cuidava de mim e que não era pra eu comentar com ninguém o que ocorria ali. Me chamou nas cirurgias. Eu segurava a bandeja, ele enfiava coisas no nariz das pessoas, sempre com um ar de macho alfa, me mostrando seus feitos.
Eu tinha comentado que sentia muita dor no joelho, pedi para ele fazer a cirurgia em mim. No meio do palco, ele falou que nunca iria me cortar, que eu estava curada. Um show. Pessoas de muletas, que ele jogava no chão, e a pessoa entrava na sala sem muleta. Sempre me mostrando, querendo me mostrar tudo. Isso foi no domingo.
Somente na quarta-feira, já em casa, eu acordei. Não dá pra explicar como ele fez isso, como ele me segurou na energia e me deixou em torpor. Só sei que fiquei alguns dias nesse estado. Quando acordei, foi porque uma voz gritou bem alto dentro de mim: 'Acorda!'.
Tinha uma foto dele no meu criado mudo. Na hora eu queimei. Tudo o que tinha dele eu dei ou joguei fora, inclusive a esmeralda.
Logo em seguida ele foi internado para retirar um câncer. Como ele não se cura? Precisa de médicos? Eu só desejava que ele morresse. E que morresse com muita dor. Ele não morreu. Está aí pra ser feito justiça, aqui na Terra. A justiça tem que ser feita."
"Entre 2010 e 2011 meu sogro ficou muito doente e falaram pra minha sogra sobre o João de Deus. Fui duas vezes lá e fiquei durante o fim de semana. Em uma delas a 'entidade' pediu para que eu participasse no dia seguinte como 'assistente' na cirurgia espiritual. Como não soube muito o que isso significava, não encontrei o lugar onde deveria ir e acabei perdendo a hora.
Na outra vez, quando passei pela 'entidade', ele pediu que eu esperasse o João de Deus do lado de fora da sala dele, que ele queria falar comigo. Fui.
A sensação era um pouco de medo, ao mesmo tempo me sentindo levemente especial, e uma ponta de esperança de ouvir algo bom em relação ao meu sogro. Para minha surpresa, só havia mulheres na fila. Novas e de boa aparência. Isso me deixou bastante intrigada e me fez reparar nisso todos os dias e todas as vezes que estive lá. Sempre igual.
Que eu lembre, entrei duas vezes na sala dele: uma com meu sogro e uma sem ele. Nas duas vezes me senti bem incomodada, travada. João de Deus é uma figura que não causa nenhuma simpatia.
Quando entrei sozinha, ele disse que seria eu que curaria meu sogro e que, por isso, ele teria que fazer um trabalho comigo. Me levou para um corredor escuro dentro da sala dele, onde tinha um colchão encostado na parede. Me colocou de costas pra ele e começou a tocar em mim de forma que fiquei bem desconfortável.
Ele encostou em meus seios e na minha barriga. Lembro que me senti extremamente incomodada com aquela situação. Fiquei tensa e não consegui falar nada, mas peguei uma grande antipatia dele e deixei de acreditar naquilo.
Não comentei com meus sogros, pois ir ao João de Deus era algo que trazia muita esperança para eles e não queria cortar essa energia. Comentei apenas com a minha mãe quando cheguei em casa.
Lembro que fiquei me questionando o tempo todo se aquilo havia tido más intenções ou não. Fiquei com medo de ser perseguida caso levantasse esse assunto em algum lugar, pois ele de alguma forma faz bem a tantas pessoas, provavelmente ninguém acreditaria em mim.
Algumas vezes cheguei a pesquisar na internet se alguma mulher já havia relatado situação parecida, mas nunca encontrei nada. Ao ver recentemente um post no Facebook, me senti à vontade para me abrir.
Só espero que ele pague pelo que fez com tantas mulheres que passaram por lá. Ele, que se aproveitando de sua posição, abusou fisicamente delas com o pretexto tão sagrado da cura. Que ele pague na justiça por tudo que cometeu."
“Fui seis vezes a Abadiânia. A primeira em 2015, a última este ano. Fiquei muito animada porque estava conseguindo obter resultados positivos em vários aspectos relacionados a uma doença crônica, com a qual convivo há muitos anos. E este foi o principal motivo pelo qual fui à Abadiânia: visitar a Casa Dom Inácio de Loyola, através do médium João de Deus.
Depois dos atendimentos naquela manhã, eu entrei na fila para falar com o médium João em uma sala onde são realizados os atendimentos individuais. Ele pediu insistentemente para eu ser a última do atendimento, na fila. Quando entrei, ele trancou a porta e me perguntou se preferia a luz acesa ou apagada. Falei que não sabia o que era melhor. Ele insistiu e eu, por fim, disse que preferia acesa.
Naquele momento comecei a relatar várias situações da minha vida, conforme ele ia perguntando e a conversa prosseguia.
Ele me pediu para ficar de pé e passar a mão na minha barriga. Depois, pediu que eu virasse de costas. Na sequência, que eu passasse a mão na barriga dele, que estava sentado numa poltrona e pedia constantemente que eu ficasse com os olhos fechados. E começou a falar como deveria passar a mão. Às vezes eu abria os olhos e ele pedia para eu fechá-los. Pedia para respirar fundo e contar até nove.
Enquanto isso, ia me perguntando quantas vezes eu tinha ido à Casa, se eu estava sozinha, quando eu ia embora da cidade, se seria a última vez que aquela situação aconteceria. Eu não entendia a intenção dos questionamentos.
Uma hora eu abri os olhos rapidamente, insegura, e percebi que a camisa dele estava meio aberta. Ele foi guiando a minha mão e, de repente, senti algo encostar na parte de baixo da minha mão: era o pênis dele. Eu tirei a mão, me assustei. A última coisa que você quer acreditar é que um líder espiritual está te abusando.
Então ele disse: 'eu sei muito bem o que estou fazendo e que isso seria considerado assédio, eu não sou louco'. Dizia que estava me livrando das energias negativas, me tirando da solidão. Em um determinado momento, disse que não era mais a entidade ali, que era o homem.
Colocou a mão por dentro da minha blusa e tocou rapidamente debaixo dos meus seios. Quando eu abri os olhos, ele estava com o pênis parcialmente para fora. Fiquei extremamente assustada, tensa e enojada. Meu coração batia acelerado. Depois de tudo, me disse: 'Não conte para ninguém o que aconteceu. Não conte para ninguém que eu te ajudei'.
Após, disse que ia me dar um presente. Me deu um livro e pediu a algumas pessoas, que estavam do lado de fora da sala, para que dessem depoimentos para mim de como a vida delas havia melhorado. Naquela manhã me denominou 'Filha da Casa'.
Saí em choque, atordoada. Como estava sozinha, não sabia para quem contar. Minha ficha foi caindo aos poucos. Fui conversar com um conhecido que era terapeuta, que também estava em Abadiânia naquele período. Ele que me falou que eu tinha sofrido abuso sexual. Ele sabia de outros casos. Depois entrei em contato com outras mulheres e descobri que havia inúmeras histórias. Nunca mais voltei e levei tempo para me recuperar da dor e da decepção.”
"Fiz uma série de viagens a Abadiânia. Na primeira delas fiz a cirurgia espiritual e voltei para casa. Eu tinha um problema de saúde e, vinte dias depois de ter ido à Abadiânia pela primeira vez, refiz meus exames e alguns dos meus índices estavam dando como se fossem perfeitos. Nenhum médico sabia explicar, então comecei a correlacionar.
A partir da terceira vez, nem pensava mais no meu problema, mas sim como uma cura espiritual, um lugar que me fazia bem. As pessoas comentavam que dava para ver que eu estava muito envolvida, porque eu levava pessoas, eu me sentia muito bem.
Todas as vezes em que eu ia, a entidade (o médium supostamente incorporado) falava comigo. Mas, um dia, a entidade pediu que eu falasse com o médium. Eu não fui sozinha, o que o deixou muito irritado. Ele me pediu que voltasse em alguns dias para pedir por outra pessoa. Então fui, levei fotos e coisas da pessoa pela qual eu queria pedir. Novamente, a entidade me disse 'vá falar com o médium'. Fiquei sem entender.
