MAXIXE, INVENÇÃO BEM BRASILEIRA
Raimundo Floriano
Maxixeiros
O Maxixe é Dança urbana, surgiu nos forrós do bairro Cidade Nova e nos cabarés da Lapa, no Rio de Janeiro (RJ), por volta de 1875.
Estendendo-se aos clubes carnavalescos e aos palcos dos teatros de revista, enriqueceu-se com grande variedade de passes e figurações: parafuso, saca-rolha, balão, carrapeta, corta-capim, etc. Dançado inicialmente ao ritmo de tango, havaneira, polca ou lundu, só nos fins do século XIX as casas editoras o consideraram gênero musical com essa qualificação.
Primeira dança genuinamente brasileira, do ponto de vista musical, resultou da fusão do tango e da havaneira pela rítmica, da polca pela andadura, com adaptação da síncopa afro-lusitana.
Três ilustrações daqueles tempos pioneiros do Maxixe
Foi num baile da famosa sociedade carnavalesca Estudantes de Hieldeberg que um dançarino apelidado Maxixe – daí o nome do ritmo –, com a desenvoltura que o Carnaval propicia, dançou exageradamente um choro, dando-lhe tais toques de audácia que logo o tornaram admirado e divulgado. Daí por diante, o Maxixe seria dança preferida dos foliões das sociedades de maior liberalidade.
Combatido como licencioso e imoral, nem por isso perdeu o Maxixe o prestígio que o levaria dos salões aos palcos. A revista teatral teve no Maxixe o prato indigesto mas trivial dos seus maiores sucessos. Foi o teatro que o fez conhecido no Brasil.
No início do século XX, o Maxixe alcançou grande êxito nos palcos europeus, sendo apresentada com requintes coreográficos pelo dançarino Antônio Amorim Diniz, o Duque, tendo como parceiras a atriz brasileira Maria Lino, e depois as francesas Arlette e Gaby, em Paris, França, e Londres, Inglaterra, em 1914 e 1922, o qual o trouxe de volta para aqui exibi-lo em reuniões elegantíssimas e no Teatro Trianon, no Rio de Janeiro.
Confundido por historiadores com o tango espanhol e a habanera cubana, distingue-se, entretanto, desses gêneros pelo caráter lúbrico e lascivo da dança, pela sincopação, pela vivacidade rítmica e pela utilização frequente da gíria carioca, quando cantado.
Como sói acontecer a cada novidade que surge, o Maxixe teve crítica acirrada, tanto a favor, quanto contra. Houve uma época no Rio de Janeiro em que a se a Polícia flagrasse salões onde se estivesse a dançar o Maxixe, prendia todo mundo!
Grandes intérpretes e divulgadores do Maxixe
O crítico Antônio Torres, inimigo do Carnaval Carioca, assim se referiu ao Maxixe no final do século XIX: “Diversão que não fatiga, não alegra a mocidade. Explica-se, destarte, a sedução do Maxixe sobre o brasileiro, povo moço. As distensões musculares dos membros inferiores; os movimentos quase arrítmicos; os passos acelerados pela cadência lesta da canalhesca música afro-americana; o desregramento da atitude fecunda em imprevistos; a possibilidade de ostentar aos olhos de tanta gente uma mulher em posições pouco plásticas e muito equívocas; tudo isso nos encanta ao mesmo tempo que satisfaz o ruído de ostentação. A nossa ausência de bom gosto enquadra-se admiravelmente dentro da canalhice bárbara do Maxixe. Se se perdessem todos os monumentos históricos do Brasil atual, bastaria a cópia de um Maxixe e a fotografia de um carro carnavalesco para que se reconstituísse a nossa fisionomia reles”.
Maxixe: “mulher em posição pouco plástica”
E arremata: “O Maxixe dá bem a idéia das nossas baixas tendências musicais e coreográficas”.
O cronista português João Chagas assim se expressou, em 1897: “O brasileiro vai aos bailes dançar o Maxixe. Mas o Maxixe é como o “can-can”, o “chaut”, uma dança banida dos lares, por indecorosa. Então, o brasileiro vai aonde sabe encontrá-la, e se não é em bailaricos pagos a mil-réis a entrada, é nos bailes das sociedades carnavalescas que o procura. De resto, o Maxixe, como os jogos clandestinos, dança-se por toda a parte, com exceção, já se vê, dos lares onde esboçá-lo, sequer no movimento de uma mazurca, é praticar um ato da mais revoltante indecência. Os pares enlaçam-se pelas pernas e pelos braços, apóiam-se pela testa num quanto possível gracioso movimento de marrar, e, assim, unidos, dão a um tempo três passos para adiante, três passos para trás, com lentidão. Súbito, circunvoluteiam, guardando sempre o mesmo abraço, e, nesse rápido movimento, dobram o corpo para a frente e para trás, tanto quanto o permite a solidez dos seus rins”.
E conclui o valoroso português: “Dança-se com doçura e dança-se com frenesi. Os maxixeiros de paixão dançam-no com frenesi, incessantemente, e nem a fadiga nem o calor os vence. Quando cessam de dançar é dia, e ainda não estão saciados. Não me pareceu que o Maxixe fosse dança excessivamente culta, mas, como dança licenciosa, é de se lhe tirar o chapéu”.
Aqui, duas as mostra desse brasileiríssimo ritmo, com Pixinguinha e Sua Gente nos ma parte instrumental, com arranjos desse grande compositor.
Pixinguinha e Sua Gente
Do primeiro LP, em versão instrumental, Maxixe de Ferro, composto em 1904, José Nunes, Arranjo de Pixinguinha, com Pixinguinha e Sua Gente, em gravação original:
Do segundo, Gavião Calçudo, de Pixinguinha e Cícero de Almeida, composto em 1929, na interpretação de Almirante, acompanhado por Pixinguinha e sua gente, em gravação original:
Também desse LP, Patrão, Prenda Seu Gado, de Donga, João da Baiana e Pixinguinha, composto em 1932, com Almirante e Pixinguinha e sua Gente gravação original
De outros elepês:
Gosto Que Me Enrosco, de Sinhô, gravação de Gilberto Alves, composto em 1929, acompanhado por Altamiro Carrilho e Sua Bandinha:
Jura, composto em 1929, de Sinhô, com Altamiro Carrilho e sua Bandinha: