RIO - Ao deixar a direção de “Zorra total”, Maurício Sherman não cogitou se retirar da vida artística. Em 2015, um ano depois sair do comando do “Zorra total”, ele começou os ensaios de “A atriz” como ator. Na peça, contracenaria com sua amiga Marília Pêra. Ambos acabaram fora do projeto por razões alheias à disposição para estar no palco - desavenças de bastidor que já não vêm ao caso aqui – e o espetáculo acabou sendo encenado com Betty Faria e Benvindo Siqueira. O episódio é pouco conhecido, mas vale ser mencionado só para ilustrar a dedicação à profissão que impulsionava Sherman. Àquela altura, já octogenário e com a saúde fragilizada, ele não tinha perdido esse entusiasmo.
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Antes de se tornar um diretor dos mais importantes da História da televisão brasileira, teve reconhecimento também como ator. Passou pelo rádio, como, aliás, toda a geração de pioneiros da TV. Lá, dividiu os microfones com outros iniciantes, como Fernanda Montenegro, Fernando Torres e Chico Anysio. Em 1953, ganhou um prêmio de teatro e foi chamado para a TV Tupi. Depois passou pela TV Paulista, voltou para a Tupi, se transferiu para a Excelsior até chegar à Globo, em 1965. Poucos profissionais tiveram a influência que ele viria a conquistar na televisão.
Sherman esteve à frente de muitos programas de humor na emissora e ficou conhecido também por revelar talentos. Pelas mãos dele, Max Nunes e Haroldo Barbosa chegaram à Globo, só para citar dois nomes que hoje falam por si. Mas esse olhar afiado para enxergar possíveis estrelas sempre o acompanhou. O exemplo mais famoso disso é Xuxa Meneghel. Em sua passagem pela TV Manchete, nos anos 1980, ele anteviu nela o que logo confirmou: uma vocação incrível para programas infantis. Marlene Mattos sempre falou publicamente de Sherman com gratidão por causa disso. Quando a Globo contratou Xuxa, ele viu em Angélica, então uma menina, sua provável sucessora na extinta emissora. De novo estava certo.
Sherman voltou para a Globo no fim dos anos 1980 para atuar na área em que se sentia em casa: a linha de shows. Fez o “Globo de ouro”, um sucesso que até hoje mexe com o público quando reapresentado pelo Canal Viva; passou novamente pelo “Fantástico”, que tinha ajudado a implementar, e esteve à frente de “Os Trapalhões”. Será também lembrado pelas vinhetas de fim de ano em que o elenco da emissora se apresentava expondo facetas pouco conhecidas com a mensagem “Tente, invente, faça um 92 diferente”. É possível dizer, sem medo de errar, que essa foi uma das campanhas mais marcantes de todas.
Depois, em 1999, veio o “Zorra total”. Ali também ele abriu espaço para novatos que logo ganharam o coração do público. Maria Clara Gueiros, Cláudia Rodrigues e tantos outros tiveram suas chances no humorístico. Sherman era atento aos jovens, frequentava o teatro, gostava de pesquisar.
Com alguns colegas do palco e do estúdio, ele manteve amizades profundas e longevas. Foi assim com Agildo Ribeiro e Lúcio Mauro, companheiros de geração que frequentavam sua casa e por quem tinha carinho. Não se pode falar da nossa TV sem citar essa figura-chave presente em muito do que ainda se pratica no humor e no show.