Tem uma sala ao lado da sala de cirurgia, uma porta azul. Eu estava do lado de fora dessa porta, em uma fila de pessoas que se forma ali, esperando o atendimento do médium. Mas a sessão da tarde já estava próxima e com certeza não daria para todos serem atendidos. Ele abriu a porta, apontou para mim e disse 'venha'. Logo que entrei, um voluntário fez um gesto dizendo que os atendimentos tinham sido encerrados, as pessoas se afastaram. Eu fui a última.
Logo que entrei, quis abordar o assunto da outra pessoa pela qual eu queria pedir. Mas, na hora em que pisei dentro da sala, ele perguntou se eu estava sozinha. Quando respondi que sim, ele apagou a luz e trancou a porta com a chave. Logo de cara falou: 'Minha filha, para a sua vida andar eu preciso destravar algumas coisas'. Eu argumentei que não tinha ido ali para falar de mim, mas ele me ignorou. Tirou da minha mão tudo que eu tinha trazido, como se não tivesse a menor importância. Me chamou em um canto da sala, que é bem pequena e tem duas poltronas. Esse canto tem como um banheiro, onde tem uma pia e um box de vidro.
Ali ele ficou de costas para a pia e pediu para eu ficar de costas para ele. Ele repetia 'vem aqui', 'vem mais perto'. E eu pensando que se chegasse mais perto iria encostar nele. Então, ainda assim, tentei ficar o mais longe que conseguisse. Aquilo me gerou um incômodo muito grande, eu comecei a chorar.
Ele disse 'eu preciso te passar energia' e colocou a mão levemente entre meus dois seios, por cima da roupa. Depois colocou a mão em cima da coxa, por cima da roupa. Ele repetia que precisava me passar energia 'ou sua vida não vai destravar'. Eu fiquei nervosa, chorava, soluçando, aos prantos, de desespero. Ele dizia que era para eu parar, 'assim eu não dou conta', repetia. Dizia que precisava fazer aquilo.
Naquele momento eu queria sair dali, mas tive muito medo. Medo que ele me fizesse mal, afinal de contas é uma pessoa muito poderosa, tanto no campo espiritual quanto físico.
Ainda comigo de costas para ele, ele pegou minha mão, puxou para trás e colocou na barriga dele, logo abaixo do umbigo. Pedia que eu girasse nove vezes a mão. E mandava que eu fizesse três perguntas. Eu achava tudo estranho e pensava 'isso não faz sentido'.
Então ele começou a dizer que eu era médium, que eu já tinha trabalhado com ele em outras vidas, dizendo que com minha fé e mediunidade eu ia fazer mil coisas e que ainda trabalharíamos muito juntos.
Nisso, mandou eu virar de frente. Eu soluçava de tanto chorar. Até que, para piorar a situação, ele disse: 'olha, calma, eu não estou com tesão, mas preciso fazer isso para te curar'. E eu pensei: 'Meu Deus, esse homem, para estar falando isso, é porque está pensando em algo, mesmo'. Ele estava com uma camisa azul, de manga curta e botão. Quando virei de frente, a camisa estava aberta. Aquilo me deu um pânico. Pensei: 'Estou trancada aqui com um cara de setenta e tantos anos de idade… o que é isso?!'.
Aí ele pegou de novo meu dedo e colocou embaixo do umbigo dele, e falava para eu virar a mão nove vezes. Tudo era nove vezes.
Ele tinha como um buraco abaixo do umbigo, que a pele afundava. Eu só rezava para Deus me tirar dali.
A gente passou, nessa pia, uns quarenta minutos. Depois disso, ele viu que eu estava bem irritada. Aí perguntou se eu queria parar. Fiz um gesto de positivo e ele se afastou de mim. Pensei comigo: 'Graças a Deus, acabou essa tortura'. Ele começou a fechar a camisa.
Quando finalmente achei que tinha terminado, fui na direção da porta, mas ele se meteu no meu caminho. Quando olho, ele está com a calça aberta. Olhei aquilo e fiquei absolutamente transtornada. Não acreditava que aquilo estava acontecendo. Foi quando, de fato, caiu a ficha.
