“Quanto riso! Oh! quanta alegria!
Mais de mil palhaços no salão.
Arlequim está chorando
Pelo amor da Colombina
No meio da multidão……….”
A festa profana mais bonita do Brasil é o Carnaval. Festejado por ricos e pobres, é diferente das festas de Natal e Ano Novo, que somente os ricos podem festejar.
Em 1967, Zé Kéti e Pereira Matos compuseram a música carnavalesca “Máscara Negra”, em ritmo de marcha-rancho, que ainda hoje faz sucesso.
Gravada pelo próprio Zé Kéti e, depois, por Dalva de Oliveira (no álbum “A Cantora do Brasil), a canção venceu o Primeiro Concurso de Músicas para o Carnaval, recém-criado pelo Conselho Superior de Música Popular Brasileira do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, então presidido por Ricardo Cravo Albin.
Carnaval significa “festa da carne”. Aconselhados a se abster de consumo de carne e relações sexuais na Quaresma, os cristãos se fartavam de churrasco, nos três dias anteriores à Quarta-Feira de Cinzas.
De festa religiosa, o Carnaval transformou-se em folguedo profano, de rua, em que se brincava com o rosto coberto pela fatídica máscara negra, do diabo ou de políticos, e com brincadeiras engraçadas. Não havia violência. Os homens sempre brincavam vestidos de mulher e as mulheres com trajes imperiais.
Também nos salões, a máscara negra estava presente, nas figuras de Pierrot, Colombina e Arlequim, três personagens de um triângulo amoroso, baseado numa comédia italiana do século XVI. Pierrot vive um amor não correspondido por Colombina e ela é apaixonada por Arlequim. Os três são empregados de uma família rica e tradicional italiana e fazem uma sátira social da época.
O Carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses, no século XVII, com o nome de Entrudo, que significa os três dias que precedem a entrada da Quaresma. A diversão pendia para a violência. Os foliões atiravam, uns nos outros, água, pó, cal e tudo o que tivessem às mãos.
O primeiro baile de Carnaval ocorreu no Rio de Janeiro, em 1840. Confetes e serpentinas tornaram a festa menos violenta.
Em 1846, surgiu o Zé Pereira, com grupos de foliões tocando bumbos e tambores. Vieram, em seguida, os cordões, ranchos e blocos.
As quadrinhas anônimas deram lugar a composições, especialmente criadas para a festa, graças a Chiquinha Gonzaga, com seu “Abre-alas”, em 1899. E os ritmos se diversificaram, surgindo o samba, marcha-rancho, frevo, batucada e outros.
A primeira escola de samba, fundada em 1929, no Estácio, chamava-se “Deixa Falar”.
Antigamente, nas principais cidades do Brasil, havia blocos carnavalescos, cordões, bailes, desfiles e carros alegóricos. Em avenidas e praças, adultos e crianças misturavam-se na alegria. Não havia violência nem drogas. Ninguém corria o risco de ser assaltado. Havia, apenas, excessos na bebida e “porres” de lança-perfume.
Com o progresso tecnológico, o Carnaval adquiriu o caráter de folia (do francês, folie), que significa “loucura”. E o império da televisão tomou conta da festa de Momo.
O folguedo popular transformou-se em festa para ricos e poderosos, onde predominam a nudez e o prazer imediato do sexo e das drogas. Gera empregos e lucros estrondosos para o Turismo. Há uma grande competição na disputa de prêmios, com relação a fantasias, blocos e escolas de samba.
Como uma verdadeira catarse, o Carnaval, nos dias atuais, passou a provocar emoções e descargas dos sentidos, dando margem à violência.
Por essa transformação do Carnaval, a festa tornou-se perigosa, e hoje agoniza em muitas cidades brasileiras. Passou a ser um feriadão. As pessoas passaram de participantes a meros telespectadores, pois a televisão transmite tudo o que a ela se refere.
As fantasias do corpo foram tiradas e guardadas na mente de muitos foliões. É mais comum, agora, no Carnaval, os telespectadores assistirem à nudez das mulatas, salpicada de purpurina e confete, em casa, no conforto de suas poltronas e sem risco de violência.
Este ano, não tem Carnaval. A alegria que arrastou foliões pelo Brasil afora, no Carnaval de 2020, despediu-se do povo, prometendo voltar “no próximo ano”, 2021. E o povo foi feito de palhaço. “Mais de mil palhaços no salão…”. O Corona Vírus já havia chegado ao Brasil, desde dezembro de 2019, mas somente os governantes sabiam. Os foliões caíram na armadilha do Carnaval. Verdadeiros palhaços da ilusão, nas garras do poder público.
O brasileiro continua pagando um preço muito alto por essa desonestidade dos governantes, que nada fizeram para evitar a Pandemia, que continua ceifou milhares de vidas inocentes.
Somente agora, depois de dizimadas inúmeras pessoas, aos poucos, num “duelo de Titãs”, a vacinação foi iniciada. E a disputa pela paternidade da Vacina contra o terrível Vírus continua.
Este ano, o espírito de Momo encontra-se aprisionado, em orações, pelas vítimas do COVID-19, a praga que, há mais de um ano, surgiu do nada, para castigar a humanidade. Os inocentes pagam pelos pecadores.
Quanto riso, quanta alegria! “Mais de mil palhaços no salão”…Foi o que ocorreu no Carnaval de 2020, com a presença do Corona Vírus camuflada pelo poder público, enquanto os foliões, verdadeiros palhaços, brincavam o Carnaval, sem saber que a morte estava à espreita. “Mais de mil palhaços no salão…”. Frase que se tornou fatídica, 54 anos depois da composição de Zé Kéti.
Com a vinda da Pandemia do Corona vírus, a “Máscara Negra” da música se popularizou e se introduziu na indumentária diária do povo brasileiro e das mais importantes nações, em cores diversas.
A máscara em si não é mais assunto de carnaval. Na mutação dos tempos, uma fase de terror se apossou de nós.
Mesmo usando máscara e álcool gel, conforme recomendou a Ciência, desde o começo da Pandemia, um número aterrorizante de médicos, enfermeiros e outros profissionais da Saúde, além de outras categorias de pessoas, tiveram suas vidas ceifadas pelo Covid-19.
Arlequins, Pierrôs e Colombinas, espalhados pelo Brasil, hoje pedem passagem para chorar os seus mortos.
“Ó abre-alas, que eu quero passar…”
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