A maior surfista do momento tem nome e sobrenome brasileiro: Maya Gabeira. E tem recorde atrás de recorde no currículo. Na semana passada, a Liga Mundial de Surfe (WSL) anunciou que a carioca, de 33 anos, bateu o próprio recorde de maior onda já surfada por uma mulher na história com a nova marca de 22,4 metros - a anterior era de 20,72m.
Depois de meses e meses sem treinar e demuita ansiedade, o momento agora é de comemoração por todos os feitos. Em entrevista para a Revista Ela, ela relembra do dia da onda gigante, fala como a pandemia afetou seu psicológico, o que ainda quer conquistar e como é o trabalho como "modelo aquática".
Você acaba de quebrar seu próprio recorde, com uma onda surfada em fevereiro. Qual foi a sensação no momento?
Aquela onda foi realmente muito especial, porque o barulho que eu escutei quando cheguei na base da onda (e ela quebrou atrás de mim) foi algo que eu nunca tinha experienciado. Foi muito forte. Aquilo me deu uma sensação de que ela realmente era a maior que eu já tinha surfado. É o que eu mais lembro: o barulho, a explosão e a intensidade da onda que quebrou atrás de mim.
Do que você sente ainda sente falta na carreira?
Na verdade, não sinto falta de nada. Quero continuar sempre evoluindo, mas esse recorde não era algo que eu estava buscando. O meu foco nesse ano foi realmente a competição, que foi no dia em que o recorde aconteceu. Eu queria competir bem. Eu era a única dupla mista no campeonato, fui a única mulher competindo no masculino profissional pela primeira vez no esporte. Esse era o meu foco: surfar bem, pilotar bem meu parceiro, que é o Sebastian Steudtner, e fazer uma boa apresentação. Isso acabou elevando a minha performance e me trouxe esse novo recorde.
Com a quarentena por causa da pandemia de Covid-19, quanto tempo ficou fora do mar e como isso impactou seu desempenho físico?
Eu passei todo o período da quarentena em Portugal. No começo, ficamos um tempo sem surfar por causa das restrições. Acabei engordando um pouco também, até pela ansiedade. Os meus treinos foram bem afetados. Depois de uns dois, três meses comecei a me readaptar à nova rotina e puder surfar de novo. Voltei a treinar superforte faz dois meses para a temporada de ondas grandes. Tive uma queda de performance na quarentena, mas agora já consegui dar uma boa recuperada.
As incertezas da pandemia, em algum momento, te levaram a pensamentos de medo, ansiedade, depressão?
Ah, com certeza! A pandemia mexeu bastante comigo, principalmente no começo. Tudo era muito novo, e tivemos que lidar com o desconhecido e com o que ia acontecer no futuro. Acho que agora já estamos em outro momento, ainda em uma pandemia, mas realmente aquele começo foi mais tenso. A quarentena foi difícil, não é uma condição de vida a que estamos acostumados. Fiquei bastante ansiosa, e eu já tenho questões com a ansiedade, faço um tratamento e lido com isso. Acabou piorando, claro, e eu descontei bastante na comida. Essa foi uma das razões de eu ter engordado. Mas, depois eu consegui me readaptar e entender o momento, levando de forma mais tranquila esse “novo normal”.
Como você acha que esse evento vai impactar o surfe, de um modo geral?
Já impactou. Um exemplo são as Olimpíadas. Ia ser a primeira vez do esporte no evento e isso foi adiado. Também há um impacto enorme pelo fato de ser um ano em que não teremos um campeão mundial, já que não tivemos nenhuma etapa do tour. São coisas que geram um grande impacto na indústria, inclusive na parte financeira. Assim como em várias outras áreas, eu acho que ainda estamos entendendo como vai ser.
Qual sua maior saudade do Brasil no momento? Qual vai ser a primeira coisa que pretende fazer quando chegar aqui?
É a primeira vez que eu não consigo ir algumas vezes durante o ano. Estou com muitas saudades da minha família e espero poder vê-los em breve, assim que estiver tudo mais seguro. Quero poder tomar um açaí, abraçar minha família, ir para praia, pegar onda na água quente...
Antes do recorde, você foi anunciada como embaixadora da TAG Heuer, posto que tinha sido ocupado pelo Senna, o único esportista brasileiro a trabalhar com a marca de relógios. As fotos foram todas feitas no mar. Quais são as maiores dificuldades em fotografar nesse tipo de ambiente?
Para esse tipo de foto, você está trabalhando com a luz natural, então é importante estar em uma água com boa visibilidade. Para que o resultado fique bonito, tem uma preocupação com o ângulo de corpo e a forma que o fotógrafo está posicionado. É uma foto um pouco técnica, mas para mim é superprazeroso fazer isso dentro da água.
Pensar em você é pensar em surfe, mas você listaria outros talentos que pouca gente conhece?
Outros talentos, eu não sei. Mas eu tenho duas cachorras que são minhas sombras (risos), não sei se todo mundo sabe. Sou muito apegada aos animais, aos cachorros em geral - as minhas e de outras pessoas. E também sou viciada em boas séries e bons filmes.
Quais são as maiores dificuldades em fotografar uma campanha no mar?
Para esse tipo de foto, você está trabalhando com a luz natural, então é importante estar em uma água com boa visibilidade. Para que o resultado fique bonito, tem uma preocupação com o ângulo de corpo e a forma que o fotógrafo está posicionado. É uma foto um pouco técnica, mas para mim é superprazeroso fazer isso dentro da água.