Ele olhou para mim, pegou minha mão e simplesmente colocou no pênis dele. Puxei de volta, tirando. Ele pegava e colocava no pênis dele de novo. Eu não sei quantas vezes isso aconteceu. Novamente, ele falava 'Nove vezes'. Eu estava em pânico e não raciocinava. Não conseguia reagir e sair dali. Uma hora, quando mais uma vez ele colocou minha mão no pênis dele, ela ficou melada. Eu não fiquei fazendo movimento, só puxava minha mão de volta e ele colocava lá, forçadamente.
Todo esse tempo eu estava em prantos. E ele visivelmente estava irritado com isso.
Aí ele me pegou pelo punho, me levou até a pia e lavou a minha mão.
Saindo dali, ele me levou para a sala de cirurgias (só havia uma porta de vidro com uma cortina entre onde estávamos e a sala), onde muitas pessoas o esperavam.
Lá, ele levantou minha mão, na frente de todos. Eu completamente suada e com uma cara de desespero. E ele disse 'vocês estão todos operados'. Eu, que já tinha estado naquele lugar outras vezes, me senti extremamente violentada.
Fique imaginando o quanto aquelas pessoas, que estavam ali pelos mesmos motivos que eu, tampouco podiam imaginar o que acontecia nos intervalos do atendimento. Pior, teve um voluntário que claramente percebeu o que estava acontecendo e nada fez.
Depois fui entender que aquilo é muito mais comum do que se imagina, e que muitos voluntários da Casa sabem o que acontece por ali. Mas as pessoas se calam. Eu queria pedir ajuda, mas não tinha a quem pedir.
Nunca mais voltei lá. Permaneci em silêncio até agora porque, do mesmo jeito que eu tive a cura, fiquei achando que com o poder que ele tem também poderia me fazer o mal.
Segundo, eu não conseguia raciocinar o que tinha acontecido, permaneci em choque. É muito difícil acreditar que, no lugar onde você busca sua espiritualidade, você pode ser abusada. É uma experiência horrível, inenarrável, que vou ter que lidar para o resto da vida."
“A situação trazida, além de ser fantasiosa, é lamentável, uma vez que o Médium João é uma pessoa de índole ilibada. Tal situação é muito grave. Se estivéssemos falando no âmbito Jurídico, para que uma situação se caracterizasse como criminosa, a parte lesada teria que demonstrar a materialidade do ocorrido. Neste caso em especial a vítima está do lado oposto, uma vez que fatos alegados e não provados são fatos inexistentes. Há um nítido cerceamento de defesa, onde a busca da verdade real não está sendo averiguado pelo veiculador desta situação. Situação esta que é temerosa, uma vez que a forma escolhida pelas supostas vítimas não foram verificadas e investigadas, tendo em vista que não se sabe a razão ou qual objetivo que visa atingir. A imprensa precisa antes de acusar, ter provas. Exemplo: Ela verificou qual é a condição destas pretensas vítimas? Qual a razão deste tipo de atitude? Porque as supostas veiculadoras de uma situação falsa e fantasiosa não procuram as autoridades competentes neste tipo de situação. Embora falsas, porque procuraram a mídia, neste caso a imprensa. No caso o Jornalismo tem que ter cautela, pois cabe a ela zelar pelo que é veiculado, uma vez que o alicerce do jornalismo está na credibilidade do que traz a público. Se houver, por parte do jornalismo, uma irresponsabilidade, ela estará denegrindo a imagem de quem realmente é a vitima em notícias trazidas por palavras de pessoas vazias e sem credibilidade, apenas para satisfazer o próprio ego sem saber a extensão do que uma inverdade pode causar. A sala em questão é pública e qualquer um tem acesso a ela e jamais fica trancada, é livre para o entra e sai das pessoas, é aberta a todos. A imprensa investigativa, em conformidade com os fatos narrados, deveria averiguar primeiro a sua fonte e credibilidade da mesma. Uma vez que está sendo atingido a honra e imagem de uma pessoa pública conhecida mundialmente, e muito respeitada, pergunto o que as motivam? Estas pessoas não só estão prejudicando ao médium João, mas milhares de pessoas que precisam de cuidados na casa de Dom Inácio, além de elas mesmas serem prejudicadas, em razão do que foi dito, da índole cristalina do Médium João. Pergunto novamente, porque não procuraram a delegacia ou o Ministério Público, e se não o fizeram, qual a razão desta omissão